Qualidade de vida na esquizofrenia: fatores associados

Publication year: 2005

Introdução:

A avaliação da qualidade de vida (QV) emergiu nas últimas décadas como um conceito importante. O impacto das doenças crônicas bem como das intervenções terapêuticas passaram a ser avaliadas em termos de sua influência na QV. A partir da validação de uma escala de QV para o Brasil, este estudo teve como objetivo investigar os fatores associados com a QV em pacientes com diagnóstico de esquizofrenia.

Método:

Foi conduzido um estudo seccional para avaliação da QV de pacientes em tratamento ambulatorial, recrutados de dois Centros de Referência em Saúde Mental de duas cidades em Minas Gerais. A amostra total incluiu 123 pacientes de Divinópolis e 150 de Belo Horizonte. As entrevistas foram conduzidas tendo o próprio paciente como informante.

Foram utilizados os seguintes instrumentos:

escala de qualidade de vida QLS-BR, um questionário contendo informações clínicas e sociodemográficas e a escala Calgary de depressão incluída para o CERSAM de Belo Horizonte. Comparações das características dos pacientes foram feitas por meio do Quiquadrado, teste exato de Fisher ou teste de Mann-Whitney. Foram conduzidas análises multivariadas utilizando regressão logística binária, ordinal e árvore de decisão pelo algoritmo CHAID e CART.

Resultados:

Considerando os pacientes de Divinópolis, baixa QV na escala global esteve associado com ser do sexo masculino e estar solteiro. Associou-se à baixa QV nos domínios específicos: baixa renda e baixa escolaridade, relato do uso de três ou mais medicamentos e ter se apresentado agitado durante a entrevista. Investigações da QV por sexo mostraram diferenças na QV de homens e mulheres, sobretudo no domínio ocupacional, onde mulheres apresentaram melhor QV quando comparadas aos homens. Homens e mulheres solteiros apresentaram baixa QV quando comparados com seus pares casados. Duração maior da doença (> 5 anos) foi o segundo marcador em importância para homens e mulheres, entretanto, no modelo logístico associou-se à baixa QV somente no sexo masculino. Para os pacientes de Belo Horizonte, foi encontrada uma prevalência de 56% de depressão. Pacientes deprimidos apresentaram pior QV na escala global e domínio ocupacional. Em pacientes com pior QV, presença de sintomas da doença, número de medicamentos e ausência de atividades no lar se mostraram associados com a depressão, enquanto para aqueles com melhor QV, apenas duração da doença foi importante.

Conclusão:

As implicações mais importantes desse estudo é que os serviços de saúde devem ser incentivados a identificar estratégias para promover a QV dos pacientes, abordando alguns aspectos específicos levantados nesta investigação, considerando que, manter ou melhorar a QV dos pacientes tem se tornado o principal objetivo da saúde mental

Introduction:

Evaluation of the quality of life (QOL) emerged in the last decades as an important concept. The impact of chronic illnesses as well as therapeutic interventions has been evaluated under the view of QOL. This study aimed to investigate the sociodemographic and clinical variables related to a low QOL in patients with schizophrenia.

Method:

A cross-sectional study was carried out in order to evaluate the QOL in outpatients, attending two Reference Centers for Mental Health Care in two cities located in Minas Gerais State. The sample included 123 outpatients from Divinópolis and 150 from Belo Horizonte City. All patients were interviewed using the QOL-BR scale and a clinical and sociodemographic questionnaire. In one site, a specific scale for depression - the Calgary scale - was also included. Comparisons between patients characteristics had been made using of theQui-square, Fishers or Mann-Whitney test.

Multivariate analyses included:

binary, ordinal logistic regression and decisions tree using CHAID and CART algorithms.

Results:

Considering the patients from Divinópolis, low QOL in the global scale was associated with:being male and single.

The associated factors with low QOL in the specific domains were:

low income, low education level, being under the prescription of three or more psychiatric medications, having demonstrated psychomotor agitation during the interview and beingunder follow-up care. Differences in the QOL for men and women were found, especially in the occupational domain, where women had better QOL than men. Single men and women presented lower QOL than their married pairs. Longer duration of the illness (> 5 years), although significant for both men and women, in the logistic model remained associated only with men. Patients from Belo Horizonte presented a prevalence of 56% of depression. Depressed patients had lower QOL in the global scale and occupational domain. For patients with low QOL, presence of symptoms, number of medicines taken and absence of home activities were associated with depression, while for those with better QOL, only duration of the illness remained associated.

Conclusion:

Improving the QOL of schizophrenic patients has been one of the most important objective in the mental health care. The identification ofspecific aspects pointed out in this investigation may help health services to build up strategies aiming to promote the QOL of their patients.