A perspetiva dos profissionais de saúde sobre a diretiva antecipada de vontade

Publication year: 2019

Face aos avanços da ciência e da medicina, os profissionais de saúde, nomeadamente os enfermeiros, deparam-se com dilemas éticos e morais no seu quotidiano do cuidar em fim de vida. Se por um lado a evolução da medicina permite curar doenças e prolongar a vida, por outro, não deixa que a morte aconteça de forma natural. Sabe-se que o direito à vida é inerente a condição de ser Pessoa, conduzindo os profissionais de saúde a encarar a última etapa da vida como algo que não deve acontecer, levantando questões muitas vezes sem resposta, porque efetivamente envolve valores, direitos universais próprios de cada sociedade com a sua cultura, com os seus hábitos religiosos e espirituais. De facto, responder a situações que envolve grande complexidade, exige tomadas de decisão em equipa, onde o doente e família deverão ter um papel ativo. Neste sentido, tendo como propósito contribuir para a melhoria dos cuidados de saúde, colocamos a seguinte questão de investigação: Qual a perspetiva dos profissionais de saúde sobre a Diretiva Antecipada de Vontade, no cuidar da pessoa em fim de vida? Com o objetivo geral de conhecer a perspetiva dos profissionais de saúde sobre a Diretiva Antecipada de Vontade, no cuidar da pessoa em fim de vida.

Metodologia:

abordagem qualitativa, estudo exploratório-descritivo, utilizando a entrevista semiestruturada dirigida a enfermeiros e médicos a desenvolver funções numa unidade de cuidados intensivos e numa equipa intra-hospitalar de suporte em cuidados paliativos de um hospital da região norte de Portugal, para a recolha de dados. Utilizamos a análise de conteúdo segundo Bardin (2011), como procedimento para a análise dos dados. Os procedimentos ético-moral foram respeitados.

Principais Resultados:

verificamos que os participantes do estudo expressaram várias conceções acerca da Diretiva Antecipada de Vontade, nomeadamente ser um instrumento que fornece informação relativa à vontade do doente sobre os cuidados e tratamentos a receber em fim de vida e que expõe em caso de inconsciência o procurador do doente. Constatou-se que a maioria dos participantes do nosso estudo, identificaram vários meios de obtenção de informação acerca do testamento vital do doente, tais como: consulta dos registos da informação na avaliação inicial; no portal do sistema nacional de saúde; no processo do doente; consulta na Direção Geral de Saúde; auscultação do doente e família; redes de comunicação social; consulta do registo de saúde eletrónico. Consideram que a Diretiva Antecipada de Vontade facilita a determinação de limites de intervenção. Contudo também entendem, que existe imprevisibilidade de opinião e subjetividade na gestão da Diretiva Antecipada de Vontade, o que dificulta a tomada de decisão. Verificamos ainda, que os profissionais de saúde apelam a mais formação, a mais informação e à criação de um sistema de alerta. Alguns destes profissionais de saúde referem sentir medo, impotência em cumprir a Diretiva Antecipada de Vontade. Sugerem ser premente a tomada de decisão em equipa, onde a família seja parte integrante.

Conclusão:

É necessário valorizar o modelo humanista, como norteador da prática de cuidados. Urge uma maior sensibilização dos profissionais de saúde sobre importância da Diretiva Antecipada de Vontade e apostar na formação dos profissionais de saúde. Devemos olhar para o enfermeiro especialista em Enfermagem Médico-cirúrgica, nomeadamente Enfermagem à pessoa em situação crítica, como um elemento facilitador para o cumprimento da Diretiva Antecipada de Vontade.
In the light of advances in science and medicine, health professionals, particularly nurses, face ethical and moral dilemmas in their daily care of end-of-life patients. While on the one hand the evolution of medicine makes it possible to cure diseases and prolong life, on the other, it does not allow death to happen naturally. It is known that the right to life is inherent to being a Person, leading health professionals to view the last stage of life as something that should not happen, raising questions often unanswered, because it effectively involves values, universal rights proper to each society with its culture, with its religious and spiritual habits. In fact, responding to situations that involve great complexity requires team decision-making where the patient and family should play an active role. In this sense, aiming to contribute to the improvement of health care, we ask the following research question: What is the perspective of health professionals on the Advance Healthcare Directive, in caring for end-of-life patients? With the general objective of knowing the perspective of health professionals on the Advance Healthcare Directive, in caring for end-of-life patients.

Methodology:

qualitative approach, exploratory-descriptive study, using semi-structured interview directed to nurses and physicians working in an intensive care unit and in-hospital palliative care support team of a hospital in northern Portugal, to collect data. We used content analysis according to Bardin (2011) as a procedure for data analysis. The ethical-moral procedures were respected.

Main Results:

We found that the study participants expressed several conceptions about the Advance Healthcare Directive, namely being an instrument that provides information on the patient's will on end-of-life care and treatment and exposes the patient's representative in case of unconsciousness. It was found that most of our study participants identified various means of obtaining information about the patient's vital will, such as: consulting the information records in the initial assessment; on the portal of the national health system; in the patient's process; consultation with the General Directorate of Health; auscultation of the patient and family; social media networks; consultation of the electronic health record. They consider that the Advance Healthcare Directive facilitates the determination of intervention limits. However, they also understand that there is unpredictability of opinion and subjectivity in the management of the Advance Healthcare Directive, which makes decision making difficult. We also found that health professionals call for more training, more information and the creation of an alert system. Some of these health professionals report feeling fear, helplessness to comply with the Advance Healthcare Directive. They suggest urgent team decision-making where the family is an integral part.

Conclusion:

It is necessary to value the humanist model as a guiding practice of care. There is a need to raise awareness among health professionals about the importance of the Advance Healthcare Directive and to focus on training health professionals. We should look at the nurses who specialize in Medical-Surgical Nursing, namely Nursing for the critically ill, as a facilitating element for the fulfillment of the Advance Healthcare Directive.