Publication year: 2012
Introdução:
A literatura sugere que o medo da dependência de opióides é uma barreira para o alivio da dor, especialmente quando há suspeita de uso desses fármacos. No entanto, essa hipótese carece de testes empíricos. Objetivos:
Comparar a conduta de profissionais de enfermagem na administração de analgésicos opióides e não opióides, quando há ou não suspeita de que o paciente seja usuário de drogas; identificar a prevalência de pacientes com suspeita de uso de drogas e conhecer as características dos pacientes que os profissionais de enfermagem consideram como sugestivas de uso de drogas. Método Estudo tranversal com pacientes e profissionais de enfermagem (auxiliares e técnicos). Foram incluídos 507 pacientes com trauma ortopédico e prescrição de analgésico opióide, internados em quatro hospitais de Londrina, Paraná, entre fevereiro de 2011 a março de 2012, e 199 profissionais responsáveis pela administração de medicamentos a esses pacientes. Cada paciente recebeu a avaliação de três profissionais e considerou-se "paciente suspeito" aquele indicado por pelo menos um profissional. Os desfechos principais forma a 1) quantidade administrada de analgésicos opióides e não opióides prescritos em regime "se necessário" e em horário fixo nas últimas 24 horas; 2) prevalência de pacientes suspeitos de uso de drogas; 3) condutas dos profissionais frente à solicitação do opióide; 4) Características dos pacientes que os profissionais consideram sugestivas de uso de drogas. Nas análises utilizaram-se os testes de Qui-Quadrado e Mann-Whitney, e nível de significância de 5%. Resultados:
A prevalência de pacientes suspeitos foi de 6,86%, maior em homens (p<0.036) e jovens (p<0,001). Os "pacientes suspeitos" receberam mais opióides "se necessário" (p=0,054) e até 30% da dose máxima possível, contra até 20% para os "não suspeitos".A administração entre "suspeitos" e "não suspeitos" não diferiu quanto aos opiódes prescritos em horário fixo, no entanto, deixou-se de administrar 10% da dose para ambos os grupos. Entre os profissionais entrevistados, 75,6% relataram que mantêm a analgesia com opióide, mesmo quando há suspeita de o paciente ser usuário de droga, mas 28,9% deles disseram tentar reduzir a dose nesses casos. As características dos pacientes mais frequentemente consideradas pelos profissionais como sugestivas de uso de drogas pertenciam à categoria "consequências emocionais/físicas/sociais e sinais de abstinência" (70,6%) e insistência pelo opióide (55,9%), mais do que a aparência pessoal (0,0%). Conclusão:
A prevalência de suspeitos foi semelhante a estudos realizados em departamentos de emergência, sugerindo que os auxiliares e técnicos de enfermagem foram cuidadosos na estimativa de suspeição. Os resultados obtidos contrariam a literatura, pois indicaram que os "suspeitos" de serem usuários de droga receberam mais analgésicos opióides. Assumindo-se a premissa de que os profissionais identificaram corretamente os usuários de drogas, pode-se explicar o maior recebimento de opióide pelos "suspeitos", pelas características comportamentais e emocionais: maior inquietude, insistência verbal e talvez menor alívio da dor, pois usuários de droga podem desenvolver tolerância. A administração de analgésicos, especialmente em esquema "se necessário", é uma decisão importante da enfermagem que pode contribuir para o alívio da dor, daí a importância de entender as motivações que influenciam os profissionais nessa decisão.