Efetividade de um manual educativo no apoio prestado por acompanhantes em centro obstétrico: um ensaio clínico randomizado

Publication year: 2019

O objetivo dessa pesquisa consiste em avaliar a efetividade de um manual educativo no apoio prestado por acompanhantes durante o processo parturitivo em um centro obstétrico. Trata-se de um Ensaio Clínico Randomizado (ECR) que foi realizado no período de novembro de 2018 a outubro de 2019, no Centro Obstétrico da Maternidade Escola Assis Chateaubriand (MEAC) de Fortaleza-CE.

Foram formados dois grupos:

Grupo Intervenção (GI) - acompanhantes que participaram de um intervenção com a utilização do manual educativo intitulado “Preparando-se para acompanhar o parto normal: o que é importante saber?”; Grupo Controle (GC) - acompanhantes elegíveis a participar da pesquisa que receberam as orientações de rotina, ou seja, orientações realizadas em sala de parto por profissionais de saúde, acadêmicos, entre outros. Além disso, as puérperas que tiveram seus acompanhantes envolvidos neste estudo, independente do grupo, também foram incluídas. A amostra foi composta por 248 participantes, sendo 62 acompanhantes para cada grupo, totalizando 124 acompanhantes. Além disso, incluíram-se as 124 puérperas que tiveram seus acompanhantes inseridos nessa pesquisa.

Foram desenvolvidas as seguintes etapas:

1. Linha de Base; 2. Randomização; 3. Avaliação Final – Acompanhantes e 4. Avaliação Final – Puérperas. Na Fase 1, utilizou-se o Formulário de caracterização do acompanhante; na Fase 3, utilizou-se o Formulário de avaliação do apoio prestado, destacando-se as ações de apoio físico, emocional, informacional e advocacia/intermediação; e na Fase 4, utilizou-se o Formulário de avaliação da experiência e satisfação da puérpera com o trabalho de parto, o qual contém quatro Subescalas do Questionário de Experiência e Satisfação com Parto (QESP) (Subescalas Experiência Positiva, Experiência Negativa, Relaxamento e Apoio do Acompanhante) e o Birth Companion Support Questionnaire (BCSQ) versão brasileira, que contém informações acerca das atividades de apoio/suporte prestadas à parturiente pelo acompanhante durante a internação para o parto. Os dados foram analisados através do programa estatístico Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 24.0, sendo utilizados os testes qui-quadrado de Pearson e Fisher (variáveis categóricas) e o teste de Mann-Whitney (variáveis contínuas). O Risco Relativo (RR) e o intervalo de confiança de 95% foram calculados para as principais variáveis dependentes. A pesquisa foi submetida ao comitê de ética, obtendo parecer de aprovação Nº 3.046.203 (CAAE: 03011518.7.0000.5050). Os acompanhantes possuíam uma mediana (Md) de 32 anos de idade e 10 anos de estudo, sendo a maioria mãe, tia ou irmã (n=80; 64,5%) da parturiente. Na etapa 1, identificou-se que 76 (61,3%) acompanhantes possuíam conhecimento sobre alguma ação de apoio à parturiente, predominando as ações de apoio físico (Md=3) e emocional (Md=2), não havendo diferenças estatisticamente significantes entre os grupos. Na etapa 3, relativo a avaliação do apoio prestado pelo acompanhante em sala de parto, evidenciou-se que acompanhantes do GI tiveram mais probabilidade de desenvolver, durante o processo de parturição, as ações de apoio físico, emocional, informacional e advocacia/intermediação, verificando-se diferença estatística significante em todas as dimensões de apoio quando comparados os dois grupos, em especial as técnicas segurar na mão, na qual verificou-se que os participantes do GI possuíram 19,60 (IC 95%: 5,02-76,52) vezes mais probabilidade de desenvolver tal ação; e a presença constante, que foi 12,84 (IC 95%: 4,26-38,70) vezes mais realizada pelo mesmo grupo. Acompanhantes do GI realizaram um maior número de ações de apoio (20 vs 6; p:0,001) e melhor avaliaram a experiência de acompanhar o parto (100,0 vs 74,2; p:0,001). Quanto a etapa 4, relacionado a avaliação da experiência, satisfação e suporte social relatado pelas puérperas com o trabalho de parto e parto, identificou-se que puérperas acompanhadas por participantes do GI foram mais propícias a demonstrar satisfação com a forma como ocorreu o trabalho de parto (96,8% vs 56,5%; RR 9,15; IC 95%: 2,38-35,18) e parto (96,8% vs 74,2%; RR 5,09; IC 95%: 1,36-19,01), a considerar útil os métodos de relaxamento no trabalho de parto (88,7 vs 38,7; RR: 4,47; IC 95%: 2,23-8,97) e parto (90,3 vs 45,2; RR: 4,44; IC 95%: 2,09-9,43), e a reconhecer a importância do apoio prestado pelo acompanhante no trabalho de parto (96,8 vs 62,9; RR: 7,57; IC 95%: 1,98-28,89), no parto (90,3 vs 53,2; RR: 3,67; IC 95%: 1,74-7,73) e no pós-parto imediato (96,8 vs 71,0; RR: 5,76; IC 95%: 1,53-21,70), refletindo em uma melhor experiência e satisfação com o trabalho de parto e parto (125 vs 97; p:0,000), de acordo com as Subescalas do QESP aqui analisadas. Conclui-se que a intervenção aplicada na maternidade com uso de manual educativo foi efetiva e contribui para uma maior amplitude do apoio prestado pelo acompanhante. Isso refletiu em uma melhor avaliação do acompanhante e da puérpera com a experiência compartilhada, demonstrando a relação existente entre o apoio prestado pelo acompanhante e o apoio percebido e experimentado pela parturiente. (AU)