O Processo transição saúde/doença da pessoa com enfarte agudo do miocárdio
Publication year: 2017
O número de pessoas vítimas de enfarte agudo miocárdio constitui uma realidade preocupante para os profissionais de saúde, por ser uma patologia que se mantém como principal causa de morte na população portuguesa. Apesar de nas últimas décadas se apostar em campanhas sistemáticas de prevenção, do progresso científico ao nível do diagnóstico e da terapêutica, esta doença continua a representar uma das principais causas de mortalidade e morbilidade, com impacto a nível pessoal, familiar, social e económico das sociedades. É necessário que os profissionais de saúde, nomeadamente os enfermeiros, desenvolvam competências para intervir ativamente junto da pessoa com enfarte agudo miocárdio a vivenciar a transição saúde/doença, de modo a que a pessoa adquira qualidade de vida e bem-estar ou seja desenvolva uma transição positiva. Neste contexto, o presente estudo tem como objetivo principal compreender o processo de transição saúde/doença da pessoa com enfarte agudo do miocárdio, a fim de contribuir para uma melhor prática de cuidados, favorecedora de uma transição saudável, com ganhos positivos para os envolvidos. Para a concretização deste estudo e dar resposta aos objetivos delineados, adoptou-se por uma abordagem qualitativa de carácter exploratório e descritivo. Como estratégia de recolha de dados optou-se pela entrevista semi-estruturada que foi dirigida a dez pessoas com enfarte agudo do miocárdio que cumpriram os critérios de inclusão. Da análise dos dados, segundo o referencial teórico e metodológico de Bardin (2011), obtivemos um conjunto de áreas temáticas: significado do evento, implicações do enfarte agudo miocárdio, fatores facilitadores do processo transição saúde/doença e perceção da intervenção de enfermagem. Especificamente, e no que diz respeito ao significado do evento, os participantes identificaram um conjunto de sintomas físicos e de sentimentos associados à doença, bem como a perceção e reconhecimento da doença e dos comportamentos de risco associados. Relativamente às implicações do EAM, os participantes reportaram diversas alterações na sua vida como consequência do diagnóstico, destacando-se alterações ao nível do estilo de vida (ex., exercício físico, adesão à terapêutica medicamentosa, cessação tabágica, alteração de hábitos alimentares). No que diz respeito aos fatores facilitadores da transição, os pacientes destacaram o envolvimento da equipa multidisciplinar, o apoio da família, o programa de reabilitação cardiovascular, bem como características pessoais. Por fim, no âmbito da percepção dos doentes em relação à iv equipa de enfermagem, destacam-se como intervenções valorizadas a vigilância contínua, a informação prestada e o apoio, bem como a competência dos profissionais e a relação com a equipa multidisciplinar. Os resultados desta investigação são reveladores que as intervenções de enfermagem são potenciadoras de transições bem-sucedidas da pessoa com enfarte agudo do miocárdio. Promover a aquisição de mestria, identificando as perceções, os sentimentos, os fatores facilitadores, as implicações na pessoa com enfarte miocárdio, visando um ajustamento e adaptação eficaz, uma integração fluida da nova identidade (doente de risco), com o intuito de adquirir qualidade de vida e bem-estar, proporciona ao doente experienciar uma transição positiva. Acreditamos que este trabalho terá importantes implicações futuras para a prática de enfermagem, nomeadamente na construção de modelos de actuação que tenham em consideração a multidimensionalidade dos processos de transição experienciados pelos doentes com EAM; na formação dos pares; e por último, na investigação através da replicação destes resultados noutros contextos e com outros participantes.
The number of victims of acute myocardial infarction (AMI) is a concerning reality to healthcare professionals, as this disease is still the leading cause of mortality in Portugal. Although there have been recent efforts in promoting prevention strategies, in advancing scientific knowledge and interventions, this disease continues to represent one of the major causes of mortality and morbidity, with a broad impact at the personal, familiar, social, and economic level. It is thus necessary that healthcare professionals, namely nurses, develop competencies to actively intervene with the patient with acute myocardial infarction to promote positive health-illness transitions. In this context, the present study aims to understand the health-illness transition of the individual with AMI, and to contribute to better care-providing that promotes healthy transitions, with positive gains for all persons involved. In order to accomplish our main aims we used an exploratory and descriptive qualitative approach. As a data collection procedure, we used semi-structured interviews with ten patients with AMI that complied with our inclusion criteria. From the analysis of the data, according to the theoretical and methodological framework of Bardin (2011), we obtained a set of thematic areas: meaning of the event, implications of the acute myocardial infarction, facilitators of health-illness transition, and perception of the nursing intervention. Regarding the meaning of the event, participants identified several physical symptoms and feelings related to the disease, as well as the perception and aknowledgment of the disease and risk behaviors. Regarding the implications of the disease, participants reported several changes in their lives as a consequence of the diagnosis, in particular related to their lifestyle (e.g., physicial exercise, adherence to treatment, smoking cessation, changes in eating habits). As facilitators of health-illness transition, participants identified the involvement of the multidisciplinary team, family support, the cardiac rehabilitation program, and personal characteristics. Finally, regarding the perception of the nursing team, patients valued interventions such as continuous vigilance, information provided and support, as well as professionals’ competency and the relationship with the multidisciplinary team. Results of this research project reveal that nursing interventions may facilitate a successful transition in the person with AMI, with good results and health gains. It is important to promote mastery and to identify perceptions, feelings, facilitators, and implications for the person experiencing AMI, in order to promote an effective adaptation and a fluid integrative identity (at-risk patient) and ultimately quality of life and well-being. We believe that this work will have important future implications for Nursing, specifically regarding the creation of therapeutic interventions that take into account the multidimensionality of transition processes in patients with AMI; in the training of peers; and in research through the replication of these findings to different contexts and participants.