Burnout em profissionais de uma unidade de saúde em tempos de pandemia

Publication year: 2021

A Síndrome de Burnout é um problema de saúde pública prejudicial à qualidade de vida e ao trabalho assistencial dos profissionais de unidades de saúde. A pandemia da COVID-19 trouxe novas exigências e um aumento da pressão sobre os sistemas de saúde em todo o mundo e, em particular, sobre os profissionais. Este estudo tem como objetivos, avaliar os níveis de burnout nos Enfermeiros e Assistentes Operacionais (AO) do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC); comparar os níveis de burnout dos enfermeiros e assistentes operacionais; identificar a influência de fatores sociodemográficos e profissionais no burnout em Enfermeiros e Assistentes Operacionais do CHUC. O questionário Copenhagen Burnout Inventory (CBI) validado para português foi enviado, com a colaboração da Direção de Enfermagem do CHUC para todos os profissionais elegíveis. Foi feita a análises descritiva (média e desvio padrão) e inferencial (Coeficiente de Correlação de Pearson, o Teste t-student, Teste ANOVA e Modelos de Regressão Linear) dos dados obtidos através do SPSS versão 25.0 para Windows. A investigação obteve parecer favorável da Comissão de Ética para a Saúde do Centro Hospitalar Universitário Coimbra e da Comissão de Ética da Unidade de Investigação em Ciência da Saúde ? Enfermagem da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra. Foi obtido um total de 453 respostas válidas (230 enfermeiros e 223 assistentes operacionais). Os resultados obtidos mostraram que as dimensões de burnout dos enfermeiros e assistentes operacionais são influenciados pelas características sociodemográficas. Ter no agregado familiar pessoa idosa ou com doença crónica contribuiu significativamente para o Burnout Pessoal (BP) e de Burnout Trabalho (BT) nos assistentes operacionais. Tempo de experiência na função e turnos noturnos tiveram um impacto negativo significativo em todas as dimensões de burnout neste mesmo grupo, enquanto que ter que sair de casa ou passar a viver sozinho/a apenas foi significativo para o BP. Ter conhecimento suficiente sobre o COVID-19 contribuiu significativamente para o BT e Burnout Utente (BU) dos enfermeiros e BP dos AO. O local de trabalho atual, turnos de 12 horas, férias nos últimos meses e ter filhos menores não tiveram impacto em ambos os grupos. Quando comparados ambos os grupos, medo de infeção e clareza nas instruções recebidas foram significativamente superiores nos AO e a sentimento de culpa pela dificuldade em conciliar o papel, as exigências e necessidades profissionais e familiares nos enfermeiros. Os enfermeiros apresentaram globalmente níveis de burnout superiores em todas as dimensões. Quando avaliada cada dimensão individualmente, apenas o BP e BT foram superiores à média e ambos os grupos apresentaram BU inferior à média. Relativamente aos enfermeiros, os principais preditores para as diferentes dimensões de burnout foram: sentimento de culpa pela dificuldade em conciliar o papel, as exigências e necessidades profissionais e familiares nos enfermeiros para o BP (21,1%); sentimento de insegurança no local de trabalho para o BT (18,7%); e sentimento de estigma e discriminação social (18,9%). Por outro lado, quando analisado o grupo dos AO, os principais preditores foram: sentimento de culpa pela dificuldade em conciliar o papel, as exigências e necessidades profissionais e familiares nos enfermeiros para o BP (16,3%) e BU (7,9%); sentimento de insegurança no local de trabalho para o BT (14%). O nosso estudo demonstra que tanto fatores profissionais/local de trabalho como pessoais contribuem para níveis aumentados de burnout tanto em enfermeiros e AO, especialmente durante o contexto pandémico. As instituições devem preconizar de forma regular a vigilância e controlo dos níveis de burnout. Protocolos e instrumentos devem ser desenvolvidos de forma a assegurar que os profissionais de saúde mantêm bons níveis de saúde mental.