A permanência de adolescentes em CAPS AD: um olhar para a vulnerabilidade
The permanence of adolescents at CAPS AD: a look at the vulnerability
Publication year: 2015
As investigações sobre a adolescência nas últimas décadas trazem contribuições para além dos recortes da puberdade e desenvolvimento socioafetivo, ampliando a compreensão da adolescência como um fenômeno de construção histórica, social, cultural e relacional na contemporaneidade. A adesão ao tratamento por adolescentes usuários de álcool e outras drogas é apresentada pela literatura como um desafio. Entendemos que a permanência do adolescente no tratamento está relacionada ao entendimento deste enquanto sujeito que pode exercer sua autonomia no contexto individual, social e político e onde os profissionais são corresponsáveis pelo processo terapêutico. Consideramos o conceito de vulnerabilidade e de redução de danos como importantes na compreensão deste tema.
Objetivo:
Traçar o perfil sociodemográfico em relação com o uso de drogas dos adolescentes em atendimento no CAPS AD e analisar suas percepções sobre o tratamento recebido, identificando quais fatores eles apontam como os que facilitam a sua permanência nesse serviço.Método:
Pesquisa descritiva exploratória. Foram realizadas entrevistas individuais com 12 adolescentes que frequentaram, no período da coleta de dados, o grupo de adolescentes do serviço especializado. Os dados foram analisados utilizando a técnica de análise de conteúdo segundo Bardin e categorizados de acordo com os componentes da vulnerabilidade preconizados por Ayres. A análise foi realizada mediante o diálogo com o referencial teórico da vulnerabilidade em saúde, os princípios da redução de danos, redes de atenção psicossocial e reabilitação psicossocial.Resultados:
Desvelamos graves vulnerabilidades envolvendo estes adolescentes, nos componentes individual, social e programático. Os adolescentes, em sua maioria, são do sexo masculino, com idade entre 14 a 19 anos; 75% se autodeclararam negros, possuem ensino fundamental incompleto e em evasão escolar (75%). Residem com seus familiares 8 adolescentes, sendo 6 deles pertencentes à família monoparental feminina e 4 estão acolhidos institucionalmente. Todos já foram poliusuários e fizeram o primeiro uso de droga aos 12 anos. A substância de preferência da maioria dos adolescentes foi a maconha, sendo também a mais utilizada pela primeira vez. Sobre as percepções do tratamento no CAPS AD, a maioria disse que é preciso ter força de vontade para permanecer e que esperam ocupar e distrair a mente com atividades mais atrativas como jogos lúdicos, gincanas, atividades externas e esportivas. O grupo de pares restrito pelo uso de drogas foi apontado como um dos fatores que mais dificultam a permanência no serviço. O componente social da vulnerabilidade, mesmo considerando que outros componentes estejam interligados e interdependentes, foi considerado como o mais marcante dos resultados dessa pesquisa, desvelando uma maior dificuldade para as (re)construções de projetos de vida para além de aspectos relacionados somente ao uso ou não de drogas.Considerações finais:
Mesmo que não tenhamos receitas prontas e protocolos sistematizados, vislumbramos importantes direções a serem seguidas diante do desafio da elaboração de ações redutoras de vulnerabilidades direcionadas aos adolescentes usuários de drogas que chegam ao CAPS AD. Estas ações, para potencializar a permanência destes adolescentes em CAPS AD, devem avançar no sentido de construções coletivas, fortalecendo propostas que façam mais sentido para os adolescentes, que sejam atrativas e despertem neles vontade de ficar, de fazer e de acontecer.
The investigations into the teens in recent decades bring contributions beyond the newspaper clippings of puberty and socio-emotional development, broadening the understanding of adolescence as a phenomenon of historical, social, cultural construction and relational in contemporary times. Adherence to treatment for teens users of alcohol and other drugs is show in literature as a challenge. We understand that the permanence of the teenager in a treatment is related to the understanding that this person can have autonomy in an individual, social and political context, and where the professionals are co-responsible for the therapeutic process. We consider the concept of vulnerability and reduction of damages as important to comprehend this theme.