Publication year: 2019
A microcefalia é uma condição rara cujo número de casos tem aumentado significativamente desde 2015, podendo estar associada à infecção pelo vírus Zika durante a gestação. Este trabalho teve como objetivo analisar a distribuição espacial dos casos de microcefalia associados ao vírus Zika em Fortaleza-Ceará. Trata-se de um estudo ecológico com enfoque na análise espacial, tendo como unidade de análise a capital do Ceará, no período de 2015 a 2017.
As fontes de dados foram os Sistemas de Informação:
Registro de Eventos em Saúde Pública; Sistema de Nascidos Vivos; Sistema de Mortalidade; Sistema de Informação de Agravos de Notificação; e Sistema de Monitoramento Diário de Agravos. Dados sociais por bairros foram captados do Censo Demográfico de 2010. Os dados foram coletados e analisados no período de setembro de 2018 a janeiro de 2019. Os endereços foram georreferenciados com a base cartográfica dos 121 bairros de Fortaleza. Características epidemiológicas foram avaliadas por estatística descritiva. Para identificação do padrão espacial, os dados de áreas foram analisados pelo Índice de Moran Global e Local, e pelas técnicas de mapeamento BoxMap, LISAMap e MoranMap, em conjunto com o Diagrama de Dispersão de Moran e a matriz de contiguidade convenção Rainha de primeira ordem. Para obtenção dos cálculos de autocorrelação espacial, testes de significância e ilustrações gráficas, utilizou-se o Terraview 5.4, GeoDa e o QGIS 2.14. Os resultados apontaram que no período de 2015 e 2016 houve um surto de microcefalia provocado pela introdução do vírus Zika em Fortaleza, totalizando 53 casos da doença, não ocorrendo casos em 2017. Dentro deste perfil, 58,5% são do sexo masculino, a maioria a termo, com apgar e peso adequado, 47,2% diagnosticados no período intrauterino e 22,6% evoluíram para óbito. Na análise descritiva das mães, destacam-se as seguintes características: faixa etária de até 24 anos; solteiras; desempregadas; e ensino médio completo. Quanto às características da assistência ao pré-natal e ao parto, a maioria das mães participaram do pré-natal, média de 7 consultas, iniciando no primeiro trimestre de gestação, sendo predominante o parto cesáreo pela rede pública. Na análise espacial identificaram-se áreas comuns com altas taxas de incidência de Zika e de microcefalia. O valor do I de Moran demonstrou a presença de clusters (auto correlação espacial positiva) em que bairros com altas taxas de microcefalia por Zika são vizinhos de outros com a mesma característica, apresentando bairros com maior nível de significância de p<0,05, em 2015, e com p<0,01, em 2016. A maioria desses casos encontra-se dentro ou próximo de áreas de assentamentos precários, com altos riscos de epidemia de arboviroses e baixo Índice de Desenvolvimento Humano. Concluiu-se que a partir desta análise espacial foi possível identificar as áreas de concentração de microcefalia por Zika. Os casos não ocorreram de modo aleatório e estão relacionados com o cenário socioeconômico, havendo influência das condições de vida e das taxas de infecção dos bairros vizinhos. Foi possível, com essas informações, identificar a necessidade de se investir em políticas públicas e ações para promoção e vigilância em saúde, aprimorando o acompanhamento do crescimento e desenvolvimento das crianças com microcefalia.(au)