Avaliação da ferida cirúrgica: Documentação de enfermagem

Publication year: 2021

As organizações de saúde exigem dos seus profissionais responsabilidade na prestação de cuidados, tendo em conta os padrões de garantia e melhoria contínua da qualidade. Os registos de enfermagem devem refletir a qualidade dos cuidados e traduzirem os cuidados prestados e a eficácia dos mesmos. A informação acerca da pessoa alvo dos cuidados, deve ser precisa, significativa e sintética e versar as diversas categorias de informação, tendo em conta as funções autónomas e interdependentes do enfermeiro de acordo com os princípios ético científicos que regem a profissão. Partindo da questão de investigação ?O que é valorizado pelos enfermeiros nos registos de avaliação da ferida cirúrgica na fase pré-deiscência nos doentes submetidos a cirurgia abdominal?? foi definido o objetivo geral analisar na documentação de enfermagem, prévia ao diagnostico de deiscência, que possa indiciar complicações da ferida cirúrgica em doentes submetidos a cirurgia abdominal e, os objetivos específicos caraterizar o perfil do doente que desenvolveu deiscência e identificar registos de sinais e sintomas sugestivos de complicação da ferida cirúrgica. Trata-se de um estudo misto, retrospetivo de base documental com amostra acidental, constituída por 70 registos de processos de utentes que desenvolveram deiscência de ferida cirúrgica abdominal, internados entre janeiro de 2015 a dezembro de 2017, num serviço de cirurgia geral de um hospital distrital do centro do país. Análise documental de enfermagem mostrou-se escassez e pouco sistematizada, não refletindo a globalidade dos cuidados prestados. Contudo, foi possível identificar caraterísticas comuns do doente que desenvolveu deiscência e alguns sinais e sintomas sugestivos de complicações na ferida cirúrgica. Assim, a maioria dos doentes eram do sexo masculino (61,4%), com idade média de 71,21 anos, obesos ou com excesso de peso (60,1%). A maioria (58,6%) das deiscências ocorreram em doentes que fizeram cirurgia de urgência, 40% por patologia gastrintestinal e 37,1% oncológica. Na avaliação da dor, verificou-se que a dor média até ao dia da deiscência foi de (2,16) sendo ligeiramente superior á dor global que se fixou em (1,99). A temperatura global média dos doentes incluídos foi de 37,16ºC. Encontraram-se outros indicadores que podem traduzir complicação da ferida como: penso repassado, exsudato purulento ou hematopurulento, taquicardia, vómitos, complicações gastrointestinais, agitação/confusão e anemia. Embora os enfermeiros reconheçam a importância da comunicação escrita para a continuidade dos cuidados, observa-se na prática clínica, que esta é por vezes negligenciada, uma vez que os registos, quando realizados, são frequentemente escassos e incompletos não refletindo os cuidados prestados.