Elisabeth Kübler-Ross: a necessidade de uma educação para a morte
Publication year: 2004
A morte e o processo de morrer ainda constituem um assunto tabu na sociedade ocidental contemporânea. Ainda assistimos à negação da própria finitude, atitude que acaba por se repercutir na diminuição da atenção e do cuidado aos que se encontram na fase final da vida. Neste âmbito, a psiquiatra de origem suíça Elisabeth Kübler-Ross, cuja obra constitui objecto da presente dissertação, desperta-nos de um modo veemente para a necessidade de educarmos para a morte, contra o tabu social instituído que marca a prática da sociedade em geral e dos profissionais de saúde em particular, nos cuidados ao doente em fase terminal. Particularmente interessante é o trabalho que Kübler-Ross desenvolveu junto dos moribundos através do seminários On Death and Dying, que lhe permitiu identificar um conjunto de reacções emocionais pelas quais passa o doente em fase terminal. Simultaneamente, o trabalho com crianças em fase terminal, os workshops que realizou, as inúmeras palestras que proferiu e, ainda, o seu trabalho com doentes com SIDA que se encontravam em fases terminais, constituíram as ferramentas que contribuíram para uma desocultação da morte e uma maior sensibilização e humanização dos cuidados a prestar à pessoa no fim da vida. Objecto de inúmeras críticas, Kübler-Ross não desanimou e seguiu o seu percurso, sempre pensando que o doente em fase terminal é o nosso mestre: ao abeirarmo-nos do seu leito, aprendemos o que significa morrer. Assim, a morte, ao invés de se tornar um acontecimento terrível, será perspectivada como uma grande oportunidade de relação e humanização se acompanharmos até ao fim os que estão a morrer. Perante esta ideia, ficará patente nesta pesquisa a necessidade de, desde muito cedo, incluirmos a temática da morte no discurso social e, mais concretamente, nas práticas educativas. Só desta forma nos tornaremos capazes de encarar a morte com mais naturalidade e serenidade, contribuindo assim para que esta etapa final da vida possa ser vivenciada de uma forma menos penosa por todos aqueles que por ela forem afectados.
La mort et son processus, constituent encore un sujet tabou dans la societé occidentale contemporaine. Aussi, nous constatons une négation de notre propre fin, attitude qui engendre une diminution non seulement de l’attention mais aussi des soins administrés à ceux qui se trouvent en fin de vie. À ce sujet, la psychiatre d’origine suisse, Elisabeth Kübler-Ross, dont l’oeuvre constitue l’objet de cette dissertation, nous alerte avec véhémence sur la nécessité de nous préparer à éduquer sur la mort, de façon à contrecarrer ce tabou social institutionalisé, qui affecte de façon générale le quotidien de notre société et en particulier celui des professionels de la santé, dans les soins apportés aux malades en phase terminale. L’étude menée par la psychiatre Kübler-Ross auprès des malades en phase terminale et développée dans les séminaires On Death and Dying s’avère particulièrement intéressante. En effect, elle a pu identifier différentes phases de réactions émotionnelles par lesquelles passent chaque malade en phase terminale. Parallèlement, ses recherches auprès d’enfants et malades atteints du SIDA, tous en phase terminale, la réalisation de workshops, ainsi que les nombreuses conférences qu’elle a animés ont contribué à une démystification dans les soins à apporter aux personnes en fin de vie. Malgré les nombreuses critiques, la psychiatre Kübler-Ross ne s’est pas pour autant découragée et a poursuivi son idée, à savoir, que la personne en phase terminale est notre guide: en nous approchant de son lit nous apprenons ce que signifie «mourrir». Ainsi la mort, au lieu d’apparaître comme un évènement terrible, sera considérée, si nous accompagnos les personnes mourants jusqu’à la fin, comme un moment privilégié pour les relations humaines. À partir de cette idée, cette étude met en évidence le besoin d’introduire, le plus tôt possible, le thème de la mort dans le discours social et, plus concrètement, dans les pratiques éducatives. C’est uniquement de cette manière que nous deviendrons alors capables d’appréhender la mort plus naturellement et sereinement, et ainsi, cette dernière étape de la vie pourra être vécue de façon moins douloureuse pour tous ceux qui en seront affectés.