Religiosidade e qualidade de vida relacionada à saúde de idosos: estudo populacional na cidade de São Paulo
Religiosity and health quality of life of elderly people: populational study in Sao Paulo city

Publication year: 2013

Introdução:

Associação entre religiosidade e qualidade de vida tem crescido consideravelmente nos últimos anos. Embora a maioria desses estudos seja de corte transversal e associem-se à qualidade de vida geral, alguns deles demonstraram que a religião ocupa um papel importante nas dimensões da qualidade de vida relacionada à saúde de idosos.

Objetivo:

Testar o efeito mediador da religiosidade entre os fatores sociodemográficos e a qualidade de vida relacionada à saúde de idosos.

Metodologia:

Trata-se de um estudo observacional, de corte transversal e de base populacional, desenvolvido como parte do estudo Saúde, Bem Estar e Envelhecimento (SABE). A amostra foi composta por 911 idosos da cidade de São Paulo, com idade mínima de 60 anos, residentes na comunidade. Análises utilizando a Modelagem de Equações Estruturais (MEE) foram realizadas, a fim de verificar o efeito mediador da religiosidade na relação entre variáveis selecionadas e a Qualidade de Vida Relacionada à Saúde (QVRS) dos idosos, com modelos separados para homens e mulheres. Para essas análises, utilizou-se o programa SPSS AMOS (IBM, versão 22).

As variáveis independentes selecionadas foram:

idade, escolaridadade, funcionalidade familiar (APGAR familiar) e multimorbidade (mais de duas doenças referidas). A variável de desfecho foi a QVRS, medida pelo SF-12, em seus componentes físico (CF) e mental (CM). As variáveis mediadoras foram a religiosidade organizacional (RO: frequência à igreja ou cultos religiosos), a religiosidade não organizacional (RNO:prática de atividades religiosas privativas, como oração) e a religiosidade intrínseca (RI: significado e importância da religião). Os coeficientes Alfa de Cronbach foram de 0,85 para o CF, 0,80 para o CM, 0,89 para a RI e 0,91 para o APGAR.

Resultados:

Maiores níveis de religiosidade organizacional e intrínseca foram preditores de uma melhor qualidade de vida física e mental para os idosos, assim como maior escolaridade, melhor funcionalidade familiar e menor número de doenças contribuíram diretamente para um melhor desempenho no CF e no CM, independente da RO, RNO e RI. Para as mulheres, a RO mediou a relação entre a idade e os componentes físico (=2,401; p<0.01) e mental (=1,661, p<0,01). Para os homens, a RI mediou a relação entre a escolaridade e o componente mental (=7,158, p<0,01).

Conclusão:

Este estudo ratifica a importância da religiosidade, da escolaridade, da funcionalidade familiar e da multimorbidade como fatores que influenciam a QVRS dos idosos e evidencia o efeito benéfico da religiosidade organizacional e intrínseca sobre a influência da idade e a escolaridade na qualidade de vida relacionada à saúde desses idosos.

Introduction:

The association between religiosity and quality of life has grown considerably in recent years. Although most of these studies are cross-sectional and link to the overall quality of life, some of them have shown that religion occupies an important role in the dimensions of health-related quality of life of elderly people.

Aim:

To test the mediating effect of religiosity between sociodemographic factors and health-related quality of elderly.

Methodology:

This was an observational cross-sectional study developed as part of the Study Health, Well-being and Aging (SABE). The sample consisted of 911 elderly people from Sao Paulo, Brazil, with a minimal age of 60 years, living in the community. A Structural Equation Modeling (SEM) analysis was performed in order to verify the mediating effect of religiosity on the relationship between selected variables and the Health-Related Quality of Life (HRQoL) of elderly, with separated models for men and women. For these analyses, SPSS AMOS program (IBM, 22nd version) was utilized.

The independent variables were:

age, literacy, family function (APGAR) and multimorbidity (more than two diseases mentioned). The outcome variable was HRQoL, measured by SF12, which contains two components: physical (PC) and mental (MC).

The mediators were:

organizational religious orientation (ORA: church attendance or religious service), non-organizational religious orientation (NORA: the practice of private religious activities such as prayer) and intrinsic religiosity (IR: meaning and importance of religion). Cronbach's alpha was 0.85 for PC, MC= 0.80, RI = 0.89 and APGAR= 0.91.

Results:

Higher levels of ORA and IR were predictors of better physical and mental quality of life for the elderly, as well as higher level of education, better family functioning and fewer diseases, contributing directly to improve performance in PC and MC, independently of ORA, NORA and IR. For women, ORA influenced as mediator between age and the physical component (=2.401; p<0.01), as well as the mental component (=1.661, p<0.01). In the same manner, IR mediated the relationship between literacy and MC in men (=7.158, p<0.01).

Conclusion:

This study confirms the importance of religion, level of education, family functioning and multimoborbidity as factors influencing the HRQoL of elderly, and demonstrates the beneficial effect of organizational and intrinsic religiosity in the relation of age and education on physical and mental health of elderly.