Sexualidade e imagem corporal de mulheres com câncer de mama
Sexuality and body image in women with breast cancer

Publication year: 2012

Introdução:

A sexualidade é uma construção que envolve normas culturais, sexo, corporeidade e género. Ela faz interface com a imagem corporal e é produto e produtora da medicalização. Tais elementos interagem entre si e formam diferentes configurações no contexto social e individual, ao longo do tempo. Nesse sentido, o acometimento pelo câncer de mama transforma a sexualidade e a imagem corporal da mulher. Propomos com este estudo contribuir para a compreensão de aspectos psicossociais de mulheres, após o câncer de mama, para a atenção integral à saúde da mulher.

Objetivo:

Compreender as repercussões do processo diagnóstico e de tratamento, na sexualidade e na imagem corporal, da mulher com câncer de mama.

Métodos utilizados:

O estudo de abordagem qualitativa embasou-se na Teoria dos Scripts Sexuais que propõe explicar os processos pelos quais as pessoas organizam suas condutas sexuais pela interação entre cenários culturais, scripts interpessoais e scripts da subjetividade. Foram realizadas entrevistas individuais com roteiro semiestruturado; grupos focais e atividade grupal temática, que foram audiogravados e transcritos integralmente. O material foi categorizado, triangulado e analisado segundo conteúdo temático. Cada categoria foi relacionada a um determinado nível dos scripts sexuais.

Resultados:

36 mulheres entre 36 e 76 anos participaram do estudo. A maioria mantinha um relacionamento, tinha filhos, tinha até oito anos de escolaridade, não exercia atividade profissional remunerado, era católica e utilizava o SUS. O diagnóstico da doença foi realizado entre 1992 e 2010. Pouco mais da metade foi submetida a cirurgias conservadoras da mama, e todas fizeram, ao menos, um tratamento (neo)adjuvante. Foram delimitadas seis categorias de análise.

Cenários culturais:

1.

O discurso sobre o câncer:

Etiologia da doença, opiniões sobre a pessoa com câncer e a percepção de si antes e apóso adoecimento. 2.

0 discurso sobre sexualidade:

definições de gênero, atratividade sexual e sexualidade.

Scripts interpessoais:

3.

Comunicação sobre sexualidade:

com familiares, amigos e colegas; com o parceiro afetivo-sexual e com profissionais de saúde. 4.

Relacionamento com o parceiro:

relacionamentos anteriores e atuais.

Scripts da subjetividade:

5.

Mudanças corporais:

preocupação com a aparência do corpo nu; preocupação com a aparência do corpo vestido; preocupação com a perda do potencial produtivo e preocupação com características corporais não relacionadas aos tratamentos. 6.

Vida sexual:

algumas mulheres afirmaram ter havido a melhora da vida sexual, após o câncer de mama, parte delas afirmou que a vida sexual permaneceu a mesma e outras referiram piora da vida sexual. Expectativas de melhora da vida sexual.

As categorias permitiram a identificação de quatro scripts sexuais:

1. Script sexual que envolve uma sexualidade restrita ao ato sexual e relações tradicionais de género bem delimitadas. 2. Script sexual que abarca as relações de gênero de modo difuso com a valorização do bem-estar e prazer sexual feminino. 3. Script sexual de valorização exacerbada da vivência sexual. 4. Script sexual do envelhecimento.

Considerações finais:

Conhecer alguns scripts sexuais, disponíveis na sociedade brasileira, relacionados à sexualidade e à imagem corporal no câncer de mama pode auxiliar profissionais de saúde na atenção aos pacientes

Introduction:

Sexuality is constructed by a combination of cultural standards, sex, corporeality, gender. It interfaces with body image and it is a product and a producer of medicalization. Such elements interact with one another making different configurations in social and individual contexts over time. Therefore, women's sexuality and body image change after being affected by breast cancer. This study aims to contribute to the understanding of psychosocial aspects in women after having breast cancer in order to provide full attention to women's health.

Objective:

Comprehend the consequences of the processes of diagnosis and treatment in sexuality and body image of women with breast cancer.

Methods:

The study with qualitative approach was based on the Sexual Script Theory which intends to explain the processes through which people organize their sexual conduct by the interaction between cultural scenarios, interpersonal scripts and subjective scripts. Individual interviews with semi-structured guide, focus groups and thematic group activities were fully recorded and transcribed. The material was categorized, triangulated, and analyzed according to thematic content. Each category was related to a determined level of sexual scripts.

Results:

36 women between 36 and 76 years old participated in this study. Most of them were in a fixed relationship, had children, completed at least eight years of schooling, were not engaged in remunerated activities, were catholic, and used the Brazilian public health system. The diagnosis of the disease was made between 1992 and 2010. Slightly more than a half of these women have undergone breast-conserving surgery and all of them have gone on, at least, a (neo) adjuvant treatment. 6 categories of analyses were determined.

Cultural scenarios:

1.

The speech on cancer:

disease etiology, opinions about the person living with cancer and one's perception of oneself before and after the breast cancer. 2.

The speech on sexuality:

gender, sexual attractiveness and sexuality definitions.

Interpersonal scripts:

3.

Communication on sexuality:

with relatives, friends and colleagues; with the sexual-affective partner and health-care providers. 4.

Relationship with the partner:

current and previous relationships.

Subjectivity scripts:

5.

Body changes:

concern with the appearance of the naked body; concern with the appearance of the body in clothes; concern with the loss of productive potential, and concern with body features not related to the cancer treatments. 6.

Sexual life:

some women claimed to have had an improvement in their sexual life after breast cancer, some of them argued that their sexual life remained the same and others mentioned a worsening in their sexual life.

The categories allowed the identification of four sexual scripts:

1. Sexual script that involves clearly defined traditional gender roles and the sexuality restricted to the sexual act. 2. Sexual script that embraces the gender roles in a diffusive way-with the valorization of women's wellbeing and sexual pleasure. 3. Sexual script of exacerbated valorization of sexual life. 4. Sexual script of the elderness.

Conclusions:

Knowing some sexual scripts of the sexuality and body image in breast cancer experience available in the Brazilian society may aid health-care providers in patients care.