Publication year: 2021
Introdução:
O ganho de peso ponderal é uma das principais mudanças ocorridas durante o período gestacional e possui implicações diretas sobre a saúde materna e neonatal. Para que tal ganho seja considerado fisiológico, há um intervalo recomendado de ganho de peso para cada trimestre de gestação. O ganho de peso gestacional inadequado, excessivo ou insuficiente, pode se relacionar com desfechos negativos para mãe e criança. A influência de fatores individuais sobre o ganho de peso gestacional, em especial relacionados ao ganho de peso excessivo já está consolidada na literatura. Contudo, fatores ambientais impactam em escolhas alimentares inadequadas e no estilo de vida sedentário e, tanto individualmente quanto em combinação, estes fatores podem favorecer o ganho de peso gestacional inadequado e ter consequentes problemas de saúde materna e neonatal. Objetivo:
Analisar os fatores ambientais associados ao ganho de peso gestacional inadequado. Métodos:
Trata-se de uma revisão sistemática e metanálise e um estudo epidemiológico. A revisão sistemática foi conduzida segundo recomendações da Cochrane Handbook e elaborada conforme as etapas recomendadas pelo Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses. A estratégia de investigação foi realizada nas bases de dados EMBASE, Web of Science, Cinahl, LILACS e MEDLINE (Pubmed). A meta-análise foi realizada usando o programa livre Rstudio (versão 3.4.4) e o pacote “Metaprop”. O estudo epidemiológico refere-se a uma coorte retrospectiva, desenvolvida com dados da coorte de base hospitalar “Nascer em Belo Horizonte: Inquérito sobre o parto e nascimento”, na qual foram entrevistadas puérperas em maternidades públicas e privadas de Belo Horizonte, Minas Gerais (MG). De forma que coleta de dados foi realizada de novembro de 2011 a março de 2013. Foram incluídas variáveis ambientais, além de individuais - socioeconômicas, antropométricas, históricos obstétricos e relacionados ao parto. Para a análise dos dados, foi aplicado o modelo de regressão logística com Estimação de Equações Generalizadas (GEE). Resultados:
Em relação à revisão sistemática, de 3936 referências recuperadas, 11 estudos preencheram a todos os critérios de inclusão. A taxa de ganho de peso gestacional excessivo variou entre 23,2 e 82,4%. Observou-se associação entre viver em bairros com maior índice de pobreza e inadequação no ganho de peso gestacional. A análise conjunta evidenciou que a maior prevalência de mulheres com ganho de peso gestacional excessivo residia em áreas urbanas, porém essa diferença não foi estatisticamente significativa (P: 51%; IC95%: 44,34-57,84). No estudo epidemiológico, a amostra foi composta por 506 gestantes residentes nos municípios de Belo Horizonte e Contagem, MG. Em relação ao índice de massa corporal (IMC) pré-gestacional, 23,52% das mulheres apresentavam obesidade e 11,07% apresentavam sobrepeso. Considerando o ganho de peso gestacional, 59,09% das gestantes tiveram ganho de peso inadequado, sendo que 36,36% apresentaram ganho excessivo e 22,73% apresentaram ganho de peso abaixo do recomendado. Com relação ao ganho de peso excessivo, observou-se associação direta com o número estabelecimentos de venda de produtos alimentícios mistos próximo ao local de residência (p=0,001), IMC pré-gestacional nas categorias de sobrepeso e obesidade (p<0,000 e p<0,000) e setor privado como local predominante de consultas de pré-natal (p=0,018). Conclusão:
O ganho de peso gestacional foi influenciado por fatores individuais e ambientais, e a maioria das gestantes apresentou ganho de peso gestacional insuficiente ou excessivo. O cuidado antes e durante a gestação é, portanto, essencial para evitar inadequações no ganho de peso e consequentes desfechos negativos ao binômio.
Introduction:
Weight gain is one of the main changes that occurred during pregnancy and has direct implications for maternal and newborn health. To be considered physiological, there is a recommended weight gain interval for each trimester of pregnancy. Inadequate gestational weight gain can be related to negative outcomes for mother and child. The influence of individual factors on gestational weight gain, especially related to excessive weight gain, is already consolidated in the literature. However, environmental factors impact on inappropriate food choices and sedentary lifestyle and, both individually and in combination, these factors can favor the gain of inappropriate gestational weight and have consequent maternal and neonatal health problems. Objective:
To analyze the environmental factors associated with inadequate gestational weight gain. Methods:
It is a systematic review and meta-analysis, and it’s also an epidemiological study. The systematic review was conducted according to the recommendations of the Cochrane Handbook and elaborated according to the steps recommended by the Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyzes. The search strategy was carried out in the EMBASE, Web of Science, Cinahl, LILACS and MEDLINE (Pubmed) databases. The meta-analysis was carried out using the free program Rstudio (version 3.4.4) and the package “Metaprop”. The epidemiological study refers to a retrospective cohort, developed with data from the hospital-based cohort “Born in Belo Horizonte: Survey on childbirth and birth”, in which postpartum women were interviewed in public and private maternity hospitals in Belo Horizonte, Minas Gerais (MG). The data collection was carried out from November 2011 to March 2013. Environmental variables were included, in addition to individual variables - socioeconomic, anthropometric, obstetric history and related to childbirth. For data analysis, the logistic regression model with Generalized Equation Estimation (GHG) was applied. Results:
Regarding the systematic review, out of 3936 references retrieved, 11 studies met all the inclusion criteria. The rate of excessive gestational weight gain varied between 23.2 and 82.4%. There was an association between living in neighborhoods with a higher poverty rate and inadequate gestational weight gain. The joint analysis showed that the highest prevalence of women with excessive gestational weight gain resided in urban areas, and this difference was not statistically significant (P: 51%; 95% CI: 44.34-57.84). In the epidemiological study, the sample consisted of 506 pregnant women living in the cities of Belo Horizonte and Contagem (MG). Regarding the pre-gestational body mass index (BMI), 23.52% of women were obese and 11.07% were overweight. Considering gestational weight gain, 59.09% of pregnant women had inadequate weight gain, with 36.36% showing excessive gain and 22.73% showing weight gain below the recommended. Regarding excessive weight gain, a direct association was observed with the number of establishments selling mixed food products close to the place of residence (p = 0.001), pre-gestational BMI in the categories of overweight and obesity (p <0.000 and p < 0.000) and the private sector as the predominant place for prenatal consultations (p = 0.018). Conclusion:
Gestational weight gain was influenced by individual and environmental factors, and most pregnant women had insufficient or excessive gestational weight gain. Care before and during pregnancy is essential to avoid inadequacies in weight gain and consequent negative outcomes to the binomial.