O Processo de Recovery na pessoa com experiência de doença mental

Publication year: 2020

O presente relatório centra-se na pessoa com experiência de doença mental e no seu processo de recovery. A temática subjacente ao relatório surge da necessidade de promover o processo de recuperação pessoal das pessoas com experiência de doença mental. A experiência de doença mental frequentemente conduz a sofrimento, incapacidade na realização de atividades de vida diária, diminuição da capacidade de trabalho e conduz a alterações na capacidade de as pessoas se relacionarem com os outros e com o ambiente. O recovery é o trabalho que o próprio realiza sobre si próprio tendo em vista melhorar a sua capacidade de realização enquanto pessoa. Assim, surge a necessidade de compreender como é que o enfermeiro promove o processo de recovery da pessoa com experiência de doença mental. Para dar resposta a este objetivo geral realizei dois estágios, cada um deles com a duração de nove semanas, um num serviço de internamento de psiquiatria e outro num serviço de psiquiatria na comunidade. Ao longo dos estágios foram aprofundados os conhecimentos acerca do processo de recovery, foram mobilizadas estratégias de intervenção de enfermagem promotoras do processo de recovery e realizada a avaliação das potencialidades das pessoas com experiência de doença mental. Com vista à concretização destes objetivos desenvolvi intervenções psicoterapêuticas individuais e de grupo, realizei e observei entrevistas de ajuda, participei em entrevistas familiares e em visitas domiciliárias. Para avaliação das intervenções utilizei a observação e a comunicação verbal e não verbal com as pessoas. O estágio permitiu perceber que os cuidados centrados sobretudo nos sinais e sintomas da doença e na correção do defeito não promovem o processo de recuperação pessoal. Contudo, o estágio e as diferentes experiências de relação permitiram perceber a importância e as potencialidades da abordagem centrada no cliente e nas suas capacidades, habilidades e forças. A experiência das diferentes relações com pessoas com experiência de doença mental permitiu perceber as potencialidades de uma intervenção que investe nas relações, na aliança terapêutica, na família, na esperança, na inclusão, na vida com propósito e significado, na recuperação do controlo e decisão sobre a própria vida, na tomada de risco positiva e na identidade como partes indissociáveis da pessoa e essenciais ao seu processo de recuperação pessoal. O recovery é um processo individual que é conduzido pelo próprio, e para quem o enfermeiro é um parceiro que ajuda a pessoa a reencontrar-se e a redescobrir-se para uma vida além da experiência de doença mental. Contudo, sem que os enfermeiros e os profissionais de saúde assumam os cuidados centrados na pessoa este trabalho torna-se num processo muito difícil.
This report has it’s focus on the person that experiences mental disease and it’s recovery process. The theme underlying this report borns on the necessity of promoting the recovery process of people experiencing mental illness. Mental illness experience often causes suffering, inability to perform daily life activities, decrease on work capability and leads to changes in the person’s ability to relate with others and with it’s environment. Recovery is the work that one does with himself, aiming to improve it’s ability to perform as a person. Therefore, the need to understand how the nurse promotes the recovery process of the person experiencing mental illness arises. To meet this general objective, two clinical practices were carried out, one in a psychiatric inpatient ward and the other in a psychiatric community service, each lasting nine weeks. Throughout the clinical practices, knowledge about the recovery process was deepened, nursing intervention strategies promoting the recovery process were mobilized and the potentialities of people with mental illness experience were assessed. In order to achieve these goals, I developed individual and group psychoterapeutic interventions, observed and conducted help interviews, and participated in family interviewes and home visits. To assess the intervention’s results, I used observation and verbal and non –verbal communication. This clinical practice allowed the realization that all nursing care centered mainly in disease’s signs and symptoms or in the correction of defect do not promote recovery personal process. However, the same clinical practice plus the different relation experiences allowed the understanding of the importance and potential of the client-centered approach, regarding it’s capabilities, skills and strenghts. The experience of different relations with people experiencing mental ilness allowed the perception of the potential in an intervention that invests in nurse-client relations, therapeutic alliances, family, hope, inclusion, in a life with purpose and meaning, in regaining control and decision about one’s own life, in positive risk taking and in identity, as one’s inseparable parts and essential to one’s personal recovery process. Recovery is an individual process that must be always conducted by the person himself, in wich the nurse is a partner who helps in the rediscovery of himself for a life beyond mental illness experience. However, this work is not feasible if nurses do not assume person-centered care.