Significado de amamentar para mulheres residentes em uma comunidade de alta vulnerabilidade social no interior de Alagoas
The meaning of breastfeeding for the women living in a community in high social vulnerability in Alagoas state

Publication year: 2014

O contexto social de pobreza exige práticas efetivas para a garantia de qualidade e segurança alimentar de crianças, entre elas a amamentação. No entanto, os índices de aleitamento materno entre populações de baixa renda não se mostra promissor, indicando a necessidade de se conhecer como se dá o processo de prática do aleitamento materno em comunidades que vivenciam a pobreza.

Este estudo teve os objetivos:

Compreender o significado de amamentar e como se desenvolve a prática de amamentação da mulher moradora da Comunidade Mangabeira, próxima ao aterro sanitário da cidade de Arapiraca-Alagoas. Adotou-se o método qualitativo, tendo como referencial teórico o Interacionismo Simbólico, Modelo Pesando Riscos e Benefícios; a estratégia do DSC para organização dos dados. Foram coletados dados quantitativos para caracterização biológica e social da mulher e sobre a prática de amamentação, que ampliaram, de forma descritiva, o entendimento da experiência de amamentação das 35 mulheres participantes do estudo, residentes na comunidade, que sobrevivem da catação de material reciclado e que tinham tido a experiência de amamentar pelo menos um de seus filhos. Os resultados mostram que elas têm baixa escolaridade e renda não superior a dois salários mínimos, a média de idade é 36,2 anos, com taxa de fecundidade de 4,2 filhos por mulher. Apenas 58,3% das mulheres referem ter amamentado exclusivamente seus filhos e a mediana de AM é 22,3 meses, sendo maior que a mediana para os estados do Nordeste. Com base nos dados qualitativos, emergiram três temas explicativos da experiência de amamentar: Determinada a amamentar: do saber à necessidade; Prática de amamentar: cuidado familiar e coletivo; Fragilidades na valorização da amamentação.A amamentação é utilizada como recurso contra a fome do recém-nascido, pois dificilmente as mulheres conseguem adquirir alimentos de outras fontes, mas ao mesmo tempo o aleitamento materno mostra uma prática frágil do pondo de vista das escolhas dessas mulheres, podendo ser substituído por outro alimento quando é possível obtê-lo. Essa prática está sujeita à condição e disponibilidade física e emocional da mulher para amamentar, apesar de reconhecida a sua importância para suprir a necessidade da criança. Não sendo valorizada pela sua importância em si, a amamentação é vista como uma experiência normal, previsível e habitual, a ser incorporada no seu cotidiano enquanto for possível ou necessária. O significado da amamentação para essas mulheres mostra-se como sendo uma experiência nem boa, nem ruim, mas apenas normal.

Considerações finais:

Além de medidas sociais de distribuição de benefícios para as famílias carentes, urge o acompanhamento de mães e lactentes dessas famílias, para garantir a valorização e oportunidade do AME e práticas que favoreçam a segurança alimentar de crianças e adultos que vivem em situações de extrema pobreza como as aqui retratadas.
The social context of poverty demands effective practices to assure nutritional quality and safety for children, including breastfeeding. Nevertheless, breastfeeding rates in low-income populations are far from promising, pointing at a need to identify how breastfeeding is carried out in poor communities.

The objectives of the present study were:

to understand the meaning of breastfeeding and how it takes place among the women living in the Mangabeira Community, located near the municipal sanitary landfill of Arapiraca, Alagoas state, Brazil. The qualitative method was used, with Symbolic Interactionism and the Weighing Risks and Benefits Model as the theoretical frameworks; and the Corporate Sustainable Development strategy was used to organize the data. Quantitative data were collected for the biological and social characterization of the women and of the breastfeeding practice. Through a descriptive approach, this analysis improved the understanding of the breastfeeding experience of the 35 study subjects. The participants were women living in the referred community, who survive by collecting recyclable material, and who had breastfed at least one of their children. The results reveal that the women have a low education level, income of two minimum salaries or less, mean age of 36.2, and a fecundity rate of 4.2 children per woman. Only 58.3% of the women reported having exclusively breastfed their children, and the breastfeeding median was 22.3 months, i.e., higher than that of Brazilian Northeastern States. Based on the qualitative data, three explanatory themes emerged from the breastfeeding experience:Determined to breastfeed: from knowing to needing; The breastfeeding practice: family and collective care; Weaknesses in valuing breastfeeding. Breastfeeding is used as a resource against the newborns hunger, as the women face difficulties to obtain food from any other sources. Breastfeeding is also noticed as a fragile practice from the standpoint of the womens choices, as it can be replaced when other alternatives are available, and is subject to the womans physical and emotional conditions, regardless it being acknowledged as important in meeting the childs needs. Because the importance of breastfeeding is undervalued, it is seen as a common, predictable and habitual experience, which is incorporated in ones everyday life whenever possible or needed. The meaning of breastfeeding to these women is revealed as being a merely common experience, one that is neither good nor bad.

Conclusions:

In addition to the social measures to provide benefits for poor families, there is an urgent need to follow the mothers and breastfeeding women of these families, so as to assure the valorization and opportunity of exclusive breastfeeding and the practices that favor the nutritional safety of children and adults living in extreme poverty, as those described herein.