Tensão entre o fumar e o não fumar em gestantes: a dimensão social
Tension between the smoking and non-smoking in pregnant womenthe social dimension

Publication year: 2015

Introdução:

O consumo do tabaco é a principal causa mundial de mortes preveníveis, com estimativa de seis milhões de mortes por ano atribuíveis ao fumo. Configurando-se, então, como uma problemática de proporção mundial que compromete não apenas a qualidade de vida das pessoas, mas influencia índices e perfis de morbimortalidade em diversas regiões do mundo. Da mesma forma que o tabagismo não afeta de maneira homogênea países com desenvolvimento econômico distintos, seus efeitos são mais perceptíveis em países pobres e em desenvolvimento; numa população são as pessoas de classes sociais menos favorecidas que mais consomem o tabaco. Nesse sentido, as mulheres têm um perfil vulnerável para o consumo do tabaco e especificamente a gestação, configura-se como um momento propício para o abandono do tabagismo. Os fatores que levam as gestantes a fumar durante a gestação estão fortemente associados as suas condições socioeconômicas.

Objetivo:

conhecer a rede social da gestante tabagista acompanhada na Atenção Básica e sua interferência em seu estado de saúde.

Método:

trata-se de um estudo exploratório-descritivo de abordagem qualitativa, que utilizou a entrevista para construção do genograma e ecomapa das participantes. Participaram do estudo 10 gestantes tabagistas acompanhadas nas Unidades Básicas de Saúde do bairro de Cidade Tiradentes, na região Leste da cidade de São Paulo.

Resultados:

o estudo evidenciou que as famílias estão estruturadas sob uma rede de cuidado que envolve várias gerações.Apesar de a família nuclear estar presente, a integração da rede de parentesco é fundamental na condução das atividades rotineiras. As características socioeconômicas demonstram baixa escolaridade das gestantes, precária inserção no mercado de trabalho, dependência econômica de outros membros da família e baixa renda familiar. Em relação ao tabagismo, o meio social apresentou-se permeado pelo consumo do tabaco, perpassando gerações e sendo encarado com naturalidade nas normas familiares. As instituições que fazem parte da vida familiar são a creche, a UBS, o trabalho, a vizinhança e a família ampliada. O lazer raramente foi citado e quando presente estava restrito ao ambiente doméstico. Em relação à abordagem do tabagismo no acompanhamento pré-natal, constatou-se a inexistência de uma intervenção coordenada e longitudinal e esta, quando presente, mostrou-se fragmentada e pontual. Diante da análise temática das falas das gestantes, foi possível apreender elementos que podem ser facilitadores ou dificultadores para a cessação do tabagismo.

Conclusão:

dificuldades de lidar com o estresse e questões relacionadas à dinâmica familiar demonstram que o tabagismo precisa ser encarado como uma escolha individual fortemente influenciada por um contexto social. Compreender a rede social e reciprocidade no apoio é fundamental para abordar a questão do tabagismo numa perspectiva social do cuidado.
Due to the magnitud of tobacco problem for public health, and, specifically, due to the damage for the mother and her baby, this study aimed at knowing the social network of smoking pregnant women followed in primary care and its interference in her health. This was an exploratory-descriptive study with a qualitative approach that used interviews to build the genogram and eco-map of the participants. The data were analyzed using thematic analysis and discussed by means of a theoretical framework for health promotion. Ten pregnant smokers, followed in primary care in Cidade Tiradentes neighborhood, in the east of the city of São Paulo participated in the study. The study showed that the families are structured in a transgenerational care network. Although the nuclear family is present, the integration of a kinship network is necessary to conduct routine activities. In terms of socioeconomic characteristics, the participants showed low educational level, poor integration into the labor market, economic dependence on other family members and low income. Regarding smoking, the social environment is permeated by tobacco consumption, which spreads through generations and is seen as common in family rules. The institutions that are part of family life are the day care center, public health center, work place, neighborhood and the extended family. The bonds are poor and based on relationships involving favors and/or cooperation. Leisure was rarely mentioned and when present, it was restricted to the domestic environment. Regarding smoking treatment in prenatal care, there was a lack of coordinated and longitudinal intervention, which was fragmented and occasional.The thematic analysis of the participants discourse revealed elements that can be facilitators or obstacles to smoking cessation. These elements suggest the relevance of smoking to the pregnant women and help direct the intervention to a more effective approach. Difficulties in dealing with stress and issues related to the family dynamics show that smoking must be seen as an individual choice strongly influenced by the social context. Understanding the social network and the importance of reciprocal support is critical to address the issue of smoking in a social perspective of care.