Programa sobre a comunicação não-verbal para a equipe de enfermagem baseado nos preceitos da reforma psiquiátrica
Program about nonverbal communication to nursing staff based on the precepts of psychiatric reform

Publication year: 2003

A conjuntura social, política e legislativa brasileira vem respaldando mudanças na área da assistência em saúde mental nos últimos anos. O movimento da reforma psiquiátrica está instituído e segue avançando, ainda que de modo heterogêneo e lento. Acreditando que a principal reforma deva ocorrer dentro de cada indivíduo da sociedade como um todo, mas, em especial, dos profissionais de saúde, é que se propõe pensar a assistência pautada na compreensão de uma prática transformadora, diversificando mecanismos e estratégias, pensando na transformação e acréscimo de valores e saberes. Considerando o atual contexto, os objetivos deste estudo foram conceber um programa de treinamento sobre comunicação não-verbal, baseado nos pressupostos da reforma psiquiátrica e no programa de Silva (1993) para utilização com as equipes de Enfermagem que atuam em hospital-dia de saúde mental; aplicar o programa de treinamento para profissionais dessas equipes; verificar com os participantes o índice de assimilação do conteúdo do programa aplicado; e observar se a participação no programa educativo foi capaz de auxiliar na percepção da comunicação não-verbal na assistência cotidiana e sua relação com o contexto da reforma psiquiátrica. A pesquisa respeitou os requisitos de pesquisas com seres humanos, e foi desenvolvida nos hospitais-dia em saúde mental públicos municipais de São Paulo. Na primeira etapa o programa foi apresentado para 18 profissionais das equipes de Enfermagem (enfermeiras e auxiliares de Enfermagem) e verificou-se que: o índice de acertos das enfermeiras foi maior que o das auxiliares de Enfermagem. A maioria das participantes conseguiu citar corretamente exemplos de sinais não-verbais possíveis de serem detectados na assistência de Enfermagem Psiquiátrica cotidiana; o índice de aproveitamento foi alto, segundo a própria avaliação das participantes, o que sugere que houve interesse do grupo pelo assunto. Na segunda ) etapa do estudo, foi feita uma filmagem da enfermeira de um hospital-dia envolvendo uma interação individual com um usuário adulto, para enfocar a comunicação não-verbal da profissional. O registro da própria comunicação feito pela enfermeira ao se observar no vídeo, evidenciou que a mesma foi capaz de identificar os sinais não-verbais, embora em menor número que a pesquisadora e decodificá-los, em sua maioria, de modo correto. O registro sobre as características da unidade e da assistência, na maior parte, expôs que, no momento da coleta de dados, era delineada a busca de um modelo de assistência calcado no respeito, no acolhimento, na individualidade e demais preceitos da reestruturação da assistência. A equipe de Enfermagem participava, desenvolvia e coordenava atividades sistematizadas, de modo individual e grupal. Um campo de mudanças estava edificando-se na unidade pesquisada e embora não se possa fazer uma relação direta deste fato com a atuação da enfermeira, após participar do programa de treinamento, pode-se afirmar que a mesma registrou ter aumentado seu conhecimento sobre a reforma psiquiátrica e a comunicação não-verbal; conseguiu perceber que as práticas cotidianas estão sendo alteradas e sua importância para a melhora da qualidade de assistência. Entendendo que é no microespaço onde se dá o primeiro passo, no estabelecimento das relações humanas, na formação dos vínculos que se dão no campo da saúde mental, é que se construirão práticas que, somadas às conjunturas sociais e políticas, produzirão mudanças significativas e duradouras. Usar a comunicação não-verbal de modo consciente é um dos instrumentos que possibilitará a equipe de Enfermagem avançar na consolidação de ações coerentes com os preceitos da reforma psiquiátrica, de modo que o discurso da humanização torne-se uma prática verdadeiramente vivenciada
In the last few years the social, political and legislative circumstances in Brazil have begun to endorse changes on mental health assistance. The psychiatric reform is established and is improving, but still in a heterogeneous and slow way. Assuming that the main reform should happen within each individual of society as a whole but, especially, the health professional, the study proposes to think the ruled assistance in the comprehension of a transformative practice, diversifying mechanisms and strategies thinking about the transformation and addition of values and knowledge. Considering the actual context, the goals of this study were to conceive a training program about nonverbal communication, based on the precepts of the psychiatric reform and on Silva's program (1993) to be used on nursing staffs that work on mental health day hospital; apply the training program to professionals of those staffs; verify with the participants the assimilation index of the contents on the applied program; and observe if the participation in the educational program was capable of helping with the nonverbal communication perception in everyday assistance and its relation with the context of the psychiatric reform. The research went according to the resolution and requisites for human's researches and was developed on public mental health day hospitals in São Paulo. In the first stage the program was presented to 18 professionals of the nursing staff (nurses and auxiliary nurses) and it was possible to verify that: the rightness index was higher for nurses than for the auxiliary nurses. The majority of the participants could correctly name examples of nonverbal signs which are possible of being detected in everyday psychiatric nursing assistance; the utilization index was high, according to the evaluation of the participants, which suggests there was a group interest on the subject. In the second stage of this study, , a film involving a nurse of a day hospital in an individual interaction with an adult user was made, to focus on the professional's nonverbal communication. The record of the communication itself done by the nurse when she watches herself in the video, made evident that she was able to identify the nonverbal signs and decode them correctly, although less than the researcher in the majority of cases. The characteristics and the functioning of the day hospital demonstrated the very fact that the hospital was under review, they were trying to structure a model of assistance based on respect, welcome, heeding, individuality and principles regarding the restructuring of assistance. The nursing staff participated, developed and coordinated systemized activities, individually or as a group. A field of change was forming with the researched unit and although it's not possible to establish a direct relation between this fact and the nurse's performance, after participating in the training program, it's possible to affirm that she showed an improvement in her knowledge about the psychiatric reform and nonverbal communication; she was able to realize that everyday practices are being altered and their importance to the improved quality of assistance. Assuming that it's on the micro space where we take the first step, in the establishment of human relations, in the creation of links in the mental health field, that's when we build practice that, added to social and political circumstances, will produce significant and lasting changes. Using the nonverbal communication in a conscious way is one of the instruments that will allow the nursing staff to go forward in the consolidation of coherent actions with the precepts of psychiatric reform, so that humanization discourse will become a truly experienced practice