Perceção da qualidade de sono, ansiedade, depressão e stress em utentes internados numa unidade de cuidados intensivos

Publication year: 2021

Contextualização:

Os distúrbios do sono são comuns nos utentes internados nas unidades de cuidados intensivos, devido a fatores intrínsecos ou extrínsecos aos mesmos. As caraterísticas destes serviços são hostis, podendo potenciar distúrbios do sono, ansiedade e stress. Embora a evidência aponte a necessidade de esforços para promoção do sono, reduzindo os efeitos adversos da sua ausência, ainda se assiste a atitudes não congruentes com a melhor evidência, resultando em distúrbios do sono.

Finalidade e objetivos:

Com este estudo pretende-se descrer a perceção da qualidade de sono, ansiedade, depressão e stress em utentes internados numa unidade de cuidados intensivos, de forma a possibilitar a elaboração de planos de intervenção, baseados na melhor evidência. Pretende-se também descrever a relação existente entre as variáveis sociodemográficas e clínicas dos utentes internados na unidade de cuidados intensivos, e a perceção do seu sono, ansiedade, depressão e stress; descrever a perceção dos utentes internados nas unidades de cuidados intensivos relativamente à sua qualidade do sono, níveis de ansiedade, depressão e stress; descrever a relação existente entre a perceção da qualidade de sono e os níveis de ansiedade, depressão e stress; e descrever os fatores identificados, pelos participantes do estudo, como perturbadores do seu sono durante o internamento.

Métodos:

trata-se de um estudo quantitativo, descritivo-correlacional, transversal, com recurso a uma amostragem não probabilística consecutiva, onde foi aplicado o instrumento de recolha de dados a todos aquele que tinham mais de 72 horas de internamento na unidade de cuidados intensivos do Hospital de Santo António, Centro Hospitalar e Universitário do Porto. O instrumento de colheita de dados pretendia a caracterização sociodemográfica e clínica dos utentes, a aplicação do Richard Campbell Sleep Questionaire (versão validada para Portugal), do questionário de Avaliação da Ansiedade, Depressão e Stress (EADS-21), assim como identificar fatores capazes de influenciar o sono.

Resultados principais:

Este estudo foi composto por uma amostra de 52 participantes, com uma média de idades de 64 anos, sendo a maioria masculino (61.5%), com uma média de dias de internamento de 6 dias. Aproximadamente 19% tinha antecedentes psiquiátricos. A perceção da qualidade do sono é pior nas mulheres do que no homens, sendo a diferença estatisticamente significativa [t(50) = 2.147, p = 0.037]; a perceção da qualidade do sono é pior nos sujeitos com problemas psiquiátricos, embora a diferença não seja estatisticamente significativa [t(50) = -0.777, p = 0.441]; aqueles com alterações do sono antes do internamento, têm pior perceção do sono. Aqueles com antecedentes psiquiátricos apresentam valores significativamente mais elevados de depressão (7.50 vs 3.26) e stress (9.50 vs 5.80).

Conclusões:

sendo a perceção da qualidade do sono pior nas mulheres, naqueles com problemas psiquiátricos, naqueles com alterações do sono antes do internamento, importa o desenvolvimento de programas de intervenção direcionados a estes grupos. E, estando identificadas algumas caraterísticas que poderão estar relacionadas com distúrbios do sono, importa que esses programas de intervenção sejam capazes de minimizar esses fatores, iniciando-se, o mais precocemente possível, intervenções promotoras do sono.