Publication year: 2019
O estudo teve como objetivo geral verificar o efeito da lipodistrofia associada ao HIV na autoestima e adesão à Terapia Antirretroviral (TARV) em pessoas vivendo com HIV (PVHIV). Trata-se de um estudo transversal, comparativo, descritivo e quantitativo, realizado no ambulatório de infectologia do Hospital São José de Doenças Infecciosas (HSJDI), em Fortaleza, Ceará. A amostra foi calculada para proporcionar um poder de 80% (β=0,20) para detectar, ao nível de significância de 5%, diferenças clinicamente relevantes entre estratos de pacientes com e sem lipodistrofia, em relação à prevalência de baixa autoestima, sendo 125 participantes por grupo, totalizando 250 pacientes. Para amostragem, utilizou-se a técnica não probabilística por conveniência.
Os critérios de inclusão foram:
PVHIV de ambos os sexos; com 18 anos ou mais; em TARV por período igual ou superior a 12 meses. Foram critérios de exclusão:
doença mental que impossibilitasse responder aos formulários; gestantes; moradores de rua e privados de liberdade em penitenciárias. A coleta de dados ocorreu de junho de 2018 a junho de 2019. Dados foram obtidos por meio de entrevista em local privativo, com duração média de 30 minutos e aplicação dos instrumentos: Formulário Sociodemográfico, Clínico e Epidemiológico para PVHIV; Escala de Autoestima de Rosenberg (EAR); Questionário para Avaliação da Adesão ao Tratamento Antirretroviral (CEAT-VIH). Para análise estatística, utilizou-se o software IBM SPSS Statistics versão 23.0. Variáveis quantitativas foram analisadas pelo teste de Shapiro-Wilk, verificando a normalidade da distribuição. Estratos de PVHIV com e sem lipodistrofia foram comparados quanto às características clínicas, sociodemográficas e epidemiológicas. Realizaram-se análise de regressão logística univariada e multivariada para verificar associações da autoestima e adesão à TARV com os fatores clínicos, sociodemográficos e epidemiológicos. A força de tal associação foi mensurada pela razão de chances (RC) bruta, sua precisão (intervalo de confiança de 95%) e significância (teste de Wald) da estimativa. Nas análises, empregaram-se testes bicaudais, considerando-se estatisticamente significante P<0,05. O projeto foi aprovado pelos Comitês de Ética da Universidade Federal do Ceará (N° 2.481.618) e HSJDI (N° 2.511.980). Foram seguidas as diretrizes do Strengthening the Reporting of Observational Studies in Epidemiology (STROBE). Da amostra total, 57,2% tiveram autoestima insatisfatória e 57,6% adesão adequada à TARV. A autoestima foi mais baixa em PVHIV com lipodistrofia (66,4%). Na análise univariada, a renda mensal menor ou igual a dois salários mínimos relacionou-se com autoestima insatisfatória (RC: 2,94; P<0,001), e PVHIV com lipodistrofia tiveram menor autoestima (RC: 2,14; P=0,003). Quanto à adesão à TARV, católicos tiveram melhor adesão (RC: 2,50; P=0,014), e renda mensal menor ou igual a dois salários mínimos vinculou-se a menor adesão (RC: 2,30; P=0,004). PVHIV com autoestima insatisfatória tiveram adesão mais inadequada à TARV (RC: 3,66; P<0,001). Estas associações confirmaram-se na análise multivariada, na qual PVHIV com renda mensal menor ou igual a dois salários mínimos (RC: 4,12; P<0,001) e aqueles com lipodistrofia tiveram autoestima mais insatisfatória (RC: 3,05; P<0,001). Os católicos tiveram melhor autoestima (RC: 2,94; P=0,012), quando comparados aos sem religião. Na adesão à TARV, pacientes com renda mensal inferior ou igual a dois salários mínimos (RC: 2,15; P=0,021) e pessoas com autoestima insatisfatória apresentaram adesão mais inadequada (RC: 2,68; P=0,001). Os católicos aderiram melhor aos antirretrovirais (RC: 3,13; P=0,007). Em conclusão, a lipodistrofia e a baixa renda interferiram negativamente na autoestima das PVHIV. A baixa renda e a autoestima insatisfatória interferiram de forma negativa na adesão à TARV. Porém, a religião foi um fator protetor para a autoestima satisfatória e adesão adequada aos antirretrovirais. (AU)