A pessoa em fim de vida no serviço de urgência: abordagem terapêutica dos profissionais de saúde

Publication year: 2017

A sociedade atual, defende o que é belo, esconde o que é feio, acredita que a juventude é eterna e que podemos vencer a morte. Constata-se que falta lugar para a morte, para o luto e para tudo que envolva estados de dependência. Esta recusa da sociedade atual em aceitar a morte, “empurra” a pessoa que está a experienciar a última etapa da vida para o hospital, sendo a sua porta de entrada o serviço de urgência. O serviço de urgência assente numa perspetiva curativa, cuja missão consiste na prestação de cuidados de saúde dirigidos a situações de urgência e emergências médicas, confronta-se cada vez mais, com pessoas que se encontram em processos de fim de vida e que exigem dos profissionais de saúde mudanças na sua filosofia de cuidar, exigindo recetividade para a mudança/inovação das práticas clínicas. De facto, responder às múltiplas exigências da pessoa em fim de vida e família no serviço de urgência, transcende a lógica e o racionalismo, a solução encontra-se nos cuidados paliativos, cujo objetivo é oferecer cuidados ativos e organizados. Neste sentido, tendo como propósito contribuir para a humanização dos cuidados à Pessoa em fim de vida no serviço de urgência, colocamos a seguinte Questão de Investigação: Quais as abordagens terapêuticas priorizadas pelos Profissionais de Saúde, perante a Pessoa em fim de vida no Serviço de Urgência? com o Objetivo Geral: Conhecer as abordagens terapêuticas priorizadas pelos Profissionais de Saúde, perante a Pessoa em fim de vida no Serviço de Urgência.

Metodologia:

abordagem qualitativa, estudo exploratório-descritivo, utilizando a entrevista semiestruturada dirigida a enfermeiros e médicos a desenvolver funções num serviço de urgência de um hospital da região Norte de Portugal, para a recolha de dados. Utilizamos a análise de conteúdo segundo Bardin (2011), como procedimento para a análise dos dados. Os procedimentos ético-moral foram respeitados.

Principais Resultados:

verificamos que os participantes do estudo conceptualizam os cuidados paliativos, como cuidados que tem o objetivo de promover a qualidade de vida, o conforto, a relação, o controlo sintomático, a dignidade e o alívio do sofrimento. Imperando no serviço de urgência modelos de cuidados essencialmente biomédicos centrados na cura e ritmos de trabalho acelerados, constatou-se que a maioria dos participantes considera ser possível prestar cuidados paliativos no serviço de urgência, se existir uma aposta na formação, na sensibilização dos profissionais de saúde, maiores rácios humanos, melhores condições arquitetónicas e mais recursos materiais. Entendem como cuidados prioritários para a pessoa em fim de vida no serviço de urgência o alívio sintomático; medidas de conforto; companhia; comunicação com a família, privacidade e responder às necessidades efetivas daquela pessoa. Verificamos ainda, que existe uma variabilidade de motivos que conduz à adoção de estratégias terapêuticas de âmbito curativo, nomeadamente: a dificuldade em assumir e lidar com o processo de morrer e o défice de formação em cuidados paliativos. Preservar a dignidade da pessoa impõe abordagens que envolvam a dimensão não só biológica, como social, cultural, emocional, espiritual, bem como, a existência de espaços que permitam a privacidade e a existência de um trabalho em equipa de parceria.

Conclusão:

A filosofia e o modelo de organização do serviço de urgência, dificultam cuidar da multidimensionalidade da pessoa em fim de vida. Contudo os profissionais de saúde consideram que é necessário existir mudanças na forma de cuidar e que é possível prestar cuidados paliativos num serviço de urgência desde que se aposte na formação em cuidados paliativos e que o enfermeiro especialista em Médico-cirúrgica seja o assessor dos outros profissionais de saúde
Our society defends what is beautiful, hides what is ugly, believes youth is eternal and that we can beat death. Therefore, there is little room for death, for grieving and for everything that relates to dependency states. This refusal by our current society to accept death “pushes“ people experiencing their last stage of life to the hospital, with the emergency department being their point of entry. The emergency service, based on a healing perspective, the mission of which consists in providing healthcare during emergency situations and medical emergencies, is increasingly confronted with people who are in end-of-life processes and who require healthcare professionals to change their philosophy of care, but they are not always prepared for this change/innovation in their clinical practices. In fact, answering to the multiple demands of people at the end of life and relatives in the emergency department transcends logic and rationalism and the solution may be found in palliative care, the objective of which is to provide active and organised care. In this sense, with the purpose of contributing for the humanisation of the care provided to the Person at the end of life in the emergency department, the following Research Question was asked: Which therapeutic approaches are prioritised by Healthcare Professionals dealing with the Person at the end of life in an emergency context? This had the General Goal of Becoming Familiar with the therapeutic approaches prioritised by Healthcare Professionals dealing with the Person at the end of life in an emergency context.

Methodology:

qualitative approach, exploratory-descriptive study, using a semi-structured interview directed to nurses and physicians working in the emergency department of a hospital in the northern region of Portugal, for the collection of data. Content analysis according to Bardin (2011) was used as a procedure for data analysis. Ethical-moral procedures have been respected.

Main Results:

it was observed that participants in this study conceptualise palliative care as having the objective of promoting quality of life, comfort, relationships, control of symptoms, dignity and relief of suffering. With essentially biomedical care models focused on healing and accelerated work rhythms, one found that the majority of participants considered it possible to provide palliative care in the emergency department, if there is a focus on training, awareness raising among health professionals, higher human capital ratios, better architectural conditions and more material resources. They understand as priority care to the person at the end of life in the emergency department symptomatic relief, comfort measures, company, communication with the family, privacy and answer to that person’s effective needs. It was also verified that there are multiple reasons behind the adoption of healing therapeutic, particularly the difficulty in assuming and dealing with the process of dying and lack of training in palliative care. Preserving the person’s dignity calls for approaches that encompass not only the biological dimension, but also social, cultural, emotional, and spiritual aspects, as well as the existence of spaces that allowed for privacy and the existence of a partnership team work.

Conclusion:

The philosophy and its organisation model hinder the provision of care for the multidimensional aspect of the person at the end of life. Healthcare professionals, nevertheless, consider it necessary to enforce changes in the way of caring and that it is possible to provide palliative care in an emergency department provided that there is a focus on training in palliative care and that the nurse specialising in Clinical Surgical Nursing is the advisor of other health professionals.