COVID 19 e os profissionais de saúde: implicações na perceção da saúde
Publication year: 2021
Os fatores psicossociais e os níveis de burnout dos profissionais de saúde têm assumido uma preocupação crescente, devido às consequências negativas para a saúde dos profissionais de saúde, bem como para a instituição e comunidade. Com o aparecimento da pandemia COVID-19, a preocupação neste âmbito aumentou e torna-se fundamental a atuação do Enfermeiro Especialista em Enfermagem Comunitária para intervir na promoção da saúde destes profissionais. Com base nestes pressupostos, emergiu este estudo de investigação cujos objetivos visam avaliar os fatores psicossociais que interferem no trabalho e avaliar os níveis de burnout, dos profissionais de saúde que estiveram na prestação de cuidados a doentes com diagnóstico de COVID-19, confirmado ou suspeito, numa unidade hospitalar da região norte de Portugal. Procurou-se, ainda, avaliar a associação entre as dimensões dos fatores psicossociais que interferem no local de trabalho; avaliar a associação entre as dimensões do burnout e avaliar a associação entre os fatores psicossociais que interferem no trabalho dos profissionais de saúde e as dimensões do burnout. Para tal, realizou-se um estudo quantitativo, com caráter descritivo-correlacional, durante a primeira vaga da pandemia. A recolha de dados foi obtida através da aplicação de um questionário composto pela caracterização sociodemográfica e socioprofissional, a Copenhagen Psychosocial Questionnaire II versão média portuguesa (Silva [et al.], 2012) e a escala de Medida de “Burnout” de Shirom-Melamed (Gomes, 2012). A amostra foi constituída por 182 profissionais de saúde, maioritariamente do sexo feminino (76,9%), com média de idade de 38,6±9,78 anos.
Os resultados indicaram que os fatores psicossociais em que os profissionais se encontram em situação de risco para a saúde são:
Exigências Emocionais (70,2%), Exigências Cognitivas (68,0%), Influência no Trabalho (56,4%), Conflito Trabalho/Família (48,9%) e Ritmo de Trabalho (44,8%). Por outro lado, os fatores em que os profissionais se encontram em situação favorável são: Comportamentos Ofensivos (94,3%), Significado do Trabalho (92,3%), Transparência do Papel Laboral (82,3%), Possibilidades de Desenvolvimento (72,9%), Comunidade Social no Trabalho (62,4%), Insegurança Laboral (55,1%), Confiança Vertical (50,8%), Auto-eficácia (49,2%), Saúde-geral (47,5%), Recompensas (46,4%) e Sintomas Depressivos (45,3%).Quanto aos níveis de burnout dos profissionais de saúde, os resultados apontam para níveis mais elevados de Fadiga Física (3,70±1,47), seguindo-se a Fadiga Cognitiva (2,95±1,55) e a Exaustão Emocional (1,98±1,12). Dos profissionais em estudo, 4,4% apresentam valores indicativos de burnout. No que se refere à associação entre os fatores psicossociais que interferem no local de trabalho e os níveis de burnout, foram verificadas associações estatisticamente significativas. Da análise das correlações entre as Exigências Laborais e as dimensões do Burnout observam-se associações significativas, positivas e baixas para Fadiga Cognitiva (r=0,303; sig=0,000) e para a Exaustão Emocional (r=0,340; sig=0,000), sendo moderada com a Fadiga Física (r=0,431; sig=0,000). Quanto à Organização do Trabalho e Conteúdo e às Relações Sociais e Liderança apresentam, correlações significativas, negativas e baixas com a Exaustão Emocional (r=-0,207; sig=0,005 e r=-0,291; sig=0,000, respetivamente). Os Valores no Local de Trabalho apresentam correlações significativas, negativas e baixas com a Fadiga Física (r=-0,319; sig=0,000), Fadiga Cognitiva (r=-0,229; sig=0,002) e com a Exaustão Emocional (r=-0,397; sig=0,000). Observa-se ainda correlações significativas, negativas e baixas, entre a Personalidade e a Fadiga Física (r=-0,244; sig=0,001), a Fadiga Cognitiva (r=-0,307; sig=0,000) e a Exaustão Emocional (r=-0,257; sig=0,000). Na dimensão Saúde e Bem-Estar verificam-se correlações significativas, positivas e moderadas com a Fadiga Física (r=0,688; sig=0,000), a Fadiga Cognitiva (r=0,620; sig=0,000) e a Exaustão Emocional (r=0,525; sig=0,000). Por fim, em relação aos Comportamentos Ofensivos correlaciona-se positiva e significativamente, com associações baixas, com a Fadiga Física (r=0,251; sig=0,001), a Fadiga Cognitiva (r=0,285; sig=0,000) e a Exaustão Emocional (r=0,285; sig=0,000). Em síntese, os resultados apontam para que esta problemática, deva ser regularmente monitorizada e avaliada, e que sejam aplicadas intervenções adequadas para proteger e promover a saúde dos profissionais, ainda mais, em situações inesperadas e que exigem rápida adaptação, como nesta pandemia.
Psychosocial factors and burnout levels among health professionals have become a growing source of concern, owing to the negative consequences for health professionals' health, as well as the institution and community. Concerns in this area have grown since the outbreak of the COVID-19 pandemic, and the role of the Specialist Nurse in Community Nursing has become critical in promoting the health of these professionals. Based on these assumptions, the goal of this research study was to assess the psychosocial factors that interfere with work and the levels of burnout among health professionals who have been providing care to patients diagnosed with COVID-19, confirmed or suspected, in a hospital in northern Portugal. We also attempted to assess the relationship between the dimensions of psychosocial factors that interfere with the workplace, the dimensions of burnout, and the psychosocial factors that interfere with health professionals' work and the dimensions of burnout. Towards this goal, during the first wave of the pandemic, a quantitative descriptive-correlational research was conducted. The data was collected using a form that included sociodemographic and socio-professional characterisation, the Copenhagen Psychosocial Questionnaire II Portuguese average version (Silva [et al.], 2012), and the Shirom-Melamed Burnout Measure scale (Gomes, 2012). The sample included 182 health professionals, the majority of whom were female (76,9%), with a mean age of 38,6±9,78 years. According to the findings, the psychosocial factors in which professionals are at risk for health are: Emotional Demands (70,2%), Cognitive Demands (68,0%), Influence at Work (56,4%), Work/Family Conflict (48,9%), and Work Rhythm (44,8%). On the other hand, the factors that put professionals in a good position are: Offensive Behaviour (94,3%), Meaning of Work (92,3%), Transparency of Labour Role (82,3%), Possibilities Development (72,9%), Social Community at Work (62,4%), Labour Insecurity (55,1%), Vertical Confidence (50,8%), Self-efficacy (49,2%), General Health (47,5%), Rewards (46,4%), and Depressive Symptoms (45,3%). When it comes to health professionals' burnout, the results show that Physical Fatigue (3,70±1,47) is the most common, followed by Cognitive Fatigue (2,95±1,55) and Emotional Exhaustion (1,98±1,12). 4,4% of the professionals in the survey had indicative burnout values. There were statistically significant associations found between psychosocial factors that interfere in the workplace and levels of burnout. The analysis of the correlations between Labor Demands and Burnout dimensions revealed significant, positive, and low associations for Cognitive Fatigue (r=0,303; sig=0,000) and Emotional Exhaustion (r=0,340; sig=0,000), while Physical Fatigue (r=0,431; sig=0,000) was moderate. Work Organization and Content, as well as Social Relations and Leadership, have significant, negative, and low correlations with Emotional Exhaustion (r=-0,207; sig=0,005, and r=-0,291; sig=0,000, respectively). Workplace Values have significant, negative, and low correlations with Physical Fatigue (r=-0,319; sig=0,000), Cognitive Fatigue (r=-0,229; sig=0,002), and Emotional Exhaustion (r=-0,397; sig=0,000). Personality and Physical Fatigue (r=-0,244; sig=0,001), Cognitive Fatigue (r=-0,307; sig=0,000), and Emotional Exhaustion (r=-0,257; sig=0,000) also have significant, negative, and low correlations. There are significant, positive, and moderate correlations between Physical Fatigue (r=0,688; sig=0,000), Cognitive Fatigue (r=0,620; sig=0,000), and Emotional Exhaustion (r=0,525; sig=0,000) in the Health and Well-Being dimension. Finally, Physical Fatigue (r=0,251; sig=0,001), Cognitive Fatigue (r=0,285; sig=0,000), and Emotional Exhaustion (r=0,285; sig=0,000) are positively and significantly correlated with Offensive Behaviors, with low associations. In summary, the findings suggest this problem should be monitored and evaluated on a regular basis, and appropriate interventions should be implemented to protect and promote the health of professionals, particularly in unexpected situations requiring rapid adaption, such as current pandemic.