Adaptação transcultural da Essen Stroke Risk Score (ESRS) para o Brasil
Publication year: 2020
O acidente vascular cerebral (AVC) tem atingido grande parcela da população, sendo necessário o aprimoramento do cuidado a pacientes com tal disfunção, inclusive mediante utilização de instrumentos que predigam o risco de recorrência de AVC isquêmico e óbito após AVC. Deste modo, objetivou-se realizar a adaptação transcultural da escala Essen Stroke Risk Score (ESRS) para o Brasil. Este estudo metodológico seguiu recomendações de Beaton et al (2007), englobando as etapas de tradução, síntese, retrotradução, validação de conteúdo, pré-teste e aplicação da ESRS – versão brasileira na população alvo para análise da validade preditiva. Nas quatro primeiras etapas o contato com os tradutores e especialistas ocorreu via correio eletrônico, e as etapas de pré-teste e aplicação da ESRS – versão brasileira na população alvo ocorreram no Hospital Geral de Fortaleza, na cidade de Fortaleza, Ceará. Na validação de conteúdo verificou-se Índice de Validade de Conteúdo, utilizando-se ponto de corte 0,8. Para análise da capacidade preditiva da escala construiu-se modelo de regressão logística com análise de correlação de Pearson e risco ajustado, e análise de Curvas ROC para recorrência de AVC e mortalidade, com valores de p<0,05 considerados estatisticamente significantes. O estudo obedeceu a Resolução 466/12, com aprovação por dois Comitês de Ética em Pesquisa. A versão adaptada da ESRS apresentou 100% de equivalência conceitual com a versão original; foi ainda considerada compreensível por todos os profissionais de saúde que a utilizaram no pré-teste e obteve tempo médio de preenchimento de 45,8 segundos. O instrumento foi então aplicado em 343 pacientes que haviam sofrido AVC ou ataque isquêmico transitório, os quais foram contactados durante o período de um ano após os eventos isquêmicos. A amostra apresentou média de idade 65,09±15,5 anos, sendo 59% do sexo masculino. O fator de risco mais frequente foi hipertensão (75,2%); 55,9% tinham idade ≥ 65 anos, 32,7% haviam sofrido AVC ou ataque isquêmico transitório prévios, 31,5% apresentavam diabetes mellitus, 23% tinham outras doenças cardiovasculares e 22,4% eram fumantes. Observou-se taxas de recorrência de AVC e mortalidade de 14,3% e 16,9% respectivamente, no período de um ano após os eventos isquêmicos iniciais. Os preditores associados significativamente com recorrência de AVC foram infarto do miocárdio prévio (p=0,042) e outras doenças cardiovasculares (p=0,001). Os fatores de risco idade >75 anos (p=0,001), infarto do miocárdio prévio (p=0,020) e outras doenças cardiovasculares (p=0,001) apresentaram significância para ocorrência de óbito. Pacientes do sexo feminino, trombolisados ou com síndromes de circulação anterior apresentaram risco aumentado para mortalidade (OR≥1,8). Colesterol total >200 mg/dL apresentou-se como fator protetor aos desfechos (OR=0,8). A ESRS apresentou capacidade preditiva moderada para recorrência de AVC e óbito (curvas ROC: 0,629 e 0,642). Pacientes com escores >2 apresentaram maior risco para os desfechos observados (Risco >1,1), com sensibilidade ≈74% e especificidade ≈46%. Conclui-se que a versão adaptada da ESRS para uso no Brasil apresenta-se adequada à predição de recorrência de AVC e óbito após AVC, constituindo ferramenta com potencial à promoção da saúde cardiovascular em diversos cenários do cuidado. (AU)