Crianças com diabetes mellitus tipo 1: conhecimentos dos pais e elementos de referência na gestão do regime terapêutico com perfusão subcutânea contínua de insulina

Publication year: 2019

Enquadramento:

A incidência de Diabetes Mellitus tipo 1 (DM1) em crianças com idades inferiores aos cinco anos tem vindo a aumentar nas últimas décadas em países mais desenvolvidos, incluindo Portugal. A fase de desenvolvimento em que a criança se encontra exige adaptabilidade e particularidades na abordagem terapêutica no sentido de promover bom controlo metabólico e um crescimento saudável.

Objetivos:

Identificar os conhecimentos dos pais e dos elementos de referência da escola (infantário e pré-escola), na gestão do regime terapêutico com sistema de perfusão subcutânea contínua de insulina (PSCI) na criança com DM1, assim como averiguar a opinião dos mesmos sobre a formação/processo formativo “Tratamento da diabetes com bomba de insulina na idade pediátrica”, na gestão do regime terapêutico.

Método:

Estudo exploratório-descritivo e qualitativo. Numa amostra não probabilística por conveniência constituída por quatro mães e quatro elementos de referência (educadoras de infância e assistente operacional) de crianças com idades compreendidas entre os 21 meses e os 5 anos, com diabetes. Todas as crianças tinham iniciado tratamento com PSCI e eram acompanhadas na consulta de endocrinologia do serviço de pediatria de um centro hospitalar da região centro de Portugal. Como instrumento de recolha de dados optou-se por uma entrevista semiestruturada elaborada para o efeito e os dados emergiram da análise de conteúdo efetuado.

Resultados:

Unanimidade de opiniões acerca da vantagem da bomba de insulina no regime terapêutico da criança diabética e do seu interface com os glicómetros. As mães revelam conhecimentos e aprendizagens que lhes garantem ter autonomia no uso da bomba infusora. Demonstram ter conhecimento da importância em contabilizar os hidratos de carbono que a criança vai ingerir, mas existe um défice de conhecimentos em relação aos cálculos das unidades de insulina para administração do bolus de correção e para as gramas de hidratos de carbono. Défice de conhecimentos nos sinais e nos sintomas da hipoglicemia e da hiperglicemia e nas intervenções inerentes à sua correção. A alteração do método de administração da insulina para PSCI é percecionada como benéfica por provocar menos dor e angústia nas crianças/pais/cuidadores. Em contexto escolar, a monitorização da glicemia, a contabilização das gramas de hidratos de carbono e a correção da glicemia com insulina é realizada por elementos da escola, mas existe falta de literacia por parte dos mesmos. Foi consensual que a formação contribuiu para a aquisição de conhecimentos e de competências de pais e cuidadores, porém sujeita a fatores espácio-temporais e teórico-práticos a serem ponderados para melhor aprendizagem. Os pais são bons transmissores de conhecimentos e de aprendizagens aos elementos de referência, todavia transmitem o que apreenderam, o que por vezes é insuficiente, resultando em sentimentos de insegurança e de receio, que se colmatavam com o apoio pessoal da equipa de Endocrinologia.

Conclusões:

Os resultados apurados reforçam a importância das intervenções diferenciadas do enfermeiro especialista em saúde infantil e pediatria, dotando os pais e a comunidade escolar de mais literacia sobre a temática da gestão do regime terapêutico na DM1 de forma a garantir uma prestação de cuidados seguros e adequados à criança.

Background:

The incidence of type 1 diabetes mellitus (DM1) in children under the age of five has been increasing in recent decades in more developed countries, including Portugal. The stage of development in which the child is found requires adaptability and particularities in the therapeutic approach in order to promote good metabolic control and healthy growth.

Objectives:

To identify the knowledge of the parents and the reference elements of the school (nursery and preschool), in the management of the therapeutic regimen with continuous subcutaneous insulin perfusion (PSCI) in the child with DM1, as well as to check their opinion on the training / training process "Treatment of diabetes with insulin pump in the pediatric age", in the management of the therapeutic regimen.

Method:

Exploratory-descriptive study and qualitative. In a non-probabilistic convenience sample consisting of four mothers and four reference elements (preschoolers and operational assistant) of children aged 21 months to 5 years, with diabetes. All children had started treatment with PSCI and were followed up at the endocrinology clinic of the pediatric service of a hospital center in the central region of Portugal. As a data collection instrument, a semi-structured interview was developed and the data emerged from the content analysis.

Results:

Unanimous opinions about the advantage of the insulin pump in the therapeutic regimen of the diabetic child and their interface with the glucose meters. The mothers reveal knowledge and learning that guarantees them to have autonomy in the use of the infuser pump. They demonstrate that they are aware of the importance of counting the carbohydrates the child will ingest, but there is a lack of knowledge regarding the calculations of insulin units for the administration of the correction bolus and carbohydrate grams. Knowledge deficit in the signs and symptoms of hypoglycaemia and hyperglycaemia and in the interventions inherent to its correction. Changing the method of insulin administration to PSCI is perceived as beneficial because it causes less pain and distress in children / parents / caregivers. In the school context, glucose monitoring, carbohydrate gram counting, and glucose correction with insulin are performed by school personnel, but there is a lack of literacy on the part of the school. It was agreed that the training contributed to the acquisition of knowledge and skills of parents and caregivers, but subject to spatiotemporal and theoretical-practical factors to be considered for better learning. Parents are good transmitters of knowledge and learning to the elements of reference, but they transmit what they have learned, which is sometimes insufficient, resulting in feelings of insecurity and fear that were filled with personal support from the Endocrinology team.

Conclusions:

These results reinforce the importance of the differentiated interventions of nurses specialized in children's health and pediatrics, providing parents and the school community with more literacy on the management of the therapeutic regime in DM1 in order to ensure the provision of safe and appropriate for the child.