Literacia em saúde oral: análise comparativa entre estudantes de enfermagem do 1º e 4º ano de uma Escola Superior de Saúde
Publication year: 2019
A enfermagem mobiliza um amplo campo de saberes e conhecimentos e interage com vários domínios científicos, entre os quais o da saúde oral, nos mais variados contextos de saúde em que se insere. Em Portugal, cerca de 41% dos portugueses admite não visitar o médico dentista há mais de um ano (Ordem dos Médicos Dentistas, 2019). Muitos enfermeiros ainda encontram dificuldades para manter ou ajudar as pessoas de quem cuidam a ter uma boa saúde oral. Agir, neste âmbito, implica formar e capacitar para que de forma informada possam intencionalmente agir nos seus determinantes e alterar atitudes (juízos críticos positivos ou negativos perante uma dada realidade ou objeto), comportamentos menos saudáveis e favorecer a literacia crítica. Foi efetuado um estudo analítico, observacional e transversal, com uma amostra aleatória e estratificada segundo ano e sexo, de forma a caraterizar e verificar se existem diferenças quanto às atitudes, conhecimentos, comportamentos e literacia em saúde oral entre os estudantes do 1º e 4º ano da licenciatura em enfermagem, de uma escola superior de saúde, em Portugal. Recorremos à aplicação de 3 instrumentos, um dos quais por nós em processo de validação, com o objetivo de avaliar atitudes, conhecimentos, comportamentos e literacia em saúde oral. O estudo da consistência interna e fiabilidade dos instrumentos foi efetuada com recurso ao teste reteste (Koo e Li, 2016; Martins, 2006). Foi definido o nível de significância de 5%. Foram inquiridos 142 estudantes, do 1º (n=73) e 4º ano (n=69), com idades compreendidas entre os 18 e 37 anos. Desses, 116 mantiveram-se no 2º momento de avaliação (reteste). Os resultados obtidos face à Saúde Oral evidenciaram, na generalidade, boas atitudes, comportamentos, mas os conhecimentos estiveram aquém. Os resultados médios das escalas, no teste / reteste foram: HU-DBI 6,56 / 6,64 (máximo 12); KAP 17,18 / 17,48 (máximo 30) e OHL-AQ 13,97 / 14,37 (máximo 17). O grau de concordância, para os 3 instrumentos variou entre 80,9% e 85,4%. As ligeiras diferenças obtidas poder-se-ão dever ao processo de aprendizagem entre as aplicações. Verificou-se uma correlação negativa significativa entre a idade e as atitudes e comportamentos, mas positiva moderada quanto à literacia. Encontraram-se diferenças estatísticas significativas no âmbito dos conhecimentos, atitudes e comportamentos com melhor resposta por parte dos estudantes do sexo femino e melhor resultado por parte dos estudantes do 4º ano face ao 1º ano no âmbito da literacia, ainda que existam défices de conhecimento quanto à interligação da saúde oral com a sistémica.Da análise do programa curricular do curso, a exposição potencial, em matéria de saúde oral, situa-se cerca de 1,3%, o que reforça a evidência encontrada sobre o reduzido investimento curricular em cursos não odontológicos. Existe a necessidade de maior aposta na formação em saúde oral com caráter preventivo, de suporte e mesmo interventivo entre os estudantes de enfermagem, por forma a potenciar os resultados em saúde, no âmbito de uma atuação interdisciplinar e complementar.
Nursing mobilizes a wide field of knowledge and interacts with several scientific domains, including oral health, in the most varied health contexts and settings. In Portugal, about 41% of Portuguese admit not to visit the dentist more than a year ago (Ordem dos Médicos Dentistas, 2019). Many nurses still struggle to maintain or help people who they care for to achieve good oral health. Acting in this oral health context implies training and education so that in an informed way they can intentionally act on their determinants and change attitudes (positive or negative critical judgments towards a given reality or object), less healthy behaviors and favor critical literacy. An analytical, observational and cross - sectional study was carried out with a randomized and stratified sample according to year and sex, in order to characterize and verify if there are differences in attitudes, beliefs, knowledge, behaviors and literacy in oral health among 1st and 4th year of the nursing degree, from a higher health school, in Portugal. We applied three instruments, one of them by us in the process of validation, with the objective of evaluating attitudes, knowledge, behaviors and literacy in oral health. The study of the internal consistency and reliability of the instruments was performed using the test-retest method (Koo and Li, 2016; Martins, 2006). The level of significance was set at 5%. A total of 142 students were interviewed, 1st year (n = 73) and 4th year (n = 69), aged between 18 and 37 years. Of these, 116 were kept in the 2nd evaluation moment (retest). The results obtained in relation to Oral Health evidenced, in general, good attitudes, behaviors, but the knowledge fell short. The mean scores of the scales in the test / retest were: HU-DBI 6.56 / 6.64 (maximum 12); KAP 17.18 / 17.48 (maximum 30) and OHL-AQ 13.97 / 14.37 (maximum 17). The degree of agreement for the 3 instruments varied between 80.9% and 85.4%. The slight differences obtained may be due to the learning process between the applications. There was a significant negative correlation between age and attitudes and behaviors, but a moderate positive relation to literacy. Significant statistical differences were found in the scope of knowledge, attitudes and behaviors with a better response on the part of the female students and a better result on the part of the students of the 4th year compared to the 1st year in the literacy field, although there are deficits of knowledge regarding to the interconnection of oral and systemic health. From the analysis of the curricular program of the course the potential exposure in oral health is around 1.3%, which reinforces the evidence found on the reduced curricular investment in non-dental courses.There is a need for greater emphasis on oral health training with a preventive, supportive and even interventive nature among nursing students, in order to enhance health outcomes, within the framework of an interdisciplinary and complementary action.