Publication year: 2020
Introdução:
Sabe-se que o cenário global de preço dos alimentos contribui para a epidemia de obesidade por meio do incentivo ao consumo de alimentos não saudáveis. No entanto, a real magnitude da influência do preço de alimentos sobre o estado nutricional e o consumo alimentar no Brasil permanece incerta. Objetivos:
Analisar a associação entre o preço dos alimentos, o consumo de bebidas adoçadas e o estado nutricional da população brasileira. Métodos (Manuscrito 1): Estudo em painel envolvendo dados ecológicos de 10 capitais brasileiras e do Distrito Federal para o período entre 2007 e 2018. Dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares de 2008/9 foram usados para calcular o preço dos grupos de alimentos que, acrescidos de dados do Sistema Nacional de Índices de Preços ao Consumidor, resultaram em uma série de preços por cidade para cada um dos anos. A prevalência de indicadores de consumo de bebidas adoçadas em cada cidade, por ano, foi obtida no VIGITEL. A relação entre preço e consumo foi estudada a partir de modelos de regressão de efeito fixo para dados em painel. (Manuscrito 2): Estudo transversal com dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares de 2008/9. Foram utilizadas informações aferidas de peso e altura de todos os indivíduos, assim como de preço dos alimentos adquiridos para consumo domiciliar. Modelos de regressão multivariada (log-log) foram utilizados para estimar a elasticidade-preço da prevalência de excesso de peso e obesidade para toda a população e para dois estratos de renda do país. (Manuscrito 3): A base de dados desenvolvida para o primeiro artigo foi utilizada, assumindo-se como desfecho o IMC médio nas localidades estudadas (com base nas informações autorreferidas de peso e altura disponíveis no VIGITEL). O preço relativo dos alimentos saudáveis (em relação aos ultraprocessados) foi estimado para cada localidade em cada ano. Modelos de regressão de efeito fixo para dados em painel foram estimados para analisar a relação entre o preço dos alimentos e o IMC médio da população. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa envolvendo Seres Humanos da Universidade Federal de Minas Gerais (COEP/UFMG) (CAAE nº 88465018.1.0000.5149). Resultados:
O preço das bebidas adoçadas esteve inversamente associado ao seu consumo. Estimamos que um aumento de 1,00% no preço das bebidas adoçadas diminuiria 1,25% a prevalência do seu consumo regular entre as mulheres e 1,57% entre os homens. Encontrou-se também uma associação inversa entre preço de alimentos ultraprocessados e prevalência de sobrepeso e obesidade no Brasil. Observamos que o aumento de 1,00% no preço dos alimentos ultraprocessados levaria a uma diminuição na prevalência de excesso de peso e obesidade de 0,33% e 0,59%, respectivamente. Para o grupo de menor renda, o efeito do preço dos alimentos ultraprocessados foi maior. Por fim, o preço relativo dos alimentos saudáveis associou-se positivamente ao IMC da população. Observamos que um aumento de 10,0% no preço relativo de alimentos saudáveis (não ultraprocessados) levaria a um aumento de 0,3% no IMC médio (0,4% para mulheres e 0,2% para homens). Conclusões:
Concluímos que existe uma relação entre o preço dos alimentos, o consumo de bebidas adoçadas e a obesidade no Brasil. A adoção de medidas fiscais, como a tributação de alimentos ultraprocessados, desponta como ferramenta proeminente no controle de obesidade e outros resultados negativos para a saúde.
Introduction:
It is known that the global food prices scenario contributes to the obesity
epidemic by encouraging the consumption of unhealthy foods. However, the real
magnitude of the influence of food prices on nutritional status and food consumption in
Brazil remains uncertain. Objective:
To analyze the association between food prices,
consumption of sweetened beverages and nutritional status of the Brazilian population.
Methods (Manuscript 1): Panel study involving ecological data from 10 Brazilian
capitals and the Federal District for the period between 2007 and 2018. Data from the
Household Budget Survey (HBS 2008/9) were used to calculate the price of food groups
that, added data from the National Consumer Price Index System resulted in a series of
prices per city for each year. The prevalence indicators of sweetened beverages
consumption in each city per year were obtained from VIGITEL. The relationship
between price and consumption was studied using fixed-effect regression models for
panel data. (Manuscript 2): Cross-sectional study with data from the Household
Budget Survey (HBS 2008/9). Information on the weight and height of all individuals
was used, as well as the price of food purchased for household consumption.
Multivariate regression models (log-log) were used to estimate the price elasticity of the
prevalence of overweight and obesity for the entire population and for two income strata
in the country. (Manuscript 3): The database developed for the first article was used,
assuming the mean BMI in the studied locations as an outcome (based on self-reported
weight and height information available at VIGITEL). The relative price of healthy
foods (in relation to ultra-processed foods) was estimated for each location in each year.
Fixed-effect regression models for panel data were estimated to analyze the relationship
between the food prices and the mean BMI of the population. The study was approved
by the Research Ethics Committee involving Human Beings at the Federal University of
Minas Gerais (COEP / UFMG) (CAAE nº 88465018.1.0000.5149). Results:
The
sweetened beverages price was inversely associated with their consumption. We
estimate that a 1.00% increase in the sweetened beverages price would decrease 1.25%
the prevalence of sweetened beverages regular consumption among women and 1.57%
among men. An inverse association was also found between the price of ultra-processed
foods and the prevalence of overweight and obesity in Brazil. We observed that the
1.00% increase in the price of ultra-processed foods would lead to a decrease in the
prevalence of overweight and obesity of 0.33% and 0.59%, respectively. For the lower
income group, the effect of the price of ultra-processed foods was greater. Finally, the
relative price of healthy foods (non-ultra-processed foods) was positively associated
with the population's BMI. We observed that a 10.0% increase in the relative price of
non-ultra-processed foods would lead to a 0.3% increase in the average BMI (0.4% for
women and 0.2% for men). Conclusions:
We conclude that there is an association
between the food prices, sweetened beverages consumption and nutritional status in
Brazil. The adoption of fiscal measures, such as the taxation of ultra-processed foods,
emerges as a prominent tool in the control of obesity and other negative health
outcomes