O sistema de triagem de Manchester no reconhecimento de gravidade no serviço de urgência
Publication year: 2021
A triagem de prioridades constitui-se como uma estratégia clínica e organizacional fundamental na gestão da assistência nos Serviços de Urgência (SU), qualificando os cuidados prestados, ao organizar o fluxo de doentes conforme a sua gravidade, minimizando os riscos e danos causados pelas consequências da sobrelotação dos serviços. O enfermeiro é a peça essencial no funcionamento desta ferramenta, pois a triagem é da sua responsabilidade, em Portugal. Atribuir uma prioridade clínica é um processo complexo de tomada de decisão, em que o enfermeiro utiliza o raciocínio clínico, fundamentado nos conhecimentos teóricos e práticos.
Este estudo pretende analisar a gravidade clínica das pessoas que recorrem ao SU e a prioridade atribuída pelo enfermeiro pelo Sistema de Triagem de Manchester (STM). Trata-se de uma pesquisa documental, de caráter descritivo, exploratório e transversal. A recolha dos dados foi realizada a partir do sistema de informação SClínico®, entre junho e outubro de 2019. Foram incluídos todos os registos eletrónicos de doentes que deram entrada num SU de um hospital distrital da região centro, nas segundas-feiras e sábados, de janeiro a março de 2019, num total de 3698 casos. Os dados foram tratados estatisticamente através do programa SPSS®.
Verificámos que a média de idades dos doentes atendidos no SU foi de 57,8 anos, sendo o sexo feminino mais predominante com 54,6%. A prioridade mais atribuída na triagem pelo STM foi a prioridade Urgente (65,5%) e o fluxograma mais utilizado foi Problemas nos membros (14,8%). Apesar da maioria de doentes não ter efetuado meios complementares de diagnóstico e terapêutica (MCDT), verificou-se haver associação entre a prioridade do STM e a realização dos mesmos. Cerca de 15,1% dos doentes tiveram uma permanência superior a seis horas, verificando-se que é nos doentes triados com prioridades mais altas que este critério prevalece. Os desfechos mostraram-se fortemente associados às prioridades atribuídas. Em suma, observa-se um paralelismo entre as prioridades mais elevadas atribuídas pelo enfermeiro na triagem e a maioria dos critérios de gravidade definidos, havendo um decréscimo percentual dos indicadores de gravidade nas prioridades mais baixas.