Ações de educação em saúde para o cuidado das famílias em um centro de atenção psicossocial infantil
Educational interventions in health for family care in a children psychosocial care center
Publication year: 2014
Criados no bojo da Reforma Psiquiátrica, os Centros de Atenção Psicossocial Infanto-juvenil - CAPSi são, em 150 anos, a primeira experiência generalizada e pública de acolhimento e cuidado para com crianças e adolescentes que sofrem de transtorno mental no Brasil. Diante do cumprimento da lei 10.216 de 06/04/01, que prevê a mudança do modelo de atenção hospitalocêntrico para um modelo assistencial comunitário e junto à família, as famílias dessas crianças e adolescentes tornaram-se ao mesmo tempo ponto de apoio para o tratamento de seu familiar e também alvo das intervenções nesses serviços. Face às dificuldades vivenciadas por estas famílias para o cuidado e convívio diário com o familiar doente mental, o presente estudo considera a Educação em Saúde enquanto um dos caminhos para acessar e apoia-las no cuidado dispensado para seus familiares com transtornos mentais. Tendo em vista que a inclusão da família no processo de cuidar da criança e do adolescente nos CAPSi é necessária conforme os parâmetros da Reforma Psiquiátrica brasileira este estudo teve como objetivos caracterizar o perfil sociodemográfico dos familiares cuidadores das crianças e adolescentes atendidos no CAPSi; verificar os conhecimentos desses familiares acerca do transtorno mental e as dificuldades sentidas no cuidar da criança e adolescente; indagar sobre ações de Educação em Saúde efetuadas no contexto do CAPSi dirigidas às famílias para o cuidado da criança e adolescente; e analisar a percepção dos familiares sobre a atenção recebida no CAPSi e o quanto esta atenção contribui para auxilia-los no cuidado da sua criança/adolescente com transtorno mental.Para tanto adotou-se a abordagem qualitativa descritiva utilizando os marcos da Educação em Saúde e da Reabilitação Psicossocial como arcabouços teóricos. Participaram da pesquisa 13 familiares de usuários do CAPSi que convivem com a criança/adolescente no mesmo domicílio. A coleta de dados foi realizada mediante observação de campo, entrevista semi-estruturada e construção do genograma com os familiares após a leitura e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Os resultados indicaram que a média de idade dos familiares foi de 44,5 anos e das crianças e adolescentes foi 11,8 anos, a maioria dos participantes não possuía vínculo empregatício e eram do sexo feminino. A renda familiar predominante era igual ou inferior a dois salários mínimos e as famílias eram compostas em média por quatro pessoas.
A análise temática identificou como categorias empíricas:
1) As adversidades do cotidiano das famílias na busca de informações e acesso ao tratamento e no convívio diário com a criança ou adolescente; e 2) Educação em Saúde no CAPSi como um caminho para a superação das dificuldades no cotidiano de cuidados da família. Ao final do estudo foi possível perceber que são muitos os desafios impostos às famílias que possuem crianças ou adolescentes com transtornos mentais, e que grande parte desses desafios, vivenciados durante o cuidado e a rotina diária dessas famílias estão permeados pelo desconhecimento sobre a doença mental ou pelo estigma a ela associado.O CAPSi surgiu então como um caminho para fortalecer as famílias para que possam seguir suas vidas ampliando suas competências, habilidades e possibilidades para enfrentar e resolver seus problemas de saúde. Através de ações de Educação em Saúde pautadas no diálogo e no respeito às necessidades e individualidade dos familiares, os profissionais possibilitaram uma participação efetiva da família no processo de cuidado dos seus filhos, o que por sua vez repercutiu diretamente na Reabilitação Psicossocial das suas crianças e adolescentes. Ao oferecer apoio e disponibilizar espaços de trocas de experiências, os profissionais contribuíram para que os familiares se sentissem mais seguros e confiantes para tomar as suas próprias decisões, contribuindo também para o alívio da carga emocional que impõe o cuidado, bem como a culpa, o estigma, a insegurança e a angústia que sentiam, além de possibilitarem aos familiares repensarem as suas formas de cuidar não só das suas crianças e adolescentes como de si mesmos. Assim, o CAPSi põe a público a dimensão educativa das suas ações.
Created in the wake of the Psychiatric Reform, children and adolescents attending Psychosocial Care Centers - CAPSi are in 150 years the first widespread and public care experience for children and adolescents suffering from mental disorders in Brazil. In the face of law enforcement 10,216 of 06/04/01, which provides for a change of hospital-centered model for attention to a community care model and with the family, the families of these children and adolescents have become simultaneously support point for treatment to his relative and their also a target to interventions in these services. Given the difficulties experienced by these families for care and daily contact with mentally ill family member, this study considers health education as one of the ways to access and support them in the care given to their relatives with mental disorders. Given that the inclusion of the family in the care of children and adolescents process in CAPSi is required according to the parameters of the Brazilian Psychiatric Reform. This study aimed to characterize the sociodemographic profile of family caregivers of children and adolescents in CAPSi; verifying the knowledge of family members about mental disorder and the difficulties experienced in caring for children and adolescents; inquire about health education activities carried out in the context of CAPSi directed to families for the care of children and adolescents ; and analyze the perceptions of family members about the attention received in CAPSi and how this contributes to assists them in the care of their children /adolescents with mental disorders.For this we adopted a descriptive qualitative approach using landmarks of Education in Health and psychosocial rehabilitation as theoretical frameworks. 13 families participated in the survey of users CAPSi living with the child / adolescent in the same household. Data was collected with field observation, semi -structured interviews and construction of the genogram with the family after reading and signing the Informed Consent Form. Results indicated the average age of family members was 44.5 years and of children and adolescents was 11.8 years, majority of participants did not have employment and were female. Family income was predominant equal or less than two minimum wages and families were composed on average by four people.