Publication year: 2021
Pessoas Vivendo com HIV (PVHIV) são particularmente vulneráveis à má qualidade do sono, devido à múltiplos fatores, como a própria doença, estigma e eventos adversos da Terapia Antirretroviral (TARV). O objetivo geral do estudo foi determinar a prevalência de distúrbios do sono em PVHIV e seu impacto na qualidade de vida. Trata-se de um estudo transversal, realizado no ambulatório de infectologia do Hospital São José (HSJ) em Fortaleza, Ceará. Foi calculada amostra de 385 PVHIV, selecionadas pela estratégia do tipo não probabilística por conveniência, sendo convidados a participar do estudo no dia da consulta de rotina.
Os critérios de inclusão foram:
PVHIV do sexo masculino ou feminino, idade igual ou maior a 18 anos, em TARV por pelo menos três meses. Critérios de exclusão:
gestantes, doença mental incapacitante, moradores de rua e privados de liberdade. A coleta de dados ocorreu no período de um ano, por meio de entrevista em consultório privativo, com duração média de 20 minutos, utilizando os instrumentos: 1. Formulário Sociodemográfico, Epidemiológico e Clínico para PVHIV; 2. Índice de Qualidade do Sono de Pittsburgh (PSQI-BR); e 3. Instrumento de Avaliação da Qualidade de Vida para PVHIV (WHOQOL-HIV-Bref). Para análise de dados realizou-se estatística descritiva, análise de regressão logística univariada e multivariada, para determinar a razão de chances (RC) ajustada, precisão (intervalo de confiança de 95% - IC95%) e significância da estimativa (teste de Wald). Empregaram-se testes bicaudais, estabelecendo se o nível de significância em 0,05 (5%), considerando-se estatisticamente significante o valor P<0,05. O software IBM SPSS Statistics versão 23.0 e o software R versão 4.0.3 foram utilizados para procedimentos estatísticos. O projeto foi aprovado pelos Comitês de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Ceará e HSJ, respeitando-se a Resolução n°466/2012 do Conselho Nacional de Saúde. Os resultados mostraram que a prevalência de distúrbios do sono na amostra foi de 43,38% (intervalo de confiança de 95%: 38,43% - 48,33%). Na análise multivariada, apenas o fato de ter filhos (P=0,0054; RC=1,91; IC95%=1,21-3,01), possuir oito anos ou menos de estudo (P=0,0013; RC=2,11; IC95%=1,34-3,34) e não praticar exercício físico regular (P=0,0001; RC=2,61; IC95%=1,61-4,23), constituíram fatores independentes associados à ocorrência de distúrbios do sono em PVHIV. Quando avaliada a percepção geral das pessoas com HIV acerca da qualidade de vida pelo instrumento WHOQOL-HIV-Bref (pergunta 1), categorizando-se em satisfatória (respostas: 4-boa, 5-muito boa) e insatisfatória (respostas: 1-muito ruim, 2-ruim, 3-nem ruim nem boa), teve-se uma prevalência de 34,80% de qualidade de vida insatisfatória. Na análise de regressão logística multivariada, a renda mensal menor ou igual a um salário mínimo (P<0,0001; RC=3,19; IC95%=1,87-5,45), não praticar exercício físico regular (P=0,0032; RC=2,27; IC95%=1,32-3,92), ter distúrbios do sono (P=0,0039; RC=2,04; IC95%=1,26-3,31) e estar desempregado, constituíram fatores independentes associados à qualidade de vida insatisfatória. Quanto à mediana dos escores do instrumento WHOQOL-HIV-Bref, a percepção da qualidade de vida nos Domínios II (Psicológico), III (Nível de Independência) e V (Meio Ambiente) foi considerada intermediária, e superior nos Domínios I (Físico), Domínio IV (Relações Sociais) e Domínio VI (Espiritualidade/Religião/Crenças). Concluiu-se que 43,38% das PVHIV da amostra tinham distúrbios do sono, sobretudo, aqueles com filhos, oito anos ou menos de estudo e que não praticavam exercício físico regular. Na análise da qualidade de vida, 34,80% das PVHIV tiveram percepção insatisfatória, principalmente, aquelas com renda mensal menor ou igual a um salário mínimo, desempregados, sem prática regular de exercício físico e com distúrbios do sono. Os domínios do instrumento WHOQOL-HIV-Bref mais afetados foram o II, III e V, nos quais a percepção acerca da qualidade de vida foi considerada intermediária. (AU)