A capacidade para o autocuidado do utente em internamento hospitalar: Consequências das precauções baseadas nas vias de transmissão
Publication year: 2021
As Infeções Associadas a Cuidados de Saúde e o aumento da resistência dos microrganismos aos antimicrobianos são, segundo a Direção Geral da Saúde (2017), problemas interligados e com importância crescente à escala mundial. Para fazer frente a este problema foram desenvolvidas ferramentas como as Precauções Básicas de Controlo de Infeção (PBCI). Estas traduzem regras de boa prática que devem ser adotadas por todos os profissionais na prestação de cuidados de saúde, tendo em vista minimizar o risco de infeção e a transmissão cruzada. Segundo o Healthcare Infection Control Practices Advisory Committee (2019) quando surgem situações para as quais as PBCI não são suficientes para bloquear a via de transmissão do agente infecioso recorre-se às Precauções Baseadas nas Vias de Transmissão (PBVT), que se dividem em transmissão por via aérea, por gotículas e de contacto. A aplicação destas PBVT têm, contudo, descritos efeitos adversos como compromisso do domínio emocional, aumento da frequência de eventos adversos, menor contacto com os profissionais de saúde e maior ocorrência de situações de delirium. Na elaboração desta investigação questiona-se a possibilidade destes efeitos adversos das PBVT interferirem na capacidade do individuo de cuidar de si próprio, ou seja no seu autocuidado. Para responder a esta investigação foi desenvolvido um estudo descritivo e correlacional, com uma abordagem quantitativa. Foi utilizado o índice de Barthel para avaliar a capacidade para o autocuidado dos utentes, além de dados para caracterização e uma entrevista semiestruturada complementar. O estudo desenvolveu-se numa enfermaria de medicina interna onde foram incluídos 224 utentes, dos quais 54 estiveram hospitalizados com prescrição de PBVT e os restantes 170 utentes não foram submetidos ás mesmas. Verificou-se que a maior parte dos utentes apresentou idade igual ou superior a 70 anos, um nível de dependência elevado e não foram alvo da prescrição das PBVT. A PBVT mais frequente foi a de contacto e o microrganismo que mais a justificou foi o MRSA. O foco de infeção mais comum foi o pulmonar. Os utentes alvos da prescrição de PBVT apresentaram médias de orientação e autonomia mais baixas. Como resultados, não se verificou correlação entre aplicação das PBVT e menor progressão na capacidade para o autocuidado e estado de orientação.