Ambiente da prática clínica dos enfermeiros: estudo exploratório realizado num serviço de medicina intensiva da região norte de Portugal

Publication year: 2020

O ambiente onde a prática clínica de enfermagem se desenvolve é um dos principais indicadores da qualidade em saúde e da qualidade dos cuidados de enfermagem, não obstante da importância que assume para as organizações. Em contextos de Medicina Intensiva, nomeadamente em Serviços de Cuidados Intensivos, caracterizados por serem ambientes de trabalho altamente complexos e exigentes, os enfermeiros assumem um papel importante como prestadores e gestores de cuidados quando se pretende o alcance de elevados padrões da qualidade dos cuidados. Tais ambientes têm um impacto significativo na saúde ocupacional e bem-estar dos enfermeiros e na segurança e qualidade dos cuidados prestados à pessoa em situação crítica, considerando que ambientes da prática pobres estão associados a resultados negativos para os profissionais, tais como Burnout, insatisfação no trabalho, maior absentismo e menor comprometimento com a profissão. A ambientes desfavoráveis à prática de enfermagem são, também, atribuídos a diminuição da qualidade dos cuidados prestados, maior taxa de altas precoces e maior insatisfação da pessoa com os cuidados de enfermagem.

Objetivo:

Caracterizar o ambiente da prática clínica dos enfermeiros num Serviço de Medicina Intensiva.

Metodologia:

Trata-se de um estudo descritivo, exploratório, correlacional e transversal, com uma abordagem quantitativa, envolvendo 70 enfermeiros de um Serviço de Medicina Intensiva de um Hospital Universitário do Norte de Portugal. A colheita de dados foi efetuada através da aplicação de um questionário sociodemográfico e do instrumento Practice Environment Scale of Nursing Work Index (PES-NWI). Foram cumpridos os pressupostos éticos inerentes a uma investigação científica. Os dados obtidos, foram tratados e analisados através de estatística descritiva e inferencial com recurso ao SPSS (versão 25).

Resultados:

Os enfermeiros do Serviço de Medicina Intensiva em estudo consideram o ambiente da prática clínica como misto (média global de 2.32). As dimensões “Fundamentos de enfermagem para a qualidade dos cuidados” (2.66) e “Relações colegiais entre médicos e enfermeiros” (2.51), obtiveram as médias mais elevadas, sendo consideradas favoráveis. Ao invés, as dimensões “Participação dos enfermeiros nos assuntos do Hospital” (1.95), “Capacidade de gestão, liderança e suporte aos enfermeiros” (2.25) e “Adequação de recursos humanos e de materiais” (2.24), obtiveram médias inferiores a 2.50, tendo sido consideradas desfavoráveis. Os itens da totalidade do instrumento com média superior e inferior de concordância dos enfermeiros com os ambientes de trabalho foram o “Trabalha-se com enfermeiros competentes a nível clínico” e “Existe oportunidade dos enfermeiros participarem nas decisões de política interna”, respetivamente. A dimensão “Capacidade de gestão, liderança e suporte aos enfermeiros” apresentou uma forte correlação significativa com a dimensão “Participação dos enfermeiros nas políticas do hospital”. A “área de formação avançada” apresentou uma relação estatisticamente significativa com as dimensões “Relações colegiais entre médicos e enfermeiros”, “Participação dos enfermeiros nas políticas do hospital” e “Capacidade de gestão, liderança e suporte dos enfermeiros”. A “categoria profissional” apresentou uma relação estatisticamente significativa com a “Adequação de recursos humanos e de materiais”. A “opção pela mesma profissão (enfermeiro)” apresentou relação estatisticamente significativa com a “Participação dos enfermeiros nas políticas do hospital”.

Conclusão:

Ambientes da prática profissional dos enfermeiros favoráveis promovem a sua valorização, o seu compromisso e motivação para o exercício da profissão, a sua participação mais efetiva na tomada de decisão ao nível estratégico e operacional e uma liderança de enfermagem mais efetiva e com maior reconhecimento por parte da equipa multiprofissional. Pensa-se que os resultados deste estudo podem contribuir para melhorar a qualidade e a segurança dos cuidados, ajudando a encontrar estratégias capazes de aumentar a satisfação e motivação profissional dos enfermeiros. Ao destacar-se as áreas sensíveis dos ambientes da prática clínica de enfermagem em Serviços de Medicina Intensiva pode-se contribuir para a obtenção de resultados positivos para a prática profissional dos enfermeiros, para as pessoas enquanto beneficiárias dos cuidados prestados e para a concretização dos objetivos das organizações.
The practice work environment of nurses is one of the main indicators of quality in healthcare and in the quality of care given by nurses, non-regardless, the importance it assumes for the organizations. In Intensive Medicine Services, especially in Intensive Care Units, characterized for being complex and high demanding environments, nurses assume a very important role in the care given, when high standards of care are expected. Such environments have a significant impact on the occupational health and wellbeing of nurses and in the safety and quality of care of critically ill patients, as poor work environments are associated with negative outcomes for nurses, such as burnout, job dissatisfaction, increased absenteeism and decreased work engagement. To poor nurse’s work environments are, also, associated lower-quality care, increased number of patients not prepared for discharge and increased patient dissatisfaction with care given by nurses.

Objectives:

To characterize the practice work environment of nurses in an Intensive Medicine Service.

Methodology:

This is a descriptive, exploratory, correlational and cross-sectional study with a quantitative approach, involving 70 nurses from an Intensive Medicine Service of a University Hospital in Northern Portugal. Data was collected through the application of a sociodemographic questionnaire and the Practice Environment Scale of the Nursing Work Index (PES – NWI) to nurses. Ethical procedures were ensured. Data was analysed using descriptive and inferential statistics.

Results:

Nurses from the Intensive Medicine Service perceived their practice work environment as mixed (overall mean of 2.32). The dimensions “Nursing foundations for quality of care” (2.66) and “Collegial Nurse-Physician relations” (2.51), were considered as favourable, as their overall mean was greater than 2.50 and the dimensions “Nurse participation in hospital affairs” (1.95), “Nurse manager ability, leadership and support of nurses” (2.25) and “Staffing and resource adequacy” (2.24) were considered as unfavourable with an overall mean lower than 2.50. The items of the entire instrument with higher and lower level of nurses’ agreement with practice environment were “Working with nurses who are clinically competent” and “Opportunity of nurses to participate policy decisions”, respectively. The dimension “Nurse manager ability, leadership and support of nurses” showed a strong correlation with the dimension “Nurse participation in hospital affairs”. The “Advanced training skills” of nurses in critical care field presented a statistically significant relation with the dimensions “Collegial Nurse-Physician relations”, “Nurse participation in hospital affairs” and “Nurse manager ability, leadership and support of nurses”. The “Nurse professional category” showed a statistically significant relation with the “Staffing and resource adequacy”. The “Option for the same profession (Nurse)” showed a statistically significant relation with the “Nurse participation in hospital affairs”.

Conclusion:

Favourable nurses’ professional practice environments promotes their appreciation, commitment and motivation to nursing practice, their more effective participation in decision-making process at strategic and operational levels and a strong and more effective nursing leadership, with greater recognition from the multiprofessional team. It is believed that the results of this study can contribute to improve the quality and safety of care, helping to find strategies capable of increasing nurses' satisfaction and professional motivation. By highlighting the sensitive areas of the clinical nursing practice environments in Intensive Care Services, one can contribute to obtain positive results for the professional practice of nurses, for people as beneficiaries of the care provided and for the achievement of organizations’ goals.