Publication year: 2021
Resumo:
A ideação suicida é considerada um dos principais fatores preditores de tentativas e mortes por suicídio no mundo, estando entre os principais problemas vivenciados pela pessoa com transtornos relacionados a substâncias, representando um significativo sofrimento mental. Trata-se de um estudo observacional e transversal, realizado com 137 pessoas em tratamento nos Centros de Atenção Psicossocial de Álcool e outras Drogas III, que teve como objetivo verificar a presença de ideação suicida durante a vida em pessoas com transtornos relacionados a substâncias em tratamento nos Centros de Atenção Psicossocial de Álcool e outras Drogas III de Curitiba. A coleta de dados ocorreu entre abril e novembro de 2018 pela aplicação do Columbia Suicide Severity Rating Scale e do Addiction Severity Index. Os dados foram submetidos à análise descritiva. Os resultados apontaram que 112 (81,8%) participantes relataram ideação suicida durante a vida, tendo 55 (40,1%) apresentado a forma mais grave, com plano e intenção. Quanto à intensidade da ideação suicida durante a vida, em 40 (35,8%) participantes a frequência dos pensamentos foi diária ou muitas vezes ao dia; e em 56 (50,1%), os pensamentos tinham duração de uma a oito horas diárias, podendo ser persistentes e contínuos. Quanto às motivações para pensar em suicídio, 78 (69,6%) responderam que, com certeza, era para acabar com o sofrimento, enquanto 64 (57,1%) referiram que a família, a religião e/ou a dor da morte são fatores de impedimento para a realização de um ato suicida. Considerando as características sociodemográficas e econômicas, observou-se maior frequência de ideação suicida entre aqueles participantes que estavam desempregados em 83 (75,5%) e que consideraram a renda insuficiente para o próprio sustento em 80 (8,3%). Nos aspectos clínicos, houve predomínio de pensamentos de morte entre aqueles indivíduos que relataram condições crônicas de saúde física em 63 (84%), atos preparatórios para o suicídio em 26 (100%), histórico de tentativa de suicídio em 68 (95,8) e humor deprimido em 93 (83,8%). Os derivados de cocaína e do álcool foram considerados as substâncias mais problemáticas de consumo por 68 (51,1%) e 65 (48,8%) participantes, respectivamente, 63 (92,6%) e 46 (70,7%) deles apresentaram ideação durante a vida. Conclui-se haver elevada frequência de ideação suicida durante a vida em pessoas, em tratamento, com transtornos relacionados a substâncias. Essa frequência pode se apresentar com variada gravidade e intensidade de acordo com aspectos sociodemográficos, econômicos e clínicos. Estes resultados podem subsidiar a prática profissional em saúde mental, especialmente para os enfermeiros, ao evidenciar os aspectos da ideação suicida e as características das pessoas com transtornos relacionados a substâncias, possibilitando o desenvolvimento de estratégias preventivas ao suicídio e de integração das ações de saúde pública. Estes resultados, ao produzir evidências científicas de aspectos concernentes à ideação de suicida e a características das pessoas com transtornos relacionados a substâncias, podem se constituir em subsídios para a prática profissional em saúde mental, especialmente para os enfermeiros, na pesquisa, no ensino, no planejamento e no oferecimento de cuidados aos usuários e famílias, assim como para os gestores dos serviços de saúde.
Abstract:
Suicidal ideation is considered one of the main predicting factors for suicidal attempts and deaths in the world, and one of the main problems experienced by people with substance-related disorders, thus representing significant mental suffering. This is an observational cross-sectional study, which was conducted with 137 people under treatment at Psychosocial Care Centers for Alcohol and other Drugs III, with the aim to verify the presence of suicidal ideation throughout the lives of people with substance-related disorders at these centers in Curitiba. Data were collected between April and November 2018, with application of the Columbia Suicide Severity Rating Scale and the Addiction Severity Index, and then submitted to descriptive analysis. Results showed that 112 (81.8%) participants reported suicidal ideation during their lives, and 55 (40.1%) presented the most severe episodes, with a plan and intention to act. Regarding the intensity of suicidal ideation during their lives, for 40 (35.8%) participants the frequency of these thoughts was daily or happened many times a day; and for 56 (50.1%) participants these thoughts lasted for one to eight hours a day, and could be persistent and continuous. Considering motivations to think about committing suicide, 78 (69.6%) answered that it was, certainly, to end their suffering, whereas 64 (57.1%) reported that their families, religion and/or pain of death were factors that prevented them from committing suicide. As regards sociodemographic and economic characteristics, a greater frequency of suicidal ideation was observed among unemployed participants, 83 (75.5%), and those who considered their income insufficient for their own subsistence, 80 (8.3%). Among clinical aspects, there was a prevalence of death thoughts among those who reported chronic physical health conditions, 63 (84%), preparatory measures for suicide, 26 (100%), history of suicidal attempts, 68 (95.8) and depressive mood, 93 (83.8%). Cocaine and alcohol derivatives were considered the most problematic consumption substances by 68 (51.1%) and 65 (48.8%) participants, respectively; 63 (92.6%) and 46 (70.7%) of them presented ideation throughout their lives. A high frequency of suicidal ideation throughout life was found among people with substance-related disorders undergoing treatment. This frequency can present varying severity and intensity levels, according to the sociodemographic, economic and clinical aspects. These results can support professional practice in mental health, especially for nurses, by evidencing aspects of suicidal ideation and characteristics of people with substance-related disorders, enabling the development of strategies to prevent suicide and to integrate public health actions. By producing scientific evidence on aspects related to suicidal ideation and the characteristics of people with substance-related disorders, these results can support professional practice in mental health, especially for nurses, in research, teaching, planning and offering of care to users and families, and for healthcare managers.