A morte de jovens em contexto de urgência: vivências dos enfermeiros

Publication year: 2021

Juventude é sinónimo de longevidade. A morte de jovens assume uma conotação trágica e é vista como um dos maiores desafios enfrentados pelos profissionais de saúde. Nos serviços de urgência, além de salvarem vidas, os enfermeiros cuidam de jovens e famílias em morte iminente. Nestes contextos o paradigma assistencial implica que as intervenções terapêuticas sejam urgentes e emergentes e dirigidas para a cura, através da estabilização das funções orgânicas alteradas. No entanto, muitas vezes, os jovens que recorrem ao serviço de urgência têm prognóstico de limite de vida, para o qual não existe efetivamente nenhuma hipótese de recuperação, ou todas as intervenções falham. Os enfermeiros perante esta realidade são continuamente confrontados com vivências pessoais que influenciam a sua conduta, e a sua forma de cuidar. O presente estudo pretende compreender as vivências dos enfermeiros com a situação de morte de jovens/família em contexto de urgência/emergência. Para responder ao objetivo proposto desenvolveu-se um estudo exploratório, descritivo do tipo fenomenológico, cuja recolha de dados foi efetuada no serviço de um hospital da região norte de Portugal com recurso à entrevista semiestruturada. Os participantes do estudo são enfermeiros que cumpriam os critérios definidos tendo em conta as considerações éticas e operacionais intrínsecas à investigação, bem como o princípio da saturação de dados. Os dados obtidos permitiram identificar quatro áreas temáticas, i) experiências dos enfermeiros perante a morte de um jovem; ii) dificuldades sentidas pelos enfermeiros perante a morte de um jovem; iii) estratégias utilizadas pelos enfermeiros para enfrentar a morte de jovens e iv) informação complementar. Dentro de cada área temática foram ainda identificadas categorias e subcategorias, como, equipa orientada para a cura; acontecimento contranatura; vivência marcante; tomada de decisão; comunicação de más notícias; informação e cuidado à família; identificação das necessidades efetivas da família; envolvimento emocional/gestão de sentimentos; transição da situação para o contexto pessoal; discussão de situações vivenciados e partilha de emoções e sentimentos com colegas de equipa; apoio familiar; afastamento dos cuidados/fuga/distanciamento e necessidade de apoio psicológico à equipa/debriefing. Os resultados revelaram que os cuidados aos jovens em morte iminente e família têm impacte emocional nos enfermeiros, sendo um acontecimento que os marca para sempre. Para além da gestão emocional os participantes revelaram dificuldades que se prendem com a tomada de decisão, a comunicação de más notícias, a informação e cuidado à família, a identificação das necessidades efetivas da família, a gestão das emoções e a transição da situação para o contexto pessoal. As estratégias mais utilizadas pelos participantes para minimizar o impacte das perdas foram a discussão das situações vivenciadas e a partilha de emoções e sentimentos com colegas de equipa, o apoio familiar e o afastamento dos cuidados. Conclui-se que a implementação de programas de debriefing em equipa e o apoio emocional aos profissionais, que vivenciam o evento morte de jovens, poderiam contribuir para minimizar os danos causados pelo impacte desta experiência, no sentido de melhorar a qualidade de vida dos profissionais que trabalham num serviço de urgência e consequentemente, a qualidade dos cuidados.
Youth is synonymous with longevity. The death of young people assumes a tragic connotation and is seen as one of the greatest challenges faced by health professionals. In emergency department, in addition to saving lives, nurses care for young people and families in imminent death. In these contexts, the care paradigm implies that therapeutic interventions are urgent and emergent and directed towards cure, through the stabilization of altered organic functions. However, many times, the young people who resort to the emergency service have a life-limiting prognosis, for which there is effectively no chance of recovery, or all interventions fail. Nurses, faced with this reality, are continuously confronted with personal experiences that influence their conduct and their way of providing care. This study aims to understand how nurses experience the situation of death of young people/family in an emergency context. To answer the proposed objective, an exploratory and descriptive phenomenological study was developed, which data were collected in the unit of a hospital in the northern region of Portugal, using semi-structured interview. The study participants were nurses who met the criteria defined, taking into account the ethical and operational considerations intrinsic to the research, as well as the principle of data saturation. The data obtained allowed us to identify four thematic areas, i) nurses’ experiences when facing the death of a young person; ii) difficulties experiences by nurses when facing the death of a young person; iii) strategies used by nurses to deal with the death of young people and iv) additional information. Within each thematic area, categories and subcategories were also identified, such as: cure-oriented team; unnatural event; remarkable experience; decision-making; communication of bad news; family information and care; identification of the family’s effective needs; emotional involvement/management of feelings; transition of the situation to the personal context; discussion of situations experienced and sharing of emotions and feelings with teammates; family support; withdrawal from care/escape/distancing and need for phycological support to the team/debriefing. The results revealed that the care provided to young people in imminent death and their families has an emotional impact on nurses, as it is an event that marks them forever. The results revealed that the care with imminent death of young people and their families impact the nurses emotionally, being an event that marks them forever. Besides the emotional management, the participants have shown difficulties regarding decision making, bad news communication, information and care towards the family, identify effective family needs, emotion management, and the situation's transition to the personal context. The main strategies used by the participants to minimize the impact of loss were discussing the experiences lived and sharing their feelings and emotions with their teammates, family support, and care withdrawal. In conclusion, the debriefing team programs' implementation and psychological support to professionals who experience situations of death of young people may contribute to minimizing the effects caused by these types of events, in order to improve the quality of life of these professionals and the quality of care.