Análise dos conhecimentos e práticas dos enfermeiros e pais sobre os cuidados com a dor na criança

Publication year: 2017

Enquadramento:

A falta de conhecimentos na área da dor tem sido vista como a maior causa para a perpetuação de mitos, crenças e preconceitos que impossibilitam uma avaliação precisa e, consequentemente, uma prevenção e tratamento eficientes.

Objetivos:

Analisar os conhecimentos e práticas dos enfermeiros e pais perante a dor na criança; identificar as variáveis sociodemográficas, profissionais e de contexto clínico que se associam aos conhecimentos e práticas dos enfermeiros e pais perante a dor na criança; Identificar as analogias entre os conhecimentos e as práticas dos enfermeiros e pais perante a dor na criança.

Metodologia:

Estudo quantitativo, descritivo, correlacional e de carater transversal, realizado numa amostra não probabilística de 46 enfermeiros, 84,8% sexo feminino, (média idades= 42,8 anos; SD= 9,1), que exercem funções em unidades de internamento e urgência pediátricas de dois hospitais da região centro do país. A amostra integrava igualmente 173 progenitores, 85,3% mães, (média de idades= 34,5 anos; SD= 6,4) de crianças internadas nas mesmas unidades. Foram aplicados dois questionários, um aos enfermeiros e outro aos pais, compostos por duas partes, uma relativa à caracterização sociodemográfica, profissional e clínica dos inquiridos, e o inventário de Saberes e Práticas dos Enfermeiros no alívio da Dor Pediátrica de Batalha (2001).

Resultados:

Os enfermeiros tinham em média 19,5 anos de profissão, (SD=8,7) e 71,1% trabalhavam em média há 14,9 anos em pediatria. Os pais tinham maioritariamente (44,7%) 1 filho e 36,6% frequentaram o ensino secundário.

Avaliados os conhecimentos e práticas segundo 6 dimensões de dor:

conceito, tolerância, reconhecimento e avaliação da dor, cuidados farmacológicos e cuidados não farmacológicos, verificou-se no global que os conhecimentos e práticas dos enfermeiros são adequados e o reconhecimento da dor foi a dimensão com mais respostas desadequadas. Os enfermeiros mais novos utilizam mais cuidados não farmacológicos (p= 0,042), os do sexo feminino são mais sensíveis à avaliação da dor (p= 0,013), os pertencentes ao Hospital 1 evidenciaram-se na avalição da dor e nos cuidados farmacológicos (p< 0,05) e a formação na área adequa a análise do conceito de dor, tolerância, avaliação e cuidados farmacológicos (p< 0,05) perante a dor. Os pais, demonstraram ter conhecimentos e práticas mais adequados apenas na dimensão cuidados não farmacológicos e os mais velhos e casados nos cuidados farmacológicos (p=0,002; p=0,036 respetivamente). Os que tinham três ou mais filhos revelaram melhores conhecimentos relativamente ao conceito de dor (p=0,016) e os que tinham estudos superiores responderam adequadamente às afirmações da tolerância à dor (p=0,005), cuidados farmacológicos (p=0,000) e cuidados não farmacológicos (p=0,003). Os pais de crianças internadas no Hospital 1 mostraram-se mais sensíveis à avaliação da dor (p=0,039) e os de crianças com patologia cirúrgica evidenciaram no conceito de dor (p=0,019). Apenas se verificou analogias na abordagem da dor entre os enfermeiros e pais no reconhecimento da dor e nos cuidados não farmacológicos.

Conclusão:

Face a outros estudos, estes resultados evidenciam uma evolução positiva e permitiram identificar pontos fortes e fracos nos conhecimentos e práticas dos enfermeiros e pais na abordagem da dor na criança. Passar da intencionalidade à prática de excelência implica formação continua das equipas, desconstruir mitos e preconceitos e uma abordagem efectiva de parceria entre enfermeiros/criança/família, promovendo o empowerment dos pais. Controlar eficazmente a dor da criança é um dever fundamental das equipas de saúde.

Background:

The lack of knowledge around pain is being mentioned as the biggest cause for myths, beliefs and prejudice perpetuation that make impossible a precise evaluation and therefore, an efficient prevention and treatment.

Objectives:

To analyse nurses and parents’ knowledge and practices towards children’s pain; To identify sociodemographic, professional and clinical context variables that are positively associated with nurses 'and parents' knowledge and practices regarding children’s pain; To identify the analogies between the knowledge and practices of nurses and parents in the face of pain in the child.

Methods:

Quantitative, descriptive, correlational and cross-sectional study within a nonprobabilistic sample composed by 46 nurses, 84,8% female (average age = 42,8 years old; SD =9,1), that perform duties for emergency hospitalization in pediatric units from two Hospitals in Portugal’s central-region. The sample also included 173 parents, 85.3% were mothers, (mean age = 34,5 years, SD = 6,4) of children hospitalized in the same health units. Two questionnaires were applied, one applied to nurses and the other to parents, composed of two parts, one related to the sociodemographic, professional and clinical characterization of the respondents, and the Inventory of “Saberes e Práticas dos Enfermeiros no alívio da Dor Pediátrica de Batalha (2001).” Results: The nurses had in average 19,5 years of experience (SD=8,7), 71,1% working in average 14,9 years in pediatrics. The parents had a majority (44,7%) 1 child and 36,6% attended high school.

The expertise was assessed in 6 pain dimensions:

concept, tolerance, recognition, evaluation, pharmacological care and non-pharmacological care, it was verified that in general, nurses’ knowledge and expertise is adequate and the recognition of pain was the dimension with the most inadequate responses. The younger nurses used more nonpharmacological care (p = 0,042), the female nurses were more sensitive to pain assessment (p = 0,013), those belonging to Hospital 1 showed evidence of pain and pharmacological care (p <0.05) and the training in the area suited the analysis of the concept of pain, tolerance, evaluation and pharmacological care (p <0,05) for pain. The parents showed the most adequate knowledge and practices only in the non-pharmacological care dimension and the older and married couples in pharmacological care (p = 0,002, p = 0,036 respectively). Those who had three or more children had better knowledge about the concept of pain (p = 0,016) and those with higher studies responded adequately to the statements of pain tolerance (p = 0,005), pharmacological care (p = 0,000) and non-pharmacological care (p = 0,003). The parents of children hospitalized at Hospital 1 were more sensitive to pain assessment (p = 0,039) and those of children with surgical pathology evidenced in concept of pain (p = 0,019). Analogies in the approach of pain were only found among nurses and parents in the recognition of pain and non-pharmacological care.

Conclusion:

Compared with other studies, these results show a positive evolution and allowed the identification of strengths and weaknesses in the knowledge and practices of nurses and parents in the approach to pain in children. Moving from intentionality to the practice of excellence implies continuous training of teams, deconstructing myths and prejudices, and an effective partnership approach between nurses / child / family, promoting the empowerment of parents. Controlling effectively the pain of the child is a fundamental duty of the health teams.