Análise espacial da infecção pelo HIV em crianças e gestantes do município de Recife, Pernambuco

Publication year: 2013

A disseminação da aids representa processo dinâmico, que incide sob grupos populacionais mais vulneráveis, envolvendo uma rede de determinantes biopsicossociais, comportamentais e ambientais. Teve-se como objetivo geral analisar a distribuição espacial dos casos notificados de crianças com aids e de gestantes soropositivas ao HIV residentes no município de Recife e sua correlação com indicadores sociais e de saúde. Trata-se de estudo epidemiológico, do tipo ecológico, realizado com dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação, Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos e Sistema de Informação sobre Mortalidade, de 2001 a 2011. Dados sociais por bairros foram captados do Censo Demográfico de 2010. Construíram-se indicadores epidemiológicos, socioeconômicos e de saúde para caracterizar os bairros e sua relação com o adoecimento pelo HIV. Os endereços foram georreferenciados e compatibilizados com a base cartográfica de Recife. Características epidemiológicas foram analisadas por meio da estatística descritiva e para os dados das gestantes aplicou-se o teste qui-quadrado com resíduos ajustados, usando o programa SPSS. Para identificação do padrão espacial, os dados de áreas foram analisados pelo Índice de Moran Global e Local, e pelas técnicas de mapeamento BoxMap, LISAMap e MoranMap gerados por meio do software Terraview v4.2.2 e dos módulos espaciais do R v2.15.3. Empregou-se o coeficiente de correlação de Pearson e modelos de regressão linear múltipla para testar associações entre as variáveis explicativas e as taxas de incidência de crianças e gestantes infectadas. O nível de significância estabelecido foi de 5%. Os resultados demonstraram tendência linear crescente da epidemia entre gestantes ao longo do recorte temporal investigado. Verificou-se associação estatisticamente significante entre a realização do pré-natal com as variáveis de escolaridade (p=0,037), tipo de parto (p<0,001), uso da profilaxia antirretroviral na gestação (p=0,002), no parto (p<0,001) e no recém-nascido (p<0,001). Não fazer o pré-natal esteve associado com gestantes de menor escolaridade. Todos os casos de aids pediátrica foram adquiridos por transmissão vertical e 27,2% das crianças evoluíram para óbito. Com a análise espacial identificaram-se clusters de gestantes infectadas na região do centro e na parte distal do noroeste do município, assim como aglomerado de alta incidência de crianças com aids situado também em bairros do centro. A análise bivariada e multivariada apontou associação das taxas de detecção de HIV em gestantes e de incidência de aids em crianças com a maioria dos indicadores socioeconômicos e de saúde estudados. Precárias condições de vida evidenciadas por regiões de baixa renda, elevado analfabetismo e infraestrutura inadequada foram preditores da transmissão vertical do HIV, convergindo para aumento dos casos entre populações carentes. Métodos de geoprocessamento mostraram-se eficazes na identificação de grupos vulneráveis e de áreas de alto risco para os quais devem ser direcionados cuidados e intervenções preventivas intersetoriais com vistas ao controle deste agravo. Conforme se conclui, a difusão geográfica do HIV/aids entre crianças e gestantes do Recife não ocorreu aleatoriamente, refletindo-se, por conseguinte, em áreas de dependência espacial da transmissão vertical, e as desigualdades socioeconômicas e de acesso à saúde influenciaram na maior suscetibilidade da disseminação da doença. (AU)