As intervenções especializadas do enfermeiro em Cuidados Paliativos
Publication year: 2019
A ciência torna-se insensível quando a pessoa fica reduzida a um mero objeto despersonalizado. Lidar com os doentes enquanto sujeitos, procurando a sua participação e defendendo a sua autonomia no projeto terapêutico, constitui a chave do sucesso a todos os níveis e adquire particular importância quando estamos a lidar com doentes com doença incurável. Talvez o “remédio” mais eficaz para lidar com o sofrimento do doente incurável e sua família seja a qualidade do relacionamento mantido entre o doente e seus cuidadores, e entre o doente e sua família. A qualidade curativa da terapêutica pode facilmente ser enfraquecida ou ameaçada quando reações emocionais (negação, raiva, culpa e medo) sentidas pelos doentes, famílias ou cuidadores não são adequadamente monitorizadas e avaliadas. É claro que está no coração da relação terapêutica entre doente e cuidadores o cuidado das necessidades de relação, bem como, de uma comunicação honesta e verdadeira. Nesta perspetiva, para lidar de forma eficaz com a pessoa em fim de vida e família é essencial perceber a complexidade dos sujeitos (incluindo os profissionais), a multicausalidade dos problemas de saúde e os “ingredientes” do sofrimento humano. Nesta linha de pensamento, tendo em conta a nossa experiência e o regulamento de competências específicas emanadas pela Ordem dos Enfermeiros, consideramos que é urgente mudar a forma de estar relativamente ao cuidar do doente com patologia incurável, quer esteja ou não em fim de vida, assim como cuidar dos profissionais da saúde enquanto pessoas que sofrem ao lidar com o sofrimento do seu semelhante. Assim, com o objetivo de desenvolver competências especializadas e habilidades na área dos Cuidados Paliativos a nossa opção recaiu pela realização de um Estágio de Natureza Profissional na Equipa de Suporte de Cuidados Paliativos da Unidade Local de Saúde de Matosinhos, de forma a contribuir para um cuidar de forma sustentada e integral. A nossa prestação de cuidados de enfermagem especializada assentou nas componentes fundamentais dos cuidados paliativos, nomeadamente: controlo de sintomas; comunicação; trabalho em equipa, apoio à família e acompanhamento no processo de luto. Procuramos adotar metodologias interativas, dinâmicas, considerando a unidade de cuidados, e respeitando os princípios éticos, deontológicos e legais. Verificamos, através da nossa prática clínica no Estágio de Natureza Profissional, que prestar Cuidados Paliativos exige uma abordagem onde se disponibilizem técnicas ativas de cuidados, mas com competências de comunicação especiais: baixa tecnologia e elevado afeto.Ajudar uma pessoa a morrer bem, é apoiar o sentido de amor próprio, dignidade, espiritualidade e escolha dessa pessoa até ao último momento de vida. Para o conseguir, prestamos cuidados sensíveis e individualizados, de forma que a experiência da pessoa em final de vida fosse livre de dor, sentindo-se reconfortada. É obrigatório manter a nossa espiritualidade viva e dar sentido à nossa vida e à VIDA. Parece podermos afirmar que com a realização deste estágio de natureza profissional adquirimos competências técnicas, científicas, relacionais e humanas, bem como, um pensamento mais crítico para a prestação de cuidados paliativos.
Science has brought with it insensitivity when a person gets reduced to a mere depersonalised object. Dealing with a patient as subjects, seeking for their participation and standing for their autonomy in the therapeutic project, constitutes the key for the success at all levels and helps acquire major importance when dealing with patients with incurable diseases. The most efficient “solution” to deal with the suffering of incurable patients and their family may be the relationship kept between the patient and the caregivers, besides the patient and the family. The quality of the curative therapeutic might be easily weakened or threatened when emotional relationships (denial, anger, guilt and fear) felt by the patient, the families or the caregivers are not properly monitored and evaluated. The attention to the needs of the therapeutic relationship, as well as an honest and truthful communication, are most certainly the centre piece of the therapeutic relationship among patient and caregivers. Having this perspective in mind, to be able to handle efficiently with the person in the end-of-life and their families it is essential to understand the complexity of the individuals (including the professionals), the multiple causes for the health problems and the “ingredients” causing human suffering. Bearing this thought, having in account our experiences and the regulation of the specific competences issued by the "Ordem dos Enfermeiros" (Order of the Nurses), we consider that it is urgent to change the way we perform towards the care provided to the patient with incurable pathology, whether he/she is or is not at the end-of-life. It is also urgent to change the way we take care of the professional health providers as individuals that suffer when dealing with the suffering of others. This way, having as main purpose the development of specialised skills and expertise in the palliative car area, our focus was the creation of a Professional Apprenticeship for the Support Team of Palliative Care of the Local Health Unit of Matosinhos, so as to enable caring for people in a more sustained and integral manner. Our care provision of specialised nursing laid on fundamental elements of the palliative care, namely: control of symptoms; communication; team work; family support and assistance in the mourning process. We tried to adopt interactive, dynamic methodology, taking in notice the care unit and respecting ethical, deontological and legal principles. We noticed, through the clinical practice in the Professional Apprenticeship, that providing palliative care demands an approach in which active care technics are available but with special communication skills: low level of technology, high level of affection. Helping a person to die better is to support the sense of self-love, dignity, spirituality and choice of the person involved until the last breath of life. To manage that we provide sensitive and individual care, in such a way that the experience of the person in the end-pf-life would be free of pain, feeling reassured. It is mandatory to keep spirituality alive and to give sense to our life and to LIFE itself. We believe we can state that with this Professional Apprenticeship we acquired technical, scientific, relational and human competitions, as well as, a more critical thinking concerning palliative care provision.