Biblioteca Virtual en Salud Enfermería

O consumo de bebidas alcoólicas tem vindo a acompanhar a humanidade há muitos anos. A sua produção, comercialização e consumo cresceu em grande escala a nível mundial, e, com isso, começou a desenvolver-se o que viria a ser um enorme problema de saúde pública. Em Portugal, no ano de 2017, ocorreram 2442 óbitos por doenças atribuídas ao álcool, cerca de 2,22% da mortalidade no país (Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências [SICAD], 2019). Em meio laboral, o consumo de álcool apresenta-se como fator influenciador para a diminuição do desempenho do trabalhador, aumentando o risco de acidentes, erros, atrasos, absentismo e podendo inclusive culminar no desemprego. Um ambiente de trabalho de grande esforço, stress, baixo salário entre outros, pode eventualmente conduzir ao consumo de bebidas alcoólicas, na medida em que a pessoa procura nos efeitos do álcool uma forma de atenuar o sofrimento mental e a sobrecarga emocional (Brites et al., 2019; Ferreira et al., 2016; Mcpherson et al., 2010). O objetivo do presente estudo é avaliar se as Intervenções Breves têm um efeito positivo na redução do consumo de risco e nocivo de bebidas alcoólicas, em trabalhadores de um serviço de transportes urbanos. Recorreu-se a um desenho de nível IV, de natureza quase-experimental, com avaliação antes e após com um único grupo. Foi implementado o protocolo Screening and Brief Intervention and Referral to Treatment (SBIRT) e foi utilizado como instrumento de avaliação o Alcohol Use Disorders Identification Test (AUDIT). As intervenções foram realizadas mediante o score obtido neste. A avaliação das intervenções foi realizada em follow-up, 4 meses depois. Dos 45 participantes na primeira intervenção, 39 constituem a amostra, sendo que destes 7 apresentam nível de risco de consumo de bebidas alcoólicas e as restantes 32 estão inseridas num nível de consumo de baixo risco. No follow-up, foi apurado que 5 participantes reduziram o seu nível de risco de consumo de bebidas alcoólicas e 34 mantiveram o mesmo nível (sendo que estes já se encontravam no nível de baixo risco). Estes resultados indicam um efeito positivo na redução do nível de risco associado à intervenção realizada, sendo que existiu uma redução ao nível da quantidade e frequência de consumo de bebidas alcoólicas, uma redução da frequência de consumo de 6 ou mais bebidas numa única ocasião, uma redução da frequência com que não se lembrou do que aconteceu na noite anterior por ter bebido e uma redução da frequência da preocupação por parte de um familiar, amigo, médico ou profissional de saúde pelo seu consumo de álcool. Quanto às questões limitadoras/dificuldades na realização do estudo, foi apontado um número limitado da amostra, a inexistência de um grupo de controlo, do curto espaço de tempo desde a implementação da intervenção até à sua avaliação, do estigma e da desejabilidade social como fatores influenciadores nos resultados da intervenção.