Perceções dos enfermeiros especialistas em reabilitação relativamente à sua autoridade para prescrever
Publication year: 2018
Este trabalho procura contribuir para o estudo do fenómeno da prescrição por enfermeiros especialistas, neste caso em concreto em Reabilitação, em Portugal. Para tal, inicia-se com a análise de alguns referenciais teóricos da profissão, tais como o processo de enfermagem, a qualidade dos cuidados e a natureza do ato de cuidar, passando em seguida para uma abordagem à legislação da prescrição de medicamentos, de ajudas técnicas / produtos de apoio, de meios complementares de diagnóstico e terapêutica e de tratamentos no ordenamento jurídico português. A fim de suportar as comparações internacionais que se fazem ao longo do trabalho, opera-se uma análise da enfermagem na União Europeia e no mundo ao nível das diferentes categorias de enfermeiros existentes, dos variados percursos formativos e da realidade da prescrição em diferentes países. Os principais objetivos a que nos propusemos com esta dissertação foram 3, nomeadamente: Identificar os obstáculos e as alavancas/mais-valias que os enfermeiros especialistas em reabilitação (EER) associam à formalização da prescrição por enfermeiros em Portugal; Avaliar as necessidades de formação identificadas pelos EER para se sentirem aptos a prescrever e quais os conhecimentos que já consideram deter; Analisar e identificar se os EER já prescrevem informalmente, ou sejam, se já decidem sobre tratamentos, medicamentosos ou não, sem que haja uma prescrição expressa por parte do médico. Do ponto de vista metodológico recorreu-se a um questionário por nós elaborado, suportado pela evidência do Conselho Internacional de Enfermeiros (CIE) em matéria de prescrição e que visava sobretudo identificar, avaliar e analisar aquilo que os enfermeiros especialistas em reabilitação, à altura inscritos na Ordem dos Enfermeiros, consideravam como obstáculos ou alavancas / mais-valias à introdução da prescrição formal por enfermeiros em Portugal, bem como as suas práticas quotidianas nesta matéria. Os resultados obtidos através de metodologia quantitativa foram analisados recorrendo a vários testes estatísticos, a fim de encontrar correlações que nos pudessem dar pistas para abordagens em estudos futuros, considerando o carácter exploratório do nosso trabalho. Em termos de resultados, encontrámos diferenças estatisticamente significativas tanto ao nível do local de trabalho como da categoria profissional na qual o enfermeiro especialista exerce e as perceções sobre obstáculos e alavancas / mais-valias. Também encontrámos diferenças estatisticamente significativas sobre as necessidades formativas dos enfermeiros para se sentirem aptos a prescrever, quer ao nível das diferentes disciplinas quer ao nível da profundidade dos conhecimentos a adquirir, bem como sobre a aptidão e autoridade que sentem atualmente para prescrever. Em termos de conclusões, há a destacar a relevância da vontade política e das práticas de financiamento da atividade desenvolvida pelo SNS para a implementação da prescrição por enfermeiros. Alguns dos dados obtidos não subscrevem achados de outros estudos, levados a cabo noutros países, o que considerámos positivo pois remete para a necessidade de explorar e aprofundar o porquê dessas diferenças. Para desenvolvimentos futuros, propomos um maior aprofundamento da representação social que a classe de enfermagem tem da prescrição, a fim de clarificar a preponderância da prescrição de medicamentos nessas representações sociais e a maior ou menor presença de outras dimensões prescritivas. Em termos de contributo para o desenvolvimento de futuras políticas para a profissão em particular e do sector da saúde em geral, deixamos o facto de ter sido encontrada evidência científica que contraria a ideia de que a introdução da prescrição por enfermeiros serve para dar resposta a uma deficiente acessibilidade a médicos.
This work aims to contribute to the study of the phenomenon of prescription by specialist nurses, in this case in particular in Rehabilitation, in Portugal. To do so, it begins with the analysis of some theoretical references of the profession, such as the nursing process, the quality of care and the nature of the act of caring, and then to an approach to the legislation of the prescription of medicines, techniques / products of support, complementary means of diagnosis and therapy and treatments in the Portuguese legal order. In order to support the international comparisons that are made throughout the work, an analysis of the nursing in the European Union and in the world is carried out at the level of the different categories of existing nurses, the different training paths and the reality of the prescription in different countries. The main objectives that we proposed with this dissertation were 3, namely: Identify the obstacles and levers / benefits that nurses specialized in rehabilitation (EER) associate with the formalization of prescription by nurses in Portugal; Evaluate the training needs identified by the EERs to determine if they feel able to prescribe and what knowledge they already consider to be deterred; Analyze and identify whether EERs already prescribe informally, or whether they already decide on treatments, medicated or not, without there being an express prescription by the doctor. From a methodological point of view, we used a questionnaire developed by us, based on the evidence from the International Council of Nurses (ICN) on prescribing, which was mainly aimed at identifying, evaluating and analyzing what specialized rehabilitation nurses considered as obstacles or levers / added value to the introduction of the formal prescription by nurses in Portugal, as well as their daily practices in this matter. The results obtained through quantitative methodology were analyzed using several statistical tests, in order to find correlations that could give us clues to approaches in future studies, considering the exploratory nature of our work. In terms of results, we found statistically significant differences between the work place and the professional category in which the specialist nurse performs and the perceptions about obstacles and levers / added value. We also found statistically significant differences in nurses' training needs to be able to prescribe, both at the level of the different disciplines and at the level of the depth of knowledge to be acquired, as well as on the aptitude and authority they currently feel to prescribe. In terms of conclusions, it is worth mentioning the relevance of the political will and practices of financing the activity developed by the NHS for the implementation of the prescription by nurses. Some of the data obtained do not subscribe to findings from other studies carried out in other countries, which we considered positive because it refers to the need to explore and deepen the reason for these differences. For future developments, we propose a further deepening of the social representation that the nursing class has of prescription, in order to clarify the preponderance of prescription of drugs in these social representations and the presence of other prescriptive dimensions. In terms of contributing to the development of future policies for the profession in particular and the health sector in general, we underline the fact that evidence has been found which runs counter to the idea that the introduction of prescription by nurses serves to respond to poor accessibility to physicians.