Delirium no doente crítico: fatores precipitantes

Publication year: 2018

O delirium constitui uma patologia frequente em doentes críticos, que continua subdiagnosticado, e, apesar de estar associado a um aumento da morbilidade e mortalidade, permanece pouco reconhecido pela equipe multidisciplinar. Caracteriza-se por uma disfunção cerebral que resulta num declínio cognitivo, sendo um importante preditor independente de prognóstico negativo.

Objetivos:

Identificar os fatores precipitantes de delirium nos doentes internados na Unidade de Cuidados Intensivos Polivalente, do Hospital de Bragança, da ULSNE.

Métodos:

Realizou-se um estudo observacional e analítico, junto de 178 doentes internados na UCIP, resultado de 32 momentos de avaliação, dos quais, após aplicação da escala Intensive Care Delirium Screening Checklist (ICDSC), foi diagnosticado delirium a 50 doentes que passaram a constituir a amostra do estudo.

Resultados:

Identificaram-se o Propofol e o Midazolam como os sedativos utilizados, destacando-se o Propofol como o mais usado. Obteve-se uma prevalência de delirium de 28.1%. As variáveis independentes que se destacam, por serem as mais representadas na amostra, são a idade ≥65 anos, sexo masculino, residentes em meios rurais, casados, possuidores do ensino básico e reformados. Maioritariamente os doentes eram provenientes do Serviço de Urgência, internados na UCIP há menos de 10 dias, com visitas diárias de familiares, consumidores de álcool, com dor presente, submetidos a ventilação mecânica e com RASS >0. O delirium hiperativo era o mais representado na amostra, aparecendo relacionado com fatores como idade <65 anos, uso de ventilação mecânica, presença de dor ou situações de hipoxemia. Verificou-se significância estatística (p=0.019), quando correlacionados os scores da escala ICDSC e RASS. Utilizou-se o teste de Mann-Whitney para comparar as médias obtidas na escala de delirium com o grupo etário, verificando-se significância estatística (p=0.046).

Conclusão:

A escolha da sedação e a sua utilização não abusiva parecem ser práticas corretas, refletidas na baixa prevalência de delirium na população em estudo. No entanto, relativamente a todos os outros fatores precipitantes, conclui-se que, é essencial atuar, de forma adequada, sobre aqueles que podem ser modificados, nomeadamente, a promoção da orientação, o envolvimento da família, o ambiente da UCIP, as mobilizações e atividade física, o controlo da eliminação vesical e intestinal, a manutenção de uma correta oxigenação e pressão arterial, o controlo da dor, o uso de ventilação mecânica e a higiene do sono. Reveste-se de igual importância, a sensibilização dos profissionais de saúde para a monitorização do delirium, através da aplicação da ICDSC, tendo em mente o diagnóstico precoce desta intercorrência, bem como a avaliação rotineira da sedação, apelando para a sua adequada utilização no doente crítico.
Delirium is a common manifestation in critically ill patients that remains under-diagnosed and even if it is associated with an increase in morbidity and mortality, delirium is still little acknowledged by the multidisciplinary team. It is characterized by impaired cognition and is considered as an important independent predictor of a negative prognosis.

Objectives:

Identify the precipitating factors of delirium in Intensive Care Unit hospitalized patients on Bragança Hospital, member of the ULSNE.

Methods:

In an observational and analytical study, 178 ICU patients were screened for delirium in 32 different evaluation moments. After the application of the Intensive Care Delirium Screening Checklist (ICDSC) delirium was diagnosed in 50 patients that became the sample of the study.

Results:

Propofol and Midazolam were identified as the used sedation approaches, Propofol being the most used one. Prevalence of delirium was observed in 28.1% of the population.

Independent variables that stand out as being the most represented in the sample are:

age ≥65 years, male gender, rural areas residents, married people, poorly educated (elementary school only) and retired ones. Patients mostly came from the Emergency Services, they were hospitalized in the ICU for less than 10 days, with daily visits from their family, mostly alcohol consumers, presenting pain, receiving mechanical ventilation and with a RASS score >0.

Hyperactive delirium subtype is the most represented in the sample and it appears to be associated with the following factors:

age ≥65 years, use of mechanical ventilation, presence of pain and hypoxia. When correlated, scores from ICDSC and RASS scales shows statistical significance (p=0.019). Mann-Whitney test was used to compare the scores coming from the delirium scale with the age range. Results also shows statistical significance (p=0.046).

Conclusion:

Choosing sedation approaches in a non abusive away seems to be a right call, reflected in the low prevalence of delirium in the study population. However, regarding all the other precipitating factors the conclusion is that it is essential to work properly on the ones that can be modified like promotion of orientation, family involvement, ICU environment, mobilization and physical exercise, control of bladder and intestinal function, maintenance of a good oxygenation and blood pressure, control of the pain, use of mechanical ventilation and work on sleep hygiene. Delirium monitoring through the application of the ICDSC requires awareness on the part of the healthcare professionals of the importance of the early diagnosis as well as the routine evaluation of sedation approaches and their proper use on critical patients.