Formação contínua, com recurso à simulação e a performance dos enfermeiros na compressão cardíaca externa, em contexto de emergência

Publication year: 2021

Segundo a American Heart Association, em 2020, as vítimas de paragem cardiorrespiratória (PCR) não recebem ressuscitação cardiopulmonar (RCP) de alta qualidade e a maioria não sobrevive. A realização de RCP de alta qualidade tem implicações na probabilidade de reversão de PCR, conduzindo indubitavelmente a ganhos em saúde. Com este estudo, como objetivo principal, pretendeu-se analisar os contributos da formação contínua, com recurso à simulação, na melhoria da performance dos enfermeiros na compressão cardíaca externa, em contexto de emergência.

Para dar resposta a este objetivo foram delineados dois objetivos específicos:

construir e validar uma grelha de avaliação de performance dos enfermeiros, em compressão cardíaca externa e conhecer a perceção dos enfermeiros sobre os contributos da simulação para a melhoria da performance em RCP. Foi realizada a construção de um instrumento de avaliação de desempenho em compressões torácicas, com base na opinião de nove peritos, segundo a técnica de Delphi, tendo sido obtido um consenso muito elevado para todos os parâmetros de avaliação incluídos. Para avaliação da performance recorreu-se à observação estruturada com auxílio da grelha construída, junto de enfermeiros que desempenham a sua atividade em contexto profissional de Sala de Emergência, sendo avaliado seu desempenho em compressões torácicas antes e após formação contínua com recurso a simulação, com estratégia de feedback. Foi ainda aplicado questionário para conhecer a perceção dos enfermeiros sobre os contributos da simulação para a melhoria da performance em RCP. Após a formação com recurso a simulação, os 16 participantes cumpriram os parâmetros de posicionamento em relação à vítima, ao tórax, posição relativa das mãos e posição das mãos ao nível do tórax. Registou-se ainda um aumento estatisticamente significativo da frequência de realização de compressões a um ritmo adequado [mediana (Md) 67,5% e amplitude interquartil (AIQ) 93% vs.

Md:

95,5% e AIQ: 31%] e da frequência de permissão de descompressão total do tórax (Md: 86,5% e AIQ: 67% vs.

Md:

100% e AIQ: 2%). Não foi observada melhoria significativa da frequência de compressões com profundidade adequada, na nossa perspetiva associada a um bom desempenho neste parâmetro que já se observou na avaliação pré-formação. Os resultados obtidos permitem identificar uma melhoria relevante na execução de compressões torácicas após realização de formação com recurso à simulação. Observamos, com a aplicação do questionário sobre a perceção dos benefícios da simulação, uma satisfação global por parte dos participantes com a formação realizada, bem como com os seus contributos para a melhoria das suas competências técnicas em RCP. Em suma, acreditamos que os resultados deste estudo são reveladores da importância da formação contínua com recurso a simulação para o melhor desempenho em RCP.
According to the American Heart Association in 2020, cardiopulmonary arrest victims do not receive high quality cardiopulmonary resuscitation (CPR) and most do not survive. Performing CPR regarding high standards has implications regarding the probability of cardiopulmonary arrest reversion, leading to improved health care. With the present study, our primary goal was to assess the contribution of continuous education using simulation training in improving the performance of nurses in thoracic compressions during CPR, in an emergency context. Specific goals also included the creation of an evaluation grid to assess the abovementioned performance, using Delphi’s technique, and the identification of nurses’ perception regarding the contribution of simulation training on their performance and their satisfaction with the training method. We were able to build an evaluation form for performance assessment based on the opinion of nine experts and using Delphi’s technique with two rounds. A very high consensus was obtained for every parameter included in the final evaluation grid. Performance was assessed using the abovementioned evaluation form, which was filled out after observing nurses that work in an emergency room executing thoracic compression in both pre- and post-simulation scenarios. Simulation training included feedback on the nurses’ performance. Participants also filled in a questionnaire regarding the subjective perception of the impact of simulation training in CPR technique enhancement. All sixteen participants were able to accomplish the parameters related to positioning in regard to the victim, to the thorax, the position of the hands on the thorax and the relative positioning of the hands in the post-simulation setting. A significant increase with simulation training was observed for the frequency of adequate rhythm [median (Md) 67,5% and interquartile range (IQR) 93% vs.

Md:

95,5% and IQR: 31%] and for allowing a total chest decompression (Md: 86,5% and IQR: 67% vs.

Md:

100% and IQR: 2%) . No significant increase of the frequency of adequate depth of compressions was observed, probably due to a high performance of the participants in the pre-simulation setting. These results are consistent with a relevant improvement in thoracic compression execution after training with simulation techniques. It was also possible to identify a general satisfaction of the participants regarding this type of training, with a positive subjective perception on the impact of simulation training on their clinical competences in CPR. In conclusion, these results highlight the importance of continuous training with simulation to enhance the performance in CPR.