A percepção das mulheres sobre a violência obstétrica
Publication year: 2022
Em um cenário intervencionista de assistência ao parto e nascimento, a mulher não é a protagonista deste evento, e a consequência deste cenário, que se cria constantemente nas instituições, é a prática de abuso e maus-tratos nas mulheres, que chamamos de violência obstétrica (VO). O presente estudo exploratório e descritivo, onde se combinaram métodos qualitativos e quantitativos na recolha de dados, tem como intuito explorar e discutir o tema da violência obstétrica, na perspectiva das mulheres que tiveram uma experiência de parto. De acordo com as questões de investigação, os objetivos do estudo são: Conhecer a percepção das mulheres sobre a ?violência obstétrica?; identificar que significado as mulheres atribuem ao termo ?violência obstétrica?; conhecer que situações, relacionadas com a gravidez/parto, as mulheres consideram ter sido ?violência obstétrica?; e identificar o nível de aceitabilidade das mulheres perante determinadas situações de ?violência obstétrica?. Recorreu-se a uma amostra não probabilística, através do método de amostragem por redes (?bola de neve?), onde foi partilhado um questionário nas redes sociais. As participantes no estudo foram 626 mulheres que viveram a experiência de uma gravidez/parto nos últimos quatro anos em Portugal. Os dados foram analisados e interpretados, a análise dos dados quantitativos passou pela estatística descritiva e os dados qualitativos foram tratados pela análise de conteúdo. Segundo os dados obtidos 94,9% das mulheres já ouviu falar sobre VO e 53,0% já vivenciou VO, os relatos das vivências do que elas consideram ter sido violência obstétrica, vão de encontro aos atos que caracterizam este tipo de violência institucional. O significado, da violência obstétrica, atribuído pelas mulheres, é expressado de múltiplas formas, categorizadas por temas: Direitos, Comunicação/Interação, Intervenções e Autonomia. Percebe-se que há uma naturalização da violência obstétrica, pelas próprias mulheres, pois o nível de aceitabilidade das participantes sob algumas situações estabelecidas como violência obstétrica, mostrou-se algumas vezes como ?aceitável? e ?normal?. Dar a voz a essas mulheres foi essencial para desvendar a sua percepção sobre a violência obstétrica e desocultar as suas vivências menos positivas, desafiando mudanças na assistência ao parto, a qual deverá ser humanizada e respeitadora dos Direitos Humanos.