A Via subcutânea na gestão dos sintomas na pessoa em fim de vida: perspetivas dos profissionais de saúde

Publication year: 2019

Preservar a dignidade da pessoa no fim de vida, implica que se assegure uma boa gestão de sintomas, evitando as crises que podem agravar a qualidade de vida do doente, e consequentemente, ter repercussões negativas no seio familiar. Neste sentido, o acesso da pessoa em fim de vida aos cuidados paliativos é um direito e uma obrigação legal, como é reconhecida pelas convenções das Nações Unidas. É também, hoje reconhecido, que é condição imprescindível que os profissionais de saúde saibam realizar uma boa gestão de sintomas, focando o seu processo de cuidados numa abordagem multidimensional. Efetivamente a terapêutica farmacológica, bem como, a escolha da via para a administração de terapêutica deve ter em conta o princípio do menor dano. O recurso da utilização da via subcutânea apresenta notórios ganhos em saúde, oferece ao doente maior comodidade e promove o seu conforto e qualidade de vida quer em ambiente hospitalar quer no domicílio. Partindo destes pressupostos e considerando a gestão de sintomas como fundamental para a preservação da dignidade humana, colocamos a questão de investigação: Qual a perspetiva dos profissionais de saúde acerca da utilização da via subcutânea na gestão de sintomas da pessoa em fim de vida em contexto hospitalar?, com o objetivo de conhecer a perspetiva dos profissionais de saúde acerca da utilização da via subcutânea na gestão de sintomas da pessoa em fim de vida, em contexto hospitalar e com a finalidade de contribuir para a mudança/inovação da prática clínica de forma a melhorar o conforto da pessoa em fim de vida.

Metodologia:

Estudo de natureza qualitativo do tipo estudo caso; recolha de dados: entrevista semiestruturada; participantes: profissionais de saúde (médicos e enfermeiros) da área de neurociências (neurocirurgia e neurologia) de um Hospital Central da zona de Lisboa; análise de conteúdo segundo o referencial de Bardin (2011). O estudo respeitou o princípio ético-moral.

Resultados:

Os profissionais de saúde do estudo consideram que gerir os sintomas na pessoa em fim de vida significa ter uma visão holística, que envolve um processo avaliativo das necessidades/problemas da pessoa em fim de vida, uma intervenção ajustada às necessidades, o respeito pela vontade do doente e família, a aplicação de um conjunto de instrumentos e melhoria do trabalho em equipa. Salientam que, a dor é dos sintomas mais presentes na pessoa em fim de vida, sendo, seguido dos sintomas psico/emocionais, dos gastrointestinais e dos sintomas respiratórios. São várias as estratégias adotadas, nomeadamente a aplicação de medidas farmacológicas e não farmacológicas, nomeadamente a massagem e o estabelecimento de uma comunicação terapêutica. Recorrem à via subcutânea mediante determinadas situações, nomeadamente: sedação, analgesia e como alternativa a outras vias. Destacam, que a via subcutânea é relevante, por ser menos dolorosa, ser mais confortável, ser eficaz, segura, previne a desidratação, permite um efeito terapêutico sustentado e não requer internamento hospitalar. Apresentam como constrangimentos na sua utilização as alterações da integridade cutânea, as alterações comportamentais e a falta de formação dos profissionais de saúde.

Conclusão:

Dos relatos obtidos verificamos que cuidar do doente em fim de vida é um processo complexo, rigoroso e especializado para os profissionais de saúde, devido à complexidade e pluralidade de sintomas que a pessoa doente apresenta, bem como, pelo intenso sofrimento que o doente e seus familiares constantemente se deparam. Uma adequada preparação dos profissionais de saúde, em particular médicos e enfermeiros é estratégia fundamental para avaliar, monitorizar e tratar sintomas apropriadamente. É primordial uma maior divulgação das vantagens da utilização da via subcutânea.
To preserve the dignity of a person at the end of life, a good symptom management should be assured, avoiding the crisis that can aggravate the quality of life of the patient, and consequently, have negative repercussions amongst the family. Thus, the access of the patient at the end of life to the palliative care is a right and a legal requirement, as it is recognized by the United Nations. It is also, today, recognized that it is indispensable that the healthcare professional performs a good symptom management, focusing on a multidimensional approach care. Effectively the pharmacological therapy, also as, the choice of the administration route for the therapeutic should take in account the principle of minor damage. The use of subcutaneous route presents notorious health benefits, offering the patient greater commodity and promoting his comfort and quality of life either at the hospital or at home. Having in account these assumptions and considering the symptom management as fundamental to preserve the human dignity, we ask the question “What is the perspective of healthcare professionals about the use of the subcutaneous route in the symptoms management of the patient at the end of life, in hospital context?”, with view to understand the perspective of healthcare professionals about the use of subcutaneous route in the symptoms management of the patient at the end of life, in the hospital context, and with the purpose of contributing for a change/innovation of the clinical practice that improves the comfort of the patient at the end of life.

Methodology:

Qualitative nature study of type study case.

Data collection:

semi structured interview; participants: neuroscience (neurosurgery and neurology) healthcare professionals (doctors and nurses) of an Hospital in the centre of Lisbon; Content analysis according to Bardin’s perspective (2011). The study respected the moral-ethical principle.

Results:

The healthcare professionals of the study consider that symptoms management of the patient at the end of life means to have a holistic vision, which involves an assessment of the needs/problems of the patient at the end of life, an intervention adjusted to their needs, the respect for the family and patient wishes, the application of a set of tools and improvement of team work. They stress that, pain is one of the symptoms most present in patients at the end of life, being followed by the psico/emotional symptoms, gastrointestinal and respiratory symptoms. Several strategies are adopted, namely the application of pharmacological and non-pharmacological methods, the massage and the establishment of therapeutic communication. Subcutaneous route is used on certain occasions, namely: sedation, analgesia and as alternative to other routes. They highlight that subcutaneous route is relevant, for being less painful, for being more comfortable, more effective, safe, avoid dehydration, allow a sustained therapeutic effect and doesn’t require hospital admission. The problems of its use are the alteration of the cutaneous integrity, behaviour changes and the lack of training of existing healthcare professionals.

Conclusion:

From what was gathered, we verify that taking care of a patient at the end of life is a complex process, rigorous and specialized for the healthcare professionals, due to the complexity and plurality of symptoms that the patient shows and due to the intense suffering that the patient and the family go through constantly. Good preparation of health care professionals, in particular doctors and nurses, is fundamental to assess, monitor and treat adequately the symptoms. It is essential a bigger disclosure of the benefits of the use of subcutaneous route.