Validação de tecnologia assistiva para pais cegos: enfoque na alimentação complementar do lactente
Publication year: 2014
Pessoas cegas têm filhos e, em virtude da limitação sensorial, sentem dificuldades no cuidado das suas crianças. Alimentação complementar do lactente se torna crítica, pois envolve não somente a escolha de alimentos, mas preparo, higiene e oferta. A enfermagem assiste as pessoas cegas mediante desenvolvimento de tecnologia assistiva (TA), proporcionando autonomia e independência. Objetivou-se validar TA para pais cegos sobre alimentação complementar do lactente, disponibilizada em acesso online. Estudo conforme modelo de Pasquali (2010), realizado entre agosto/2011 e março/2013, no Laboratório de Comunicação em Saúde da Universidade Federal do Ceará. O referencial teórico-metodológico era constituído dos polos teórico, empírico e analítico. O teórico contemplou a construção da tecnologia, por revisão integrativa e consulta a materiais especializados; avaliação da TA por especialistas em saúde da criança, aspectos pedagógicos e acesso online; e teste piloto com cegos, pais e mães naturais ou por adoção, a partir de 18 anos. O polo empírico contemplou a avaliação da TA por 89 mães e pais cegos. Todos os participantes responderam a instrumentos na escala de Lickert de um a cinco, sendo um a pior nota e cinco a maior. Com o polo analítico viabilizou-se a análise estatística dos dados. As variáveis qualitativas foram analisadas pelos testes Qui-Quadrado e razão de verossimilhança. Calcularam-se média e desvio padrão das variáveis quantitativas e fez-se comparação das médias dos tópicos por meio do teste t de Student para dados independentes ou pelo teste F de Snedecor (ANOVA). Consideraram-se significantes as análises estatísticas inferenciais quando p<0,05. Projeto aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Ceará. A TA intitulada “Cuidando da alimentação do bebê” abordou os tipos de alimentos complementares; oferta de alimento à criança; preparo do alimento da criança e higiene da criança e dos alimentos, e foi disponibilizada na página www.labcomsaude.ufc.br. Quando avaliada pelas nove especialistas, três de cada área, estas sugeriram: correções de informações de conteúdo, inclusão de linguagem leiga, reforçar referências à cegueira dos pais no texto e ajuste de mecanismos de acessibilidade. Após os ajustes, as especialistas atribuíram nota cinco predominante em todos os itens, confirmando sua adequabilidade de conteúdo e acesso ao público-alvo. Participaram do pólo empírico 89 mães e pais cegos, prioritariamente mulheres (53,9%), com cegueira de nascença (55,1%), idade média de 37,91 anos, não casados (52,8%), ensino médio (60,7%) e exercendo atividade remunerada (56,2%), provenientes dos estados de Pernambuco (51,6%) e Piauí (41,6%). A maioria atribuiu nota cinco a todos os itens. As melhores pontuações vieram da faixa etária entre 30 e 39 anos, casados e com renda familiar entre 2,2 e seis salários mínimos. Dentre os tópicos da tecnologia, todos apresentaram médias favoráveis, sendo melhor avaliado o conteúdo (91,1±11,7), seguido de acesso online (84,4±18,9) e aspectos pedagógicos (82,9±15,9). Os resultados viabilizam a hipótese que a TA “Cuidando da alimentação do bebê” é meio válido e viável de disseminação de informações a pais cegos. Ao fim deste estudo, vislumbra-se que o enfermeiro deve utilizar a construção da TA como estratégia de promoção da saúde com clientes cegos.