Evolução da perceção parental da imagem corporal da criança: análise retrospetiva de dois estudos

Publication year: 2015

Introdução:

A obesidade é reconhecida pela OMS como um importante problema de saúde pública, que afeta adultos, crianças e adolescentes e que tem tomado proporções epidémicas em todo o mundo. Os estudos revelam que os pais, mas sobretudo as mães se mostram preocupadas e concordam com a adoção de hábitos alimentares saudáveis, no entanto a perceção que estas têm do estado nutricional dos filhos nem sempre é adequada e frequentemente a imagem corporal é distorcida, percebendo-se contudo que esta distorção tem vindo a diminuir. Foi neste âmbito que emergiu como objetivo geral deste estudo, explorar a evolução da perceção parental da imagem corporal da criança em dois estudos, estudo A (Graça Aparício) e estudo B (Graça Aparício, Madalena Cunha, João Duarte; Anabela Pereira, Jorge Bonito, Carlos Albuquerque), publicados respetivamente, em 2012 e 2013 e relacioná-la com o comportamento alimentar da criança do estudo B.

Material e métodos:

Este estudo de carácter retrospetivo e transversal, foi realizado com as crianças que participaram no estudo A e no estudo B, num total de 2216 crianças em idade pré-escolar, média idade= 4.51 anos (±0.97Dp), residentes as crianças do estudo A na região de Viseu e Dão e as do estudo B, nas regiões Viseu, Lamego, Vila Real, Évora e Leiria, tendo sido efetuada pelos autores originais, uma avaliação antropométrica e classificação nutricional das crianças com base no referencial NCHS (CDC, 2000). Para a recolha de dados os autores originais, utilizaram um Questionário de Caracterização Sociodemográfica das Crianças e dos Progenitores; o Questionário de Avaliação da Perceção Parental da Imagem Corporal da criança (Collins, 1991) e o Questionário de Caracterização do Comportamento Alimentar Infantil (CEBQ), traduzido e validado para a população portuguesa por Viana & Sinde (2008).

Resultados:

Comparativamente ao estudo A, no estudo B os pais revelaram-se significativamente mais preocupados com o estado nutricional dos seus filhos (p= 0,000). Ainda no estudo B uma maior percentagem de pais assinala as imagens representativas de pré-obesidade (27,5%) e obesidade (0,6%), comparativamente ao estudo A, onde se verifica o oposto; uma maior sinalização das crianças no grupo da normalidade e baixo-peso (56,3% e 20,4% respetivamente). Apurou-se uma diferença de médias significativa da perceção parental da imagem corporal da criança entre o estudo A e o estudo B, evidenciando a perceção dos pais, a uma maior aproximação com os valores mais elevados de IMC dos filhos, ou seja, os pais têm uma perceção menos distorcida da imagem corporal dos filhos, quando estes apresentam valores de IMC mais elevados. Relativamente ao comportamento alimentar, apesar dos comportamentos de “atração pela comida” se associarem a uma perceção parental de imagem corporal maior, e de alguns dos comportamentos de “evitamento da comida” se associarem a uma perceção parental de imagem corporal menor, a relação entre o comportamento alimentar e a perceção parental da imagem corporal criança não se revelou significativa.

Conclusões:

Os resultados indicam uma maior acurácia da perceção da imagem corporal dos pais ao real estado nutricional dos filhos, podendo este facto ser o primeiro passo para o seu reconhecimento do excesso de peso dos seus filhos e facilitar a adequação a um estilo de vida mais saudável entre as crianças em idade pré-escolar, e maior sensibilização da família para o controlo do excesso de peso na infância.

Introduction:

Obesity is recognized by WHO (from Portuguese OMS) as a major problem of public health, affecting adults, children and adolescents and has taken epidemic proportions worldwide. Studies show that parents, but especially the mothers, show concern and agree with the adoption of healthy eating habits, however the perception that they have of the nutritional status of children is not always appropriate and often body image is distorted, perceiving, however, that this distortion has been changed. It was in this context that emerged the main objective of this study, to explore the evolution of parental perception of children body image in two studies, study A (Grace Aparício) and study B (Grace Aparício, Madalena Cunha, João Duarte; Anabela Pereira, Jorge Bonito Carlos Albuquerque), published respectively in 2012 and 2013 and relate it to the study B of feeding behaviour of children.

Material and Methods:

This study retrospective research and cross-cutting, was performed with the children who participated in the study A and study B, a total of 2216 children of pre-school age, middle age = 4:51 years (± 0.97Dp), residents of the study A the children in the region of Viseu and Dão and the study B, the regions of Viseu, Lamego, Vila Real, Évora and Leiria, having been performed by the original authors, an anthropometric nutritional assessment and classification of children based on the NCHS reference (CDC, 2000). For data collection, the original authors used a Characterization Questionnaire Sociodemographic of Children and Parents; Parental Perception Assessment Questionnaire of the child's body image and Child Feeding Behaviour Characterization Questionnaire (From Portuguese CEBQ), translated and validated for the Portuguese population by Viana & Sinde (2008).

Results:

Compared to study A, study B parents have proven to be significantly more concerned about the nutritional status of their children (p = 0.000). In study B, a higher percentage of parents note the representative pictures of pre-obesity (27.5%) and obesity (0.6%) compared to the study A, where we can see the opposite; greater signs of children in the normal group and low-weight (56.3% and 20.4% respectively). It was found a significant mean difference from parental perception of their children body image between the study A and study B, highlighting the parents' perception, the closer to the highest values of BMI of the children, that is, parents have a less distorted perception of body image of the children when they have higher BMI values. For the feeding behaviour, despite the behavior of "food attraction" join the parental perception of greater body image, and some of the behaviors of "avoidance of food" being associated with parental perception of lower body image, the relationship between eating behavior and the parental perception of their body image did not prove significant.

Conclusions:

The results indicate a greater accuracy of perception of body image of parents to the actual nutritional status of children, which may indeed be the first step towards the recognition of the excess weight of their children and facilitate adjustment to a healthier lifestyle among children under school age, and greater awareness of family control of overweight in childhood.