Mortalidade, sobrevida e fatores prognósticos de pessoas com AIDAS em Unidade de Terapia Intensiva

Publication year: 2018

Este estudo teve como objetivo geral analisar os fatores prognósticos, mortalidade e sobrevida em pessoas com aids admitidas em Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Trata-se de um estudo de coorte retrospectivo, realizado com prontuários de pacientes com aids admitidos na UTI do Hospital São José de Doenças Infecciosas (HSJDI). A amostra calculada foi de 202 pacientes admitidos no período de 2015 a 2017.

Critérios de inclusão:

prontuários de pacientes de ambos os sexos, idade igual ou maior a 18 anos, com permanência de ao menos 24 horas na UTI.

Critérios de exclusão:

pacientes sem prontuário disponível no período do estudo e gravidez. A coleta de dados ocorreu de janeiro a outubro de 2018. Após verificar os nomes dos pacientes e números dos prontuários no livro de registro da UTI, estes foram solicitados no Serviço de Arquivo Médico e Estatística. Dados foram coletados por meio de formulário com variáveis de identificação sociodemográficas, clínicas, epidemiológicas e de internação. Após coleta, os dados foram organizados e analisados no software R 3.2 (R Foundation for Statistical Computing, Viena, Áustria). Primeiramente, realizou-se análise descritiva dos dados, considerando-se o nível de significância de 95% (p < 0,05). A magnitude da associação entre variáveis de exposição e óbito foi estimada pela odds ratio. Uma tábua de vida baseada no método de Kaplan-Meier foi construída para identificar taxas de sobrevida. Modelos univariados de riscos proporcionais de Cox foram ajustados para identificar fatores prognósticos de sobrevida. Um modelo multivariado de riscos proporcionais de Cox foi ajustado para identificar variáveis componentes do índice prognóstico para sobrevida. O ajuste do modelo de Cox foi analisado considerando o poder explicativo das covariáveis no tempo de ocorrência dos óbitos dado pelo coeficiente R2, o teste de Wald para coeficientes da regressão (hipótese nula = 0), o Teste da razão de verossimilhança para verificar o ajuste global do modelo, teste de Log-Rank para comparar distribuição da ocorrência dos óbitos. Resíduos de Schoenfeld foram analisados para verificar o efeito das covariáveis. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Ceará e HSJDI sob pareceres, respectivamente, N° 1.832.921 e N° 1.684.646. Do total da amostra, 73,8% era do sexo masculino, com média de idade de 38,25 anos e 78,7% tinha escolaridade menor que oito anos de estudo. Dentre os participantes, 90,1% tiveram exposição sexual, 54,9% apresentava sinais de vulnerabilidade, como uso de drogas lícitas e ilícitas, 5,0% eram moderadores de rua, 61,4% não tinham acompanhamento regular em serviços de saúde, 40,6% não aderiam à terapia antirretroviral (TARV), 94% possuía baixa contagem de linfócitos T CD4+ e 44,6% tinha alta carga viral. As doenças oportunistas mais comuns foram tuberculose pulmonar (30; 14,9%), neurotoxoplasmose (26; 12,9%), candidíase esofágica (41; 20,3%) e pneumonia por Pneumocistys jiroveci (23; 11,4%). As comorbidades mais informadas foram hipertensão arterial (28; 13,9%), dislipidemias (51; 25,2%) e nefropatia (79; 39,1%). As principais causas de internação na UTI foram insuficiência respiratória (96,0%), sepse (59,9%), alterações neurológicas (54,5%) e insuficiência renal (32,2%). Do total, 41,5% dos pacientes receberam alta para enfermaria e 58,5% foram a óbito na UTI, sendo a taxa de sobrevida global de 41,6% e a mediana do risco de morte em torno do 15o ao 19o dia de internação na UTI. O último registro de mortalidade se deu no 45o dia de internação. A média de dias de internação foi de 11,97 dias (desvio padrão: 10,5; mediana: 8,5; intervalo interquartil: 14; valor de p = 0,0001). Os fatores associados ao óbito e com maior impacto para mau prognóstico foram terapia renal substitutiva (p = 0,001) e sepse (p = 0,0001). A presença de distúrbio neurológico (p = 0,043) e candidíase esofágica (p = 0,003) na admissão foram associadas à redução do risco de óbito na UTI. O tempo de internação prolongado na UTI (p < 0,001), presença de sepse na admissão (p < 0,001), distúrbios neurológicos durante internação na UTI (p = 0,013), presença de lesão por pressão (p = 0,038), aumento da carga viral (p = 0,00001), uso de efavirenz (p = 0,030) e exposição sexual ao HIV (p = 0,002) associaram-se ao aumento do risco de óbito durante internação na UTI. Concluiu-se que pacientes com aids admitidos na UTI possuem vulnerabilidades que influenciam na internação e alta, sendo a taxa de sobrevida global de 41,6%. Os fatores associados ao óbito foram terapia renal substitutiva e sepse. Distúrbio neurológico e candidíase esofágica na admissão foram associados ao menor risco de mortalidade. Os fatores prognósticos para óbito foram tempo de internação prolongado, sepse na admissão, distúrbios neurológicos durante internação, lesão por pressão, aumento da carga viral, uso de efavirenz e exposição sexual ao HIV.(AU)