A hidratação à pessoa em agonia em cuidados continuados integrados: perceção da equipa de saúde

Publication year: 2020

Cuidar da pessoa em fase agónica exige que os profissionais de saúde tenham como objetivo central proporcionar o máximo conforto à pessoa doente, preservando a dignidade e respeitando o princípio da ortotanásia. Em situações de fim de vida as questões da nutrição e da hidratação geram dificuldades não só para os profissionais de saúde como para a pessoa que está a vivenciar a última etapa da vida e também para a família. Neste sentido, a decisão de hidratar ou não hidratar deve assentar numa abordagem individualizada, fundamentada numa avaliação rigorosa de cada situação e discutida em contexto de equipa de saúde. De facto, a pessoa em agonia continua a necessitar de um cuidado específico e especializado para manter a qualidade de vida até ao fim. Assim, colocamos a seguinte questão de investigação: Qual a perceção da equipa de saúde de uma unidade de cuidados continuados acerca da hidratação da pessoa em fase agónica? com o objetivo geral de conhecer a perceção da equipa de saúde de uma unidade de cuidados continuados acerca da hidratação da pessoa em fase agónica, e com a finalidade de contribuir para uma prestação de cuidados que priorize um fim de vida mais digno e humanizado.

Metodologia:

abordagem qualitativa, estudo de caso, utilizando a entrevista semiestruturada para a recolha de dados dirigida a profissionais de saúde (enfermeiros e médicos) a desenvolver funções em unidades de cuidados continuados. Utilizamos a análise de conteúdo segundo Bardin (2011), como procedimento para a analise dos dados. Os procedimentos ético-moral foram respeitados.

Principais Resultados:

verificamos que os participantes do estudo conceptualizam agonia como um período em que a pessoa experiencia as últimas horas de vida e que surge um conjunto de acontecimentos que precede a morte. Alguns dos participantes referem que agonia significa a última fase da doença terminal. Acerca do conceito de hidratação da pessoa em agonia, os participantes consideram que existe controvérsia associada à hidratação artificial, contudo a maioria dos participantes percecionam a hidratação como promotora do bem-estar e da dignidade da pessoa doente e não consideram que a hidratação agrave os sintomas. São várias as necessidades que a equipa de saúde menciona para promover a hidratação da pessoa em agonia, nomeadamente apelam para a existência de Guidelines de intervenção e para que a equipa de saúde tenha um propósito partilhado, bem como mais formação e um maior diálogo entre a equipa multidisciplinar. Salientam que definir os limites de intervenção é difícil, e que é fundamental a sensibilidade dos profissionais de saúde para fornecer um cuidado na sua integralidade. São vários os dilemas que os participantes expressaram perante a hidratação da pessoa em agonia, nomeadamente estar certo de que será o bem para o doente, bem como, lidar com as divergências de opiniões dos profissionais de saúde, lidar com a variabilidade de sintomas, entre outros. Consideram que são vários os benefícios da hidratação da pessoa em agonia, como por exemplo: a promoção do bem-estar, a manutenção do perfil metabólico, a promoção do conforto, o apoio nutricional, tranquilizar a família, o alívio do sofrimento, melhoria do estado de consciência, a diminuição da sensação de sede e a promoção da dignidade.

Contudo alguns dos participantes indicam alguns malefícios da hidratação na pessoa em agonia tais como:

o agravamento de sintomas, o aumento do sofrimento (défice de monitorização e défice de avaliação) e o agravamento de patologias.

Conclusão:

Cuidar da pessoa em agonia e olhar para a hidratação como um aspeto importante ou não para a promoção de um fim de vida condigno, realça a importância da reflexão critica, da aceitação e do compromisso em cuidar da pessoa na sua multidimensionalidade. É premente existir mudanças na forma de cuidar, devemos centrar as nossas abordagens nas necessidades presentes e para tal é necessário um ingrediente: Formação especializada.
Taking care of an end-of-life patient requires that health professionals have the main goal to provide the maximum comfort to the sick person, preserving his / her dignity and respecting the principle of orthothanasia. In end-of-life patients, issues like nutrition and hydration create difficulties, not only for health professionals but also for those who are experiencing last stage of life, as well as for their families. In this regard, decision to hydrate or not must be stablished on an individualized approach, based on a rigorous assessment of each situation and discussed in the context of a multidisciplinary healthcare team. In fact, terminally ill patients still needs specific and specialized care to maintain quality of life until the end. Therefore, we developed the following research question: What is the perception of the healthcare team of long-term care unit about hydration in end-of-life patients? with the general objective of acknowledging the perception of healthcare team of long-term care unit about hydration of terminally ill patient, with the purpose of contributing to a more prioritized healthcare, focused on a more dignified and humanized end of life.

Methodology:

qualitative approach, case study, using a semi-structured interview to capture data aimed at health professionals (nurses and doctors) and to develop functions in long-term care units. We used content analysis according to Bardin (2011), as a procedure for data analysis. Ethical-moral procedures were respected.

Main Results:

we verified that study’s participants conceptualize late stage caregiving as a period of time which anticipate last hours of life and a set of events that precede death. Some participants reported that late stage caregiving meant the last phase of terminal illness. Regarding the concept of hydration in terminally ill patients, they consider that there is controversy associated with artificial hydration; however, the majority of the participants recognize hydration as promoting well-being and dignity of sick person and do not consider that hydration intensify the symptoms. There are several needs that healthcare team suggest to promote hydration in end-of-life patients, particularly guidelines, as well as more training and more dialogue between the multidisciplinary team. They emphasize that defining the limits of intervention is difficult, and the sensitivity of healthcare professionals is essential to provide comprehensive care. There are several dilemmas that participants expressed regarding hydration of terminal ill patient, particularly being sure that it will be good for the patient, as well as, dealing with the different opinions of healthcare professionals, concerning with the variability of symptoms, among others. They consider that there are several benefits of hydration, such as promoting well-being, maintaining the metabolic profile, promoting comfort, nutritional support, reassuring the family, relieving suffering, improving the state of consciousness, decreasing feeling of thirst and promoting dignity. However, some participants describe some harmful effects of hydration, such as worsening of symptoms, exacerbating discomfort (deficit in monitoring and evaluation deficit) and worsening medical conditions.

Conclusion:

Taking care of a terminal illness patient and looking at hydration as an important aspect or not to promote a dignified end of life, highlights the importance of critical reflection, respect and commitment to take care of the person in his multidimensional aspect.

It is mandatory to change behaviours and focus our approach in one specific purpose:

Specialized training.