Saberes & competências na formação da enfermeira em saúde coletiva
Publication year: 2003
Direcionadas pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e pelas Diretrizes Curriculares para os cursos de graduação, as políticas de educação e saúde atuais, aliadas às transformações socioeconômicas do Brasil e do mundo, têm agido diretamente nos rumos que a formação de Enfermagem brasileira vem tomando na última década. A exigência de um profissional capaz de atuar no contexto de saúde vigente e modificá-lo tem mobilizado os órgãos de classe e instituições formadoras a buscar estratégias que possibilitem as mudanças na prática educativa profissional. Busca-se uma enfermeira com perfil crítico-reflexivo e que se responsabiliza profissionalmente pela parcela que lhe cabe na intervenção nos processos de saúde-doença, na gerência e na formulação de políticas de saúde. O enfrentamento desse desafio exige, além da reorganização do sistema de saúde, uma mudança profunda das práticas profissionais em saúde, buscando o desenvolvimento de novas habilidades, competências, atitudes e valores éticos. Na perspectiva de mudança de modelo assistencial e na busca de identificar os saberes e competências necessárias à enfermeira, a fim de atender às prerrogativas do Sistema Único de Saúde, é que os fundamentos teóricos e empíricos desse estudo forma definidos. O referencial utilizado é o da Pedagogia das Competências, segundo Perrenoud (1999), no entendimento de que a aquisição de competências não se dá apenas no nível técnico, mas envolve o desenvolvimento holístico do indivíduo, nas dimensões ético-moral, política, social e técnica. O marco metodológico adotado é o da Teoria de intervenção Práxica da Enfermagem em Saúde Coletiva - TIPESC, proposta por Egry (1996), fundamentado no Materialismo Histórico-Dialético - MHD. A TIPESC foi utilizada nesse estudo nas etapas de captação e interpretação da realidade objetiva, as etapas restantes serão aplicadas em estudos posteriores. Foram utilizadas, como campo de ) investigação empírica, duas escolas brasileiras, uma pública e outra privada, na região sudeste. A coleta de dados primários se deu a partir da realização de grupos focais, e os dados secundários foram coletados através de análise documental. A análise dos dados empíricos se baseou nos pressupostos da técnica de análise de discurso, segundo Fiorin (1999), adotando a adaptação de Car (1999) na elaboração de frases temáticas. Como resultado foram identificadas as categorias empíricas Mudança de modelo assistencial, formação profissional, o trabalho em saúde coletiva e como desenvolver competências, conformadas por subcategorias, sendo que um terço foi comum aos dois cenários. A análise dos dados discutida com o referencial Le Boterf (2003) permitiu relacionar com as frases temáticas dos sujeitos do estudo os diferentes saberes que precisam ser mobilizados para construir competências. Conclui-se que, reiterando a necessidade de redirecionar a formação da enfermeira para o contexto de saúde atual, com adoção de metodologias que enfoquem a ação-reflexão-ação, priorizando o ensino a partir da prática profissional e a diversidade de locais de ensino-aprendizagem, entre outros. Como construto desse estudo destaca-se o enfoque na definição dos saberes a serem mobilizados para gerar competências em Saúde Coletiva, no entendimento de que na identificação do conjunto de saberes é que se forma a identidade profissional
Over the last decade, the course of Brazilian nursing education has been affected directly by the National Educational Guidelines, curricular guidelines for undergraduate courses, current educational and healthcare policies as well as by the socioeconomic transformations occurring in Brazil and the world. Requirements for professionals capable of working in and transforming the current healthcare system environment have prompted professional associations and educational institutions to create strategies that enable changes in professional educational practices. These strategies aim to instill critical and reflexive thinking skills in nurses who will also take professional responsibility for their part in the health-illness intervention, as well as in the management of health services and in the formulation of healthcare policies. Facing this challenge requires, in addition to a reorganization of the healthcare system, a profound change in professional healthcare practices and an effort to develop new skills, competencies, attitudes and ethics. The theoretical and empirical bases of this study were defined to comply with the needs of the Brazilian Unified Healthcare System with a view to changing the care model and in an effort to identify the knowledge and competencies necessary for nurses. The theoretical basis used is that of Teaching Competencies, according to Perrenoud (1999), which states that the acquisition of competencies is not restricted to the technical level, but involves the holistic development of individuals, in their ethical, moral, political, social and technical dimensions. The methodological framework adopted is the Theory of Praxical Intervention in Collective Healthcare Nursing, proposed by Egry (1996), based on Dialectical and Historical Materialism. This theory was used in this study to capture and interpret objective reality. Two Brazilian schools, one public and the other private, both located in the Southeast region, were used for the empirical investigation. Primary data was obtained from focus groups and the secondary data was collected through documental analysis. The analysis of empirical data was based on the presuppositions of the discourse analysis technique, according to Fiorin (1999) and adapted by Car (1999) in the development of thematic phrases. As a result, the following empirical categories were identified: Change in Care Model, Professional Education, Collective Healthcare Work and Competencies Development. The analysis of data discussed with reference to Le Boterf (2003) permitted the association of thematic phrases taken from the study subjects with the knowledge needed to build competencies. In conclusion, an alignment in the education of nurses with the current state of healthcare is needed. This can be achieved by adopting methodologies that focus on action-reflection-action, giving priority to learning based on professional practices and to the diversity of educational locations. This study focuses on the knowledge that must be mobilized to generate competencies in collective healthcare, assuming that the identification of this knowledge forms the basis of professional identity