Coping religioso/espiritual e qualidade de vida dos pacientes com câncer hematológico submetidos ao transplante de células-tronco hematopoéticas

Publication year: 2021

Resumo:

O objetivo desta tese foi investigar o impacto do coping religioso/espiritual na qualidade de vida relacionada à saúde dos pacientes adultos com câncer hematológico no quinto ano após a realização do transplante de células-tronco hematopoéticas. Trata-se de um estudo quantitativo, longitudinal, observacional e analítico, realizado em hospital público do sul do Brasil, referência para esta modalidade de tratamento, com 55 participantes adultos, que se submeteram a esta terapia. A coleta de dados ocorreu de setembro de 2013 a janeiro de 2021, com avaliações nas etapas basal (antes de iniciar o condicionamento), pancitopenia, préalta hospitalar (quando se dá a "pega" medular), pós 100 dias, pós 180 dias, pós 360 dias e anualmente até completar cinco anos da realização do procedimento. Os instrumentos utilizados para avaliação foram sociodemográfico e clínico, Quality of life Questionnaire Core 30 e Functional Assessment of Cancer Therapy - Bone Marrow Transplant, ambos traduzidos, adaptados e validados para o português - Brasil, e a escala de coping religioso/espiritual aplicada na última etapa da avaliação. Leucemias foram o diagnóstico mais frequente (65%), assim como o transplante de células-tronco alogênico foi a modalidade predominante (71%). No tocante aos óbitos, a maior causa foi por recidiva da doença (26%) e o maior número ocorreu no primeiro ano (37%). A qualidade de vida global (56,6/100) e geral (90,7/148) apresentou os menores escores na etapa de pancitopenia, com melhores índices no quinto ano, (80,4/100) e (116,1/148), respectivamente. A análise com o modelo linear misto generalizado apontou alterações significativas dos escores de qualidade de vida relacionada à saúde e domínios entre as etapas ao longo do tempo (p<0,05). Quanto ao coping religioso/espiritual, houve média utilização (3,19/5,00), com maior uso do coping religioso/espiritual positivo (3,15/5,00), quando comparado ao coping religioso/espiritual negativo (1,77/5,00), com razão de 0,6. Observou-se associação significativa negativa entre os escores de qualidade de vida relacionada à saúde, domínios e ao coping religioso/espiritual negativo (p<0,05). A tese de que o uso de coping religioso/espiritual positivo leva a melhores índices de qualidade de vida relacionada à saúde não pode ser comprovada, pois não houve associação significativa no teste de correlação. No entanto, quando realizada a análise de correlação entre o uso do coping religioso/espiritual negativo e a qualidade de vida relacionada à saúde, observou-se correlação negativa significativa para a maioria dos domínios de ambos os instrumentos de qualidade de vida relacionada à saúde. Este resultado indica que a utilização de estratégias de enfrentamento negativas como posição negativa frente à religiosidade/espiritualidade está associada a uma pior qualidade de vida relacionada à saúde e domínios no quinto ano, o que comprova parcialmente a hipótese deste estudo. Ademais, as correlações entre os domínios dos dois instrumentos de avaliação da qualidade de vida relacionada à saúde sustentam o modelo teórico utilizado, que infere haver uma interação ativa entre os domínios. O estudo poderá contribuir no reconhecimento da multidimensionalidade do constructo qualidade de vida relacionada à saúde, mostrando ainda que a avaliação do domínio espiritual é necessária para detectar possíveis comprometimentos nesta área.

Abstract:

The current thesis aimed to investigate the impact of religious/spiritual coping on the health-related quality of life of adult patients with blood cancer five years after hematopoietic stem-cell transplantation. This is a quantitative, longitudinal, observational, and analytical study, conducted in a public hospital in southern Brazil, a center for this type of treatment, with 55 adult participants who underwent this therapy. Data collection took place from September 2013 to January 2021, with assessments at baseline (before starting conditioning regimen), pancytopenia, pre-hospital discharge (when the spinal cord "engraftment" takes place), after 100 days, after 180 days, after 360 days, and annually out to five years of the procedure. For the assessment, we used sociodemographic and clinical instruments, the quality-of-life Questionnaire Core 30 and Functional Assessment of Cancer Therapy - Bone Marrow Transplant, both translated, adapted, and validated for Portuguese - Brazil, and the religious/spiritual coping scale applied in the latter evaluation stage. Leukemia was the most frequent diagnosis (65%), and allogeneic stem cell transplantation was the predominant modality (71%). Regarding deaths, the most frequent cause was disease relapse (26%) and the most occurred in the first year (37%). The overall (56.6/100) and general (90.7/148) quality of life had the lowest scores in the pancytopenia stage, with better rates in the fifth year, (80.4/100) and (116.1/148), respectively. The analysis with the generalized mixed linear model showed significant changes in health-related quality of life scores and domains between stages over time (p<0.05). There was an average use of religious/spiritual coping (3.19/5.00), with greater adoption of positive religious/spiritual coping (3.15/5.00), when compared to negative religious/spiritual coping (1.77 /5.00), with a ratio of 0.6. There was a significant negative association between health-related quality of life scores, domains, and negative religious/spiritual coping (p<0.05). The thesis that the adoption of positive religious/spiritual coping leads to better health-related quality of life indexes cannot be proven, as there was no significant association in the correlation test. Yet, when analyzing the correlation between the use of negative religious/spiritual coping and health-related quality of life, a significant negative correlation was observed for most domains of both health-related quality of life instruments. This result suggests that the use of negative coping strategies as a negative attitude towards religiosity/spirituality is associated with a worse quality of life-related to health and domains in the fifth year, which partially validates the hypothesis of this study. Moreover, the correlations between the domains of the two health-related quality of life assessment instruments support the theoretical model adopted, which infers that there is an active interaction between the domains. The study may contribute to the acknowledgment of the multidimensionality of the health-related quality of life construct, also showing that the assessment of the spiritual domain is necessary to detect possible impairments in this area.