Construção de uma boa morte numa estrutura residencial

Publication year: 2014

O crescente envelhecimento da população e o desenvolvimento de doenças crónicas, degenerativas e incuráveis nesta fase da vida, confrontam o idoso com a morte. As representações sociais da morte e do final da vida sofreram diversas mudanças, transportando a emergência de novas preocupações voltadas à gestão do morrer. A oferta do aumento do tempo de vida acarreta aos profissionais de saúde e nomeadamente aos cuidadores de uma estrutura residencial um processo de gestão dos limites entre profissionais, idosos e familiares, colocando discussão ética, em torno dos novos significados que passaram a ser atribuídos à morte. Com a finalidade de contribuir não só para a reflexão dos profissionais de saúde em relação aos cuidados prestados em fim de vida, mas também para o desenvolvimento de estratégias de intervenção favoráveis à construção de uma boa morte, colocamos a questão de investigação: “Qual o significado de boa morte na perspetiva do idoso em processo de fim de vida e cuidador formal numa Estrutura Residencial?”. Constitui-se objetivo deste estudo: compreender o significado de boa morte para o Idoso em processo de fim de vida e cuidador formal numa estrutura residencial para idosos, na procura de descobrir quais as melhores atitudes a adotar perante um idoso em processo de fim de vida, com o propósito de proporcionar um final de vida com qualidade, segundo as expetativas destes idosos Estudo de natureza qualitativa, usando como metodologia o estudo de caso, com recurso à entrevista semi-estruturada. No estudo participaram idosos em processo de fim de vida e cuidadores numa estrutura residencial. Os dados foram analisados segundo Bardin (2004). Os resultados obtidos evidenciam unanimidade em relação às opiniões dos idosos e cuidadores. A morte é encarada como um processo natural, mas gerador de sentimentos e emoções negativos. Poder estar acompanhado, ser respeitado, com os pedidos satisfeitos e sem sofrimento seria uma boa morte. Como fatores potenciadores de uma boa morte foram realçados a presença de tranquilidade e a necessidade de uma preparação para a morte. A solidão, o abandono, não poder despedir-se dos seus entes queridos são alguns dos fatores que poderiam inibir a boa morte. Os idosos temem a morte, mas anseiam que lhes proporcionem a morte idealizada, segundo as suas necessidades, perspetivas, desejos e que lhe sejam perdoados os pecados. Os cuidadores preocupam-se em proporcionar o máximo de conforto e tranquilidade no momento final da vida de forma que o idoso morra em paz. Sobressai deste estudo que a boa morte deve ser encarada como um direito do idoso numa estrutura residencial.
The growing ageing population and the development of chronic, degenerative and incurable illnesses in this stage of life, confront older people with death. Death and end-of-life social representations have undergone major changes throughout the years, giving rise to new concerns focused on the dying process. Increasing of lifetime makes health professionals, and particularly residential home care providers take part in a management process that includes inter-professional boundaries, elderly and family members, bringing about an ethical discussion around new meanings attributed to death. In order to contribute not only to the reflection of health professionals with respect to end of life care provided, but also for the development of intervention strategies favourable to the construction of a good death, the research question addresses the meaning of "good death" both from the perspective of the dying elder and the residential home care provider. The overall study purpose is to understand the meaning of good death both for the dying elderly and the residential home caregiver, seeking to discover the best approach before the dying process, and aiming to provide quality end-of-life care, according to older people’s expectations. The research draws on a qualitative case study methodology, using a semi-structured interview. Dying elders and residential home caregivers participated in the study. Data analysis was based on Bardin (2004). Results show unanimity concerning the views of older people and carers. Although death is seen as a natural process, it also generates negative feelings and emotions. Dying not alone, with respect, with personal problems resolved and not in pain are attributes of a good death. Tranquillity and preparation for the end of life are highlighted as major components of a good death. Loneliness, abandonment, and not being able to say goodbye to their loved ones are some of the factors that could inhibit the good death. The elderly fear death, and crave for an idealized death, regarding their needs, perspectives, desires and forgiveness of sins. Caregivers provide maximum comfort and tranquillity to the elder nearing the end of life helping them to die in peace. The study emphasizes that good death should be regarded as a right of the elderly in a residential home.