Vulnerabilidade de crianças no contexto das famílias que vivem com HIV/AIDS
Publication year: 2013
As definições de vulnerabilidade englobam a vulnerabilidade social, programática e individual. Neste trabalho, objetivou-se analisar a vulnerabilidade social, programática e individual de crianças no contexto de famílias que vivem com HIV/aids. Estudo transversal, quantitativo, realizado em unidades de referência para HIV/aids em Fortaleza-CE. Participaram 231 famílias, as quais possuíam 271 crianças com até 12 anos de idade, distribuídas em dois grupos: sem HIV (219) e HIV+ (52). Conduziram-se entrevistas com cuidadores, cujos dados foram analisados de acordo com as dimensões da vulnerabilidade social (condições socioeconômicas, sociodemográficas dos cuidadores, condições ambientais e apoio sociofamiliar); vulnerabilidade programática (acessibilidade ao serviço) e vulnerabilidade individual (transmissão vertical e condições de saúde). Os dados foram tratados no STATA v.11 e foram analisadas as dimensões de vulnerabilidade, discriminadas em blocos, mediante um modelo hierarquizado. Em nível distal, permaneceu a dimensão social; em nível intermediário, a dimensão programática e, em nível proximal, a dimensão individual. Definiu-se o diagnóstico da infecção pelo HIV como variável dependente e a idade e o sexo da criança como potenciais fatores confundidores e de ajuste do modelo final. Utilizaram-se análises bivariadas para identificar diferenças proporcionais entre as variáveis selecionadas e o diagnóstico de HIV para cada dimensão da vulnerabilidade, mediante aplicação dos Testes Qui quadrado de Pearson e o Exato de Fischer. Para as tendências proporcionais entre as variáveis do tipo ordinal e o diagnóstico, utilizou-se o Teste Qui quadrado de Tendência Linear. Para estimar a magnitude das associações, utilizou-se a Razão de Prevalência (RP) e intervalos de confiança a 95%. Em relação à vulnerabilidade social, houve diferença significativa (p=0,021) quanto à principal fonte de renda dos domicílios. A mãe é a principal cuidadora das crianças em 80% das famílias. Dos cuidadores das crianças, observaram-se diferenças significantes quanto à faixa etária (p=0,000) e situação conjugal (p=0,011). Em relação ao apoio sociofamiliar, houve diferença significativa em relação à orfandade (p=0,003); destaca-se que 46,1% das crianças HIV+ são órfãs. Na vulnerabilidade programática, observaram-se diferenças significativas entre os grupos de variáveis: tipo de parto (p=0,000); profilaxia pelo AZT na gestação (p=0,000); uso do Bactrim® (p=0,000) e início da profilaxia do AZT para a criança (p=0,00). Na vulnerabilidade individual, houve diferença significativa nas variáveis: aleitamento materno (p=0,000); idade que levou a criança ao serviço para acompanhamento do HIV (p=0,000) e administração do AZT para a criança (p=0,015). Postula-se que a ocorrência do HIV+ esteja associada às causas estruturais ou básicas, representadas pelas condições socioeconômicas dos indivíduos, portanto, as características sociais (distais) influenciam negativamente as demais dimensões e ratificam que condições precárias de sobrevivência potencializam o diagnóstico HIV+ e privam estas famílias na vigência do HIV. Portanto, o modelo final com as dimensões social + programática + individual + idade da criança + sexo + interação entre a idade e o sexo, somados, contribuíram para explicar 31,0% dos casos de crianças HIV+. Diante do apresentado, urge integrar diferentes áreas para cumprir as medidas de prevenção da Transmissão Vertical, em virtude de as crianças expostas ao HIV/aids estarem inseridas em ambientes vulneráveis. Portanto, é preciso garantir-lhes acessibilidade aos serviços de saúde mediante a descentralização dos serviços de atendimento, bem como ampliar os serviços especializados, a fim de minimizar a vulnerabilidade social, programática e individual que cinge esta população. (AU)