Perda do filho, doação de leite humano e luto familiar
Publication year: 2013
A morte constitui parte do ciclo de vida de cada ser humano, embora nem sempre este se encontre preparado para enfrentar; e quando se trata da morte de um filho, os pais necessitam da ajuda de profissionais que os acolham para a elaboração do luto. O estudo teve como objetivos realizar acolhimento e acompanhamento do casal em luto pela perda de um filho; analisar os efeitos deste acompanhamento; elaborar, com as famílias participantes, tecnologia de acolhimento na elaboração do luto pela perda do filho e verificar qual a decisão da mulher/mãe em relação ao destino de sua produção láctea após a morte do filho recém-nascido (RN) ou quando a morte ocorreu intraútero. Realizou-se uma pesquisa-ação, pois se acredita que nesta metodologia o pesquisador vai além de diagnóstico situacional; este se insere no meio pesquisado, tem efetiva participação e, consequentemente, existe a possibilidade de compreender a realidade para efetivas transformações. Os resultados acontecem durante o caminhar, o que proporciona satisfação para o pesquisador e participantes que se educam mutuamente; todos são sujeitos atuantes e dispostos a pensarem juntos. Coordenou-se grupo de apoio/suporte do tipo semiaberto, com acolhimento de 14 casais em luto pela perda do filho. Quanto à frequência das sessões grupais, reuniu-se uma vez por semana, aos sábados, no Laboratório de Práticas Alternativas de Saúde (LabPas), do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Ceará, durante nove meses, totalizando 30 encontros grupais. A duração média de cada encontro foi de 90 minutos, perfazendo 2.700 minutos ou 45 horas de convivência dos participantes da pesquisa, além das visitas domiciliárias e contatos telefônicos. Três etapas constituíram o processo grupal - acolhimento, desenvolvimento e avaliação. O acolhimento aconteceu por meio de relaxamento e técnica de imaginação criativa ancorada por um tema; o desenvolvimento foi conduzido por uma pergunta norteadora e a avaliação realizada por meio de uma palavra ou frase. Os encontros foram finalizados por meio de um abraço coletivo. O período de coleta transcorreu entre 7 de janeiro e 29 de setembro de 2012. Os locais da pesquisa foram duas maternidades de grande porte, referências do Município de Fortaleza, capital do Estado do Ceará/Brasil, que forneceram os telefones dos casais que perderam seus filhos RN, as residências onde aconteceram as entrevistas. Avaliaram-se os 30 encontros grupais a partir de um diagrama que se idealizou com base em Loomis (1979). Os resultados foram analisados por meio de triangulação dos dados, que permite utilização de diferentes técnicas de coleta como a entrevista, a formação de grupos e a observação sistemática. Reuniu-se inicialmente o que foi apreendido como aprendizado resultando em conhecimento e depois se apresentou uma proposta de tecnologia em acolhimento às famílias que perderam seus filhos, o que certamente poderá servir como modelo de assistência. Acredita-se que a Promoção da Saúde deva ser representada pela pirâmide da competência, que se traduz em conhecimentos acumulados, habilidades e atitudes para uma presença silenciosa, a escuta terapêutica, o olhar no olho, a palavra oportuna e o abraço terapêutico. Concorda-se com os diversos pensadores quando afirmam que o caminho se faz caminhando. Nesta tese, acolheram-se os casais que perderam seus filhos RNs ou que morreram no ventre de suas mães, para ajudá-los a acreditar que eles podem ressignificar as suas vidas. Os casais retornaram a se organizar, a cuidar-se e voltaram aos seus trabalhos; e em seus depoimentos percebeu-se que os encontros grupais contribuíram para que eles acreditassem que um dia esta dor será substituída por uma saudade sem dor, uma recordação saudável do filho amado que estará no coração destes pais. Nessa fase de elaboração do luto, certamente, eles estarão revigorados e mais resistentes a possíveis dores com as quais a vida surpreende a todos. Das 41 mães consultadas sobre qual destino dariam ao leite que produziam após a morte de um filho RNs ou ainda em seu útero, 21(71%), porcentagem significativa, afirmaram que gostariam de ter sido doadoras de leite, caso tivessem tido a oportunidade de escolha. (AU)